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Recomendação da Saúde sobre uso da cloroquina tende a ser usada contra médicos

Recomendação da Saúde sobre uso da cloroquina tende a ser usada contra médicos

As recomendações de uso da droga lançadas nesta quarta-feira, 20, pelo Ministério da Saúde, no entanto, devem exercer pressão sobre os médicos para a prescrição

Publicado em 20 de maio de 2020 às 15:59

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A cloroquina é um medicamento usado no tratamento da malária
A cloroquina é um medicamento usado no tratamento da malária. (Freepik)

Os especialistas são unânimes: não há evidência científica que embase o uso da cloroquina como tratamento para covid-19; nem nos casos graves e, muito menos, nos estágios iniciais da doença. As recomendações de uso da droga lançadas nesta quarta-feira, 20, pelo Ministério da Saúde, no entanto, devem exercer pressão sobre os médicos para a prescrição.

"Acho que deve gerar uma grande pressão sobre os médicos, não só pela recomendação em si, do governo, mas, sobretudo, pela pressão do público leigo, pacientes e familiares, pela prescrição da droga", avalia o especialista em terapia intensiva Jorge Salluh, do programa de pós-graduação em clínica médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O especialista lembra que, como se trata de uma doença grave e ainda relativamente desconhecida, já há uma pressão natural para se testar diferentes medicações, mesmo sem eficácia comprovada. A recomendação do governo dá mais peso a isso. "Mas esse não é um cenário favorável às melhores escolhas", diz. "No passado, em todas as situações em que isso foi feito, os resultados não foram bons."

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Para Salluh, no entanto, deve haver também um outro tipo de pressão, voltada para o futuro. "Qualquer um que prescrever essa droga hoje, no futuro, pode ser processado por má prática, no meu entender", afirmou. "Porque prescreveu uma droga sobre a qual não há benefícios comprovados e existe um potencial de risco ligado à dosagem."

De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunologia, a escolha da terapia com cloroquina ou hidroxicloroquina, vem na contramão de toda a experiência mundial e científica da pandemia.

"Este posicionamento não apenas carece de evidência científica, além de ser perigoso, pois tomou um aspecto político inesperado", informou em comunicado assinado por 22 especialistas. "Nenhum cientista é contra qualquer tipo de tratamento, somos todos a favor de encontrar o melhor tratamento possível, mas sempre com bases em evidências científicas sólidas "

Recomendação de tratamento para covid-19 publicada na última terça-feira pela Associação de Medicina Intensiva, Sociedade Brasileira de Infectolgia e Sociedade Brasileira de Pneumologia não recomenda o uso da cloroquina. "Sugerimos não utilizar hidroxicloroquina ou cloroquina de rotina no tratamento da Covid-19 (recomendação fraca, nível de evidência baixo). Sugerimos não utilizar a combinação de hidroxicloroquina ou cloroquina e azitromicina de rotina no tratamento da Covid-19 (recomendação fraca, nível de evidência muito baixo)."

"Ou seja, não há evidências para uma recomendação de uso, salvo no contexto de estudos clínicos", concluiu o infectologista Fernando Bozza, da Fiocruz.

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