As palavras do presidente americano, Donald Trump, que disse nesta quarta (19) que a hidroxicloroquina pode ter eficácia contra o coronavírus, apesar da falta de evidências científica robustas, fizeram a droga desaparecer das prateleiras de drogarias pelo país.
Portadora de artrite reumatoide e síndrome de Sjögren, a oficial de Justiça Flávia Brasil, de Niterói, região metropolitana do Rio, precisou recorrer a uma farmácia em Maricá, a cerca de 30 quilômetros de sua casa, para comprar a medicação.
Na tarde desta quinta, ela havia tentado encontrar em farmácias próximas de sua residência, mas não teve sucesso. "Pessoas que não necessitam desse medicamento correram para as farmácias e mesmo sem receita, sem prescrição médica, estão conseguindo comprar", afirmou.
"Se a gente fica sem esse medicamento, a gente vai entrar em crise na nossa doença e ficar ainda mais em risco", diz. "Por isso, queria fazer um apelo para as pessoas não comprarem e principalmente para as farmácias não vender se as pessoas não apresentarem receita."
Uma médica de Belém (PA) que tem lúpus e usa o medicamento também não o encontrou nas farmácias da cidade e ouviu de funcionários que pessoas compraram caixas do remédio por causa do coronavírus. Uma amiga dela conseguiu comprá-lo numa cidade a 200 km de distância.
Também há relatos da procura sem sucesso em Teresina e Goiânia.
A reportagem entrou em contato com farmácias da região central de São Paulo e, na maior parte delas, houve grande procura relacionada ao coronavírus e venda de todo estoque. Não é necessário ter receita para comprar o remédio, e as farmácias têm poucas caixas disponíveis por loja.
Maurício Nogueira, virologista e professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, afirma que o uso da cloroquina não significa cura e que o medicamento tem efeitos colaterais. "A população não deve tomar a medicação para prevenir nem usar sem receita médica", diz.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) afirmou que os medicamentos são registrados para o tratamento da artrite, lupus eritematoso, doenças fotossensíveis e malária e que, apesar de promissores, não existem estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos para o tratamento da covid-19.
"Assim, não há recomendação da Anvisa, no momento, para o uso em pacientes infectados ou mesmo como forma de prevenção à contaminação. Ressaltamos que a automedicação pode representar um grave risco à sua saúde."
Pelo Twitter, Arthur Weintraub, assessor especial do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), citou a droga: "Quero compartilhar um estudo. Nada definitivo ainda. Cloroquina (mencionada por Trump) aliada à azitromicina (antibiótico). Vejam os gráficos. Precisa ser confirmado, mas aparentemente há eficácia no tratamento".
Um estudo clínico (em humanos) aberto e não randomizado francês usou a hidroxicloroquina associada a azitromicina em 20 pacientes. Houve redução ou desaparecimento da carga viral nos pacientes doentes.
Mas, por ter sido feito com poucos pacientes, as conclusões do estudo sobre a eficácia da combinação são limitadas. Além disso, segundo Nogueira, a pesquisa não indica a evolução clínica dos doentes.
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