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'Vamos continuar', diz Mandetta após Bolsonaro avaliar demiti-lo

"Vamos continuar", diz Mandetta após Bolsonaro avaliar demiti-lo

Ministro da Saúde disse que auxiliares chegaram a esvaziar gavetas, inclusive a dele. Presidente avaliava demiti-lo. Após encontro, segundo ministro, governo "se reposiciona no sentido de ter mais união"

Publicado em 6 de abril de 2020 às 20:41

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Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta durante coletiva de Imprensa no Palácio do Planalto sobre as ações de enfrentamento no combate ao Covid-19
Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta durante coletiva de Imprensa no Palácio do Planalto sobre as ações de enfrentamento no combate ao Covid-19. (Isac Nóbrega/PR)

Após reunião com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e outros ministros, o titular da pasta da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que continua no governo. Nesta segunda-feira (06), o presidente avaliava demitir o subordinado.

"Nós vamos continuar, porque continuando nós vamos enfrentar nosso inimigo, que tem nome e sobrenome: covid-19. Médico não abandona paciente, eu não vou abandonar. Mas as condições para os médicos precisam ser as melhores", afirmou, em pronunciamento à imprensa. Ele não respondeu a perguntas.

"Não temos nenhum receio da crítica. A crítica construtiva enobrece. O que nós temos muita dificuldade é quando em determinadas situações ou impressões, a crítica não vem no sentido de construir, mas trazer dificuldade no ambiente de trabalho", disse Mandetta. Na semana passada, Bolsonaro afirmou que falta humildade ao ministro. No domingo (05) chegou a dizer que poderia usar o poder da caneta contra ministros que viraram "estrelas".

Nesta segunda a temperatura subiu. O texto da exoneração do ministro já estava sendo redigido pelo Planalto, como revelou o jornal O Globo. Mandetta contou que o trabalho rendeu pouco durante o dia no ministério e que auxiliares chegaram a esvaziar gavetas, inclusive a do próprio Mandetta.

Depois, Bolsonaro convocou uma reunião com todos os ministros. Mandetta, que conta com o apoio do Congresso e de militares, compareceu. E saiu dizendo que fica.

"Ciência, disciplina, foco, apesar dos pesares", repetiu o ministro no pronunciamento desta segunda, quanto a medicamentos em teste para o combate à covid-19, como a hidroxicoloquina. A substância é mencionada por Bolsonaro como uma possível cura, mas não há evidências científicas disso por enquanto.

O presidente tem divergido, entre outras coisas, das medidas de isolamento social defendidas por Mandetta para combater a pandemia do coronavírus. 

Bolsonaro adotou um discurso contrário ao fechamento de comércio nos estados, enquanto Mandetta defende que as pessoas fiquem em casa. 

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Vamos tocar em frente, como um velho boiadeiro tocando a boiada, estrada eu sou. Abraço para o meu amigo Almir Sater, lá da minha terra

Luiz Henrique Mandetta
Ministro da Saúde, nesta segunda-feira (06), após se reunir com Bolsonaro
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NÚCLEO MODERADO AGIU

Integrantes do chamado núcleo moderado do governo, que inclui militares, conversaram nesta segunda-feira desde cedo com Bolsonaro na tentativa de demovê-lo da ideia de exonerar Mandetta no curto prazo. Em conversas reservadas, o presidente chegou a dizer que a situação estava insustentável.

Num primeiro momento, a pressão fez efeito. Ministros de fora do Planalto estavam apreensivos com a reunião ministerial convocada por Bolsonaro para o final da tarde desta segunda, com receio de que ele anunciasse a saída do titular da Saúde.

COMO FOI A REUNIÃO

O encontro teve um clima tenso, segundo relatos, mas o presidente não deu sinais de uma exoneração próxima.

Na reunião, Bolsonaro e Mandetta expuseram divergências sobre o uso da cloroquina em casos de coronavírus.

O presidente disse que havia conversado com especialistas que defendiam o uso do remédio em estágio inicial da doença.

O ministro da Saúde, por sua vez, defendeu que não há ainda protocolos seguros sobre o uso do remédio.

Bolsonaro não refutou e ouviu de ministros apelos para que a equipe mantenha a união.

"Eu acho que a coisa vai se ajustando", disse à reportagem o vice-presidente, Hamilton Mourão.

Vice-presidente da República, Hamilton Mourão
Vice-presidente da República, Hamilton Mourão defende as medidas de isolamento apoiadas por Mandetta e governadores. (Isac Nóbrega/PR)

IMPREVISÍVEL

Apesar de não ter dado sinais na reunião de que vai demitir o ministro, aliados de Bolsonaro o consideram imprevisível e por isso buscam alternativas para o cargo. A ideia é encontrar um nome favorável ao uso da hidroxicloroquina.

A ideia inicial de Bolsonaro era exonerar o auxiliar presidencial apenas em junho, de modo a não correr o risco de ser responsabilizado sozinho caso o sistema de saúde entre em colapso durante a pandemia da doença.

Em conversas reservadas nesta segunda-feira, no entanto, o presidente disse que não tinha como manter o auxiliar no cargo. Para Bolsonaro, ele o tem desafiado em declarações públicas e não conta mais com a confiança do presidente.

Sem a presença de Mandetta, o presidente almoçou com os quatro ministros palacianos e com o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS). O parlamentar, cotado para o posto e defensor da hidroxicloroquina e do isolamento vertical, tem ajudado o presidente em uma eventual transição da pasta.

Além deles, também estava presente no encontro a médica Nise Yamaguchi, que defende o uso de hidroxicloroquina para casos de coronavírus em estágio inicial.

MAIA E ALCOLUMBRE

Na semana passada, Bolsonaro estava prestes a demitir Mandetta, mas foi demovido por aliados próximos. Nesta segunda-feira, ele passou a considerar uma exoneração até o final da semana, mas recebeu recados negativos do Poder Legislativo.

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O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já informaram ao Planalto que apoiam a permanência do ministro. O receio da articulação política é de que uma demissão possa estimular retaliações em votações do governo.

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