Circuito de Rua de Vitória teve corrida de 1989 até 2007
Circuito de Rua de Vitória teve corrida de 1989 até 2007. Crédito: Chico Guedes

Automobilismo nas ruas de Vitória: nostalgia e esperança de retorno

Fórmula Ford, Fórmula Chevrolet e Copa Clio foram disputadas no circuito de rua da Capital Capixaba, que chegou a ser comparado com o famoso traçado de Monte Carlo, em Mônaco

Tempo de leitura: 6min
Publicado em 03/07/2023 às 15h11

Quem vê o movimento diário de carros na região das avenidas Nossa Senhora dos Navegantes e Américo Buaiz, em Vitória, pode nem imaginar a adrenalina que passava por essas vias nos anos 80 e 90, quando o local ainda era chamado de Aterro da Comdusa.

Em uma época de expansão da cidade de Vitória, os amantes do automobilismo se reuniam para acompanhar uma etapa do extinto Campeonato Brasileiro Fórmula Ford. O circuito de rua da Capital Capixaba chegou a ser comparado com o famoso traçado de Monte Carlo, em Mônaco.

Tratada como uma prova difícil e que não permitia erros dos pilotos, o evento reunia mais de 70 mil apaixonados por automobilismo na Enseada do Suá e na Praia do Canto, ponto de encontro para a competição, realizada de 1989 a 1993, no mês de setembro, como parte das comemorações do aniversário da Capital.

Disputa da Fórmula Ford nas ruas de Vitória

Fórmula Ford no Circuito de Rua de Vitória
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Fórmula Ford no Circuito de Rua de Vitória
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Fórmula Ford no Circuito de Rua de Vitória
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Fórmula Ford no Circuito de Rua de Vitória
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A Gazeta anunciou a chegada do circuito no dia 1º de junho de 1989, e a prova no ES entrou para o calendário anual do automobilismo graças ao incentivo e apoio de Hélio Perini, diretor de competições da Ford, e Julita de Barros, presidente da Federação de Automobilismo do Espírito Santo (Faes), visando a integração do esporte com a sociedade.

Após as tratativas entre os órgãos nacionais e locais, os primeiros roncos de motor foram ouvidos no dia 10 de setembro de 1989, e nomes como Rubinho Barrichello, Allam Khodair e André Ribeiro, mostravam todo o seu talento pelas vias da Capital, em um trajeto de 2.760m, e que os pilotos alcançavam até 180km/h.

Dois dias antes, o circuito fora armado com guardrails, paddock e boxes posicionados ao longo da Avenida Américo Buaiz e das ruas paralelas da Enseada do Suá, promovendo um verdadeiro espetáculo para os moradores que acompanhavam das varandas dos prédios.

Correndo nas ruas de Vitória, o paulista Pedro Paulo Diniz conquistou uma das etapas do circuito nacional e rasgou elogios para o Espírito Santo. "Vitória é importante para a corrida por, pelo menos, dois motivos: o nome da cidade é inspirador e o povo capixaba é um apaixonado pela velocidade", disse o piloto.

A chegada da corrida beneficiou não só o esporte, mas também o turismo e a economia local. Justamente um dos principais objetivos dos mandatários da prova. “Estamos investindo no futuro da cidade, e já nesta corrida, teremos um retorno, através da obtenção de patrocinadores para a prova e a venda dos ingressos para as arquibancadas”, disse, à época, Estevão de Medeiros, então secretário de turismo de Vitória.

A Gazeta noticiou a chegada da Fórmula Ford em junho de 1989
A Gazeta noticiou a chegada da Fórmula Ford em junho de 1989. Crédito: CEDOC / A Gazeta

Espetáculo à parte

Além do show dos pilotos pelas ruas, a organização da prova promovia atrações extras para melhorar a experiência do público. Enquanto os pilotos e equipes faziam ajustes nos carros e treinavam no circuito, restaurantes da região da prova promoviam coquetéis para imprensa, dirigentes de equipes e convidados, além de um concurso para eleger a Garota Fórmula Ford.

No domingo, momentos antes da largada para a corrida, o Esquadrão de Demonstração da Força Aérea Brasileira (FAB) riscava os céus de Vitória com sete aviões ‘Tucano’, com o famoso show da ‘Esquadrilha da Fumaça’.

Além dos aviões da FAB, a Equipe Ford de Paraquedismo se apresentava para o público, enquanto a banda da Polícia Militar e a fanfarra da Marinha garantiam a música.

Matéria veículada por A Gazeta em 11 de setembro de 1989 confirmava a presença de quase 70 mil pessoas na primeira corrida de rua de Vitória
Matéria veículada por A Gazeta em 11 de setembro de 1989. Crédito: CEDOC / A Gazeta

O sucesso da primeira prova garantiu a sequência de disputas nos anos seguintes e apesar de ganhar cada vez mais espectadores, a Fórmula Ford desembarcou na Capital até 1993. Por conta da falta de verbas da Prefeitura de Vitória, e problemas entre a Faes e a Ford, a edição de 1994 foi cancelada.

Acusação daqui, crítica de lá e a Fórmula Ford deixou o Estado, sendo substituída pela Fórmula Chevrolet, que trouxe sua quarta temporada para Vitória em 1995, revelando jovens talentos para o automobilismo e ganhando destaque no cenário nacional.

