Na área rural de Muribeca, na Serra, aos pés de uma árvore, Nossa Senhora Rainha das Bençãos apareceu pela primeira vez a um menino de 5 anos. A imagem da santa, conhecida por curar fisicamente e espiritualmente os fiéis por meio de água benta, está em um altar de pedras no sítio São José, onde todos os anos cerca de 10 mil fiéis vão para fazer pedidos e agradecimentos.
A história começou em 2 de junho de 1994, quando Jandinho — filho de caseiros do sítio — contou ter visto uma mulher enquanto brincava. A visão, segundo os relatos, se repetiu durantes meses, ao ponto dos pais contarem para os patrões, Marília e Hamilton Pure. À época, as aparições foram atribuídas à criatividade do menino, mas, aos poucos, a compreensão do que estava acontecendo apareceu para quem convivia com ele.
Marília Hamilton
Aposentada
"Percebi que era uma aparição de Maria, mãe de Jesus, pois tudo que ele falava sobre ela era como amor de uma mãe cativando um filho"
"Ele não tinha medo. Um dia Jandinho foi buscar manga e voltou sem. Ele contou que ela [a santa] tinha pedido e levado aos céus para comer. Ele estava sem receio nenhum”, contou Marília.
Com o passar dos meses, as descrições sobre a mulher também ficaram mais definidas a cada encontro: vestes azul com branco, cabelos longos, manto, por vezes com sandálias, outras sem, e Jandinho cada vez mais apegado aos contatos com a santa.
Um dia, Marília decidiu ir junto ao menino rezar e pediu para que a levasse onde sempre a mulher aparecia. Nada foi visto, mas, durante a prece, um beija-flor apareceu. Os relatos são de que a ave rodou com velocidade em volta de uma árvore algumas vezes antes de ir embora, e a situação passou a se repetir.
Marília Pupe
Aposentada
"Toda vez que aparecia um beija-flor, eu sabia que ela estava chegando. Tenho a impressão que era sempre na segunda Ave Maria do terceiro terço"
As pessoas começaram a frequentar o espaço em reverência à 'nova' santa, crendo ser Maria, enviada para proteger o povo de 'Aroaba'. Esses fiéis são considerados por Marília uma benção, pois sente que cada passo dado por quem pisa no sítio é o cumprir da promessa de Nossa Senhora. Isso porque pouco após adquirir o terreno, a aposentada conta ter recebido uma mensagem de alerta.
O recado chegou alguns meses depois do começo da ‘convivência’ com a santa – que ainda não era nomeada – quando ela começou a aparecer não só para Jandinho, mas também para outras pessoas com uma mensagem não só de fé, mas também de força. Uma delas veio por intermédio da vizinha do terreno quando foi rezar e, no final, chegou até Marília e falou: ‘a mulher’ (Nossa Senhora) disse que teriam provações, mas não venda (o terreno) por nada'.
A previsão logo se confirmou quando encontraram veneno em uma parte de areia no terreno. Isso não deteve a fidelidade, tornando o espaço sempre com a presença de fiéis. Hoje são mais de 10 mil frequentadores anualmente, que frequentam as missas no primeiro sábado de cada mês, com devotos assíduos que vão reverenciar e agradecer à Nossa Senhora da Benção.
Espaço para os fiéis
Com o aumento de visitações, ela decidiu construir um espaço para que os visitantes pudessem ter um espaço onde de maior proximidade com a santa.
Com as descrições das cores vistas por Jandinho, a imagem foi construída e colocada em um altar feito com pedras azuis, em um espaço nomeado como Casa de Oração. As missas então passaram a ser realizadas no local, construído em 2004, e mesmo em dias onde não há a cerimônia, a área é aberta para visitações.
“Quem quiser vir aqui a qualquer dia e hora, mesmo sem missa, pode. É aberto, pois é um local para as pessoas. É onde ela escolheu”, contou a aposentada.
Cura física e espiritual
“O senhor está enviando outra coisa que é para curar o coração dos filhos, físico e espiritual”. Conforme Marília, a promessa é de Nossa Senhora das Bênçãos quando, ao rezar para a santa, perguntou sobre qual seria o nome dela.
“Não sabíamos qual era (o nome). Normalmente são ligados ao local em que ela aparece, mas minhas amigas falaram que eu tinha que perguntar, e questionei. Ela me disse que é Nossa Senhora das Bênçãos e assim que perguntei o motivo ela me deu essa resposta”, conta.
Ainda sem saber se a cura seria somente pela fé ou algum outro meio, o local continuou aberto recebendo quem quisesse conhecer ou participar das missas. Marília também continuou com a missão de cuidar do terreno quando o que ela define como milagre aconteceu: água começou a brotar na terra seca do sítio.
A aposentada se assustou com o acontecimento e pediu para que quem sabia do acontecido não contasse a ninguém. O receio era de que a notícia chegasse de forma distorcida e levasse a entender a "casa" de Nossa Senhora como um local para conseguir ganhos financeiros.
Nossa Senhora Rainha das Bençãos fica em Muribeca
"Foi em um dia que o caseiro começou a cavar e do nada começou a surgir a água. Procuramos para ver se tinha algum poço, mas não, ali é totalmente seco. Aí lembrei de que há um tempo Jandinho falou que Nossa Senhora disse a ele que apareceria água e não duvidei, mas não via como iria acontecer e veio", explicou Marília.
Mesmo com o pedido de restrição, a população do entorno ficou sabendo e começou a procurar pela água que teria sido enviada pela santa.
Junto da fé colocada no líquido, os relatos começaram a chegar: de doenças consideradas incuráveis à resolução de casos arriscados, por exemplo, foram situações que, ao tomarem a água, a cura se concretizou.
Aqueles que não conseguiam se recuperar do problema fisicamente, acabavam sendo tratados espiritualmente. Isso porque junto do consumo da "água santa", as pessoas passavam a buscar mais a Deus através da fé.
"Já aconteceu de pessoas, mesmo com a água, acabarem falecendo, mas familiares vieram até a mim e falaram que foram salvas porque estavam longe da igreja, se reaproximaram e morreram na paz de Deus" informou Marília.
Presença constante
Depois de 30 anos da primeira aparição, a Casa de Oração, como é chamada o local reservado aos fiéis, conta com a imagem de 90 centímetros, feita artesanalmente em Jacaraípe.
Marília conta que após tantos anos, os frequentadores mais assíduos não são mais os moradores de Aroaba ou de outras regiões da área rural de Muribeca. A maioria vem de outras cidades para frequentar as missas no primeiro sábado do mês, além de ajudar na manutenção da Casa de Oração.
"Eu morei aqui durante muitos anos, porém voltei para cidade pelos filhos e netos, mas esse lugar eu nunca vou vender. É um local escolhido", concluiu Marília.
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