Sem ter visto o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não se mostrou surpreso com as notícias de declarações controversas de ministros.
Segundo trechos divulgados, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou que, se dependesse dele, colocaria "esses vagabundos todos na cadeia", começando no STF (Supremo Tribunal Federal).
Maia, que participou de uma videoconferência na TV Record poucos minutos após a divulgação de partes do vídeo, foi questionado sobre o teor da gravação.
O deputado disse não ter visto ainda os trechos e que só sabia que tinham sido divulgados. "Mas têm alguns ministros que não precisam de reunião reservada para ser agressivos e nem atacar as instituições", afirmou.
"Isso já se faz há algum tempo, principalmente o ministro da Educação [Weintraub] e o ministro da GSI [Gabinete de Segurança Institucional], general [Augusto] Heleno. São ministros que têm uma mania do enfrentamento, do ataque, até abusivo em alguns momentos em relação às instituições."
Maia defendeu ainda a divulgação dos vídeos, criticada por Bolsonaro e por alguns de seus ministros, entre eles, Heleno.
"Acho que todo mundo quando sofre uma investigação, com mais transparência, geralmente faz críticas, reclama que há um excesso. Mas ninguém olha o passado", ressaltou, lembrando o vazamento de uma conversa entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff em 2016.
O sigilo da gravação foi derrubado pelo ex-juiz Sergio Moro, que foi ministro no governo de Jair Bolsonaro.
"No passado, quando seus adversários foram investigados, que veio a público, por exemplo, no caso das conversas do presidente Lula com a presidente Dilma, eu não vi ninguém do nosso campo, me coloco nesse campo de oposição ao governo da presidente Dilma, criticando a decisão", afirmou.
O deputado rebateu ainda a argumentação usada por apoiadores do governo de que se trataria de uma reunião privada e, por isso, não deveria ser divulgada.
"O governo certamente informou a todos os ministros que era uma reunião gravada. E uma reunião gravada, mesmo reservada, sempre é uma reunião diferente de um bate-papo num bar ou num almoço num restaurante ou na sua casa", afirmou.
"São conversas diferentes, são estilos de conversas, são liturgias que muitas vezes precisam ser respeitadas."
No Congresso, a reação oscilou desde o fortalecimento dos pedidos de impeachment pela oposição até a defesa do vídeo como "verdade" para a República.
Uma das principais aliadas de Bolsonaro, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), escreveu em uma rede social que a gravação "mudará a República".
Já o líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA), avalia que a declaração do presidente mostra que Bolsonaro queria intervir na Polícia Federal.
"Ele (Bolsonaro) deixa claro que queria era intervir na Polícia Federal. Está claro que o presidente não tem condições de se manter presidente. É inaceitável", disse.
Para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a divulgação do vídeo reforça o pedido de impeachment que foi feito pelos partidos de oposição contra o presidente."O caminho está aberto para a aceitação do nosso pedido de impeachment. Se era prova concreta que faltava, ouçam e vejam vocês mesmos."
O senador Humberto Costa (PT-PE) diz que o vídeo é a confissão de um crime. "Bolsonaro confessa o crime. Tentou proteger a família das investigações da Polícia Federal".
Para o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), no trecho em que o presidente fala que quer armar o povo para que "cada um faça, exerça o teu papel", Bolsonaro manifesta a intenção de que quer formar uma milícia.
"Bolsonaro deixou muito claro qual o seu objetivo ao destruir a legislação de controle de armas e munições: quer armar seus seguidores para formar milícias golpistas a serviço do seu governo.
Para o senador Jean Paul Prates (PT-RN), as falas do vídeo mostram que Bolsonaro age com raiva em relação às classes mais pobres.
"Esse vídeo da reunião ministerial mostra como é malignamente baixo o nível de sensibilidade social e ambiental deste governo. E não é pelos palavrões não! É pelos conceitos revanchistas e pela raiva espumosa que destilam em relação aos pobres e às instituições democráticas."
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