Assim como a competição promovida pela Ford, a estrutura montada pela Chevrolet não deixava a desejar. A montadora promovia um grande aparato para garantir a segurança de pilotos e também do público. De acordo com Ricardo Carelli, especialista em conteúdo automotivo, o evento de 1995 contou com a participação de 350 policiais, 15 médicos, 150 seguranças, 52 bombeiros e 20 profissionais da equipe de resgate.

A estrutura ainda era composta por arquibancadas montadas para comportar 2.300 pessoas, e foram instaladas 3.200 lâminas de guardrail, 4.500 metros de alambrado e distribuídos 6 mil pneus de proteção ao longo do traçado.

ES foi retirado do calendário do automobilismo diante de críticas e acusações de má gestão entre os responsáveis da prova
ES foi retirado do calendário do automobilismo diante de críticas e acusações de má gestão. Crédito: CEDOC / A Gazeta

O início do fim

Já em 96, Vitória recebeu a 8ª etapa do campeonato, desta vez no mês de outubro. A prova ficou marcada por diversos incidentes, quebras de veículo e batidas, situação constante em circuitos de rua, mas nada que tirasse o ânimo dos pilotos e do público.

No dia 21 de outubro daquele ano, logo após a realização da prova, A Gazeta divulgava a negativa da Prefeitura de Vitória e do Governo do Estado para a construção de um autódromo capixaba, que era desejo de muitos entusiastas da competição.

Novamente, a falta de recursos financeiros barrou o desenvolvimento das obras ligadas ao esporte. Os problemas no trânsito por conta das alterações necessárias para a realização da prova incomodavam o então prefeito Paulo Hartung. “A PMV e o Governo têm outras prioridades. A construção de um autódromo agora está descartada”, explicou o prefeito.

Ao mesmo tempo que explicava sobre a falta de recursos, Hartung valorizava o circuito de rua. “As provas no circuito de rua de Vitória têm mais charme. É a mais bonita do Brasil. Por isso os pilotos adoram correr aqui. Não sei se teríamos essa mesma importância se as provas fossem disputadas num autódromo”, disse Hartung.

Negativa do poder público para a construção do autódromo frustrou os capixabas amantes do automobilismo
Negativa do poder público para a construção do autódromo frustrou os capixabas amantes do automobilismo. Crédito: CEDOC / A Gazeta

Sem circuito de rua e sem uma pista própria, Vitória ficou fora do calendário do automobilismo até 2002, quando o circuito retornou para a programação da festa de aniversário da cidade, desta vez promovido pela montadora francesa Renault.

Com um traçado similar ao da prova promovida pela Ford e pela Chevrolet, a Fórmula Renault Clio agitou a Capital até 2007, quando a última corrida foi realizada no Estado.

Sonho do retorno

O empresário João Gilberto Sartori, conhecido como ‘Betinho Sartori’ no meio automobilístico, é um dos entusiastas do esporte que sonha com o retorno das competições para as ruas de Vitória.

“As provas de automobilismo aqui em Vitória foram um verdadeiro auge para a cidade. Mas tudo foi interrompido por motivo de má gestão. Se não fosse por isso, tudo seria melhor, afinal o circuito de rua é fantástico. Provas como essa exigem muito do piloto e proporcionam muita adrenalina para o público”, lembra Betinho.

Para o empresário, o Espírito Santo era contemplado com diversas vantagens oriundas da realização das provas em Vitória, e um retorno nos dias atuais reforçaria ainda mais a imagem do Estado.

“Eram milhares de pessoas que vinham de diversos locais. Tínhamos públicos de 70 a 100 mil pessoas. Vitória ganhava muito com isso, principalmente pela divulgação da cidade e do Estado. Temos um espaço maravilhoso que sofre com a falta de divulgação para ser ainda mais reconhecido pelo restante do Brasil. Na época das corridas, o turismo ganhava, os hotéis e restaurantes ficavam lotados. O atrativo para a cidade era fantástico”, afirma Betinho.

Copa Clio foi a última competição oficial disputada no Circuito de Rua de Vitória

Copa Clio foi a última competição disputada no Circuito de Rua de Vitória
Copa Clio foi a última competição disputada no Circuito de Rua de Vitória. Gustavo Louzada
Copa Clio foi a última competição disputada no Circuito de Rua de Vitória
Copa Clio foi a última competição disputada no Circuito de Rua de Vitória. Carlos Alberto Silva
Copa Clio foi a última competição disputada no Circuito de Rua de Vitória
Copa Clio foi a última competição disputada no Circuito de Rua de Vitória. Chico Guedes
Copa Clio foi a última competição disputada no Circuito de Rua de Vitória
Copa Clio foi a última competição disputada no Circuito de Rua de Vitória. Edson Chagas
Copa Clio foi a última competição disputada no Circuito de Rua de Vitória
Copa Clio foi a última competição disputada no Circuito de Rua de Vitória
Copa Clio foi a última competição disputada no Circuito de Rua de Vitória
Copa Clio foi a última competição disputada no Circuito de Rua de Vitória

“Seria um sonho o retorno dessas provas para as ruas do Espírito Santo. Mas aqui sofremos com a falta de investimentos, e isso afasta as pessoas. Já o automobilismo aproxima, porque é um esporte de muita gente. Atrai pessoas de todas as classes e que realmente gostam do esporte”, finaliza Betinho.

Com o fim das provas e sem um sinal de que a Capital Capixaba vá retornar para o calendário do automobilismo nacional, o que resta são as lembranças de ruas cheias, dos roncos dos motores e de um Espírito Santo abraçado pelos apaixonados pelo esporte.

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