Quem já foi a Pedra Azul, em Domingos Martins, região Serrana do Espírito Santo, sabe que o lugar e a paixão estão devidamente correlacionados. Seja pelas belezas naturais ou pelo acolhimento da cidade — com deliciosos cafés e restaurantes e muita programação cultural — tudo esbanja fascínio. Mas existe uma peça nessa mistura encantadora da região que nem todos conhecem: o "Guarda Belo".
Ele é o guardião do Parque Estadual da Pedra Azul, que compreende uma área de 1,3 mil hectares, com rica biodiversidade. É um dos cartões-postais mais visitados em território capixaba. José Bellon — o guarda Belo — trabalha há quase 40 anos no local, e, para cativar as pessoas que visitam o parque, usa de uma curiosa tática: contar "causos". De forma lúdica e engraçada, ele narra alguns 'porquês' dentro do espaço, como a origem do nome Pedra do Lagarto — outra formação rochosa que se destaca ao lado da grande Pedra Azul.
"É uma forma de olharem a natureza com outros olhos. Às vezes, as pessoas estão no ambiente, mas não percebem tudo que há ao redor. As narrativas ajudam os visitantes a ficarem mais observadores. Fui inventando algumas histórias engraçadas, e até aumentando algumas que já contavam por aí. Aprendi a contar os 'causos' porque sentia que as pessoas que visitavam o parque precisavam de desconcentração, de esquecer o estresse do dia a dia. No final, elas se sentem bem", explicou.
Atualmente, Bellon tem mais ou menos, 15 'causos' que deixam os visitantes do Parque da Pedra Azul maravilhados com a experiência. A reportagem de A Gazeta selecionou dois deles para você ficar com gostinho de quero mais e agendar uma visita.
#01 | A ORIGEM DA PEDRA DO LAGARTO
Em um dos 'causos', o guarda Belo conta a origem da Pedra do Lagarto. E o motivo do réptil ter ficado paralisado ali foi devido a um grande susto que levou há mais de 500 milhões de anos. Naquela época, uma onça adulta estava subindo a Pedra Azul e um bebê recém-nascido, estava descendo — o fato pode ser observado atualmente na pedra, onde é possível ver a pegada da onça e do bebê. No entanto, esse era um tempo em que as crianças andavam armadas. E ao se assustar com o animal, o bebê disparou um tiro que fez um barulho tão alto que foi ouvido em vários países do mundo. “Aquilo foi uma tragédia e sabe o que aconteceu? Foi o momento que o lagarto ficou paralisado de susto. Na época, ele estava subindo na pedra, mas ficou travado e ali morreu e petrificou”, conta o guarda florestal.
Após uma briga entre o bebê e a onça — que, por sinal, foi tão violenta que até hoje tem vestígios de sangue na pedra e marcas das garras do animal — a criança teve um final trágico e foi devorada. Revoltado, o pai resolveu se vingar. “E não é que ele conseguiu?! Na época ele veio aqui na Pedra Azul, caçou a onça, comeu ela de raiva e morreu de indigestão”, diz Belo. Hoje em dia, quem vai ao parque e olha para o horizonte consegue ver o corpo do homem deitado e com o rosto virado, pois, ele ficou tão triste com a morte do filho, que não quis mais olhar para a Pedra Azul.
#02 | PELE DE ONÇA
Um outro 'causo' do guarda Belo é de como ele tirou a pele de uma onça e ela permaneceu viva. Nesse dia, ele estava acompanhando uma equipe de biólogos no parque para observar felinos durante à noite. Depois de 40 minutos de caminhada, o guarda se deparou com um clareira que estava sendo iluminada pela lua e, de repente, viu um vulto. "Quando se mexeu e eu vi que era a onça, era um monstro”, enfatizou.
Um dos biólogos disse que a onça estava com os filhotes e, por isso, iria atacar a qualquer momento. Com muita coragem, Belo se aproximou do animal com um canivete e se lembrou do ditado “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Ao passar o canivete no rabo do bicho, o guarda se desequilibrou e apertou o objeto sem querer. Nesse momento, a onça abriu a boca e, tremendo de medo, o canivete caiu da mão do guarda e foi ela quem correu. "E eu dei um susto tão grande nela que ela arrancou com tanta velocidade o couro e foi embora pelada. Eu fiquei com a pele dela na mão. Eu conto essa história e tem gente que não acredita, acha que é mentira, mas é um causo”, brincou.
José Bellon
Guarda do Parque Estadual da Pedra Azul
"Aqui a gente não conta mentiras, a gente conta causos. Sabe qual a diferença da mentira para o causo? A mentira fere, magoa e tem perna curta. E o causo bem contado deixa as pessoas alegres, sorridentes e felizes"
Para o guarda Belo, todos os causos que ele conta têm um objetivo: contemplar as grandes obras e maravilhas de Deus. “Por alguns instantes, eu faço as pessoas olharem a Pedra Azul de um cantinho ao outro, os horizontes e atinjo o meu objetivo. Então a natureza precisa ser admirada, contemplada e cuidar dela é a missão de todos nós”, concluiu.
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