Muito antes da expressão "mil novecentos e lá vai bolinha", a mobilidade dos capixabas era conduzida pelos nostálgicos bondinhos. E assim por décadas e décadas foi o transporte coletivo. Estamos falando de uma época que nem mesmo a eletricidade tinha chegado direito ao Espírito Santo, no início do século passado.
Os primeiros bondes que percorreram as ruas da Capital capixaba, na década de 1900, funcionavam a partir da tração animal, sendo puxados, geralmente, por burros. No início, tinham capacidade para 25 pessoas e, em alguns trechos mais íngremes do Centro de Vitória, os passageiros tinham que descer e ajudar a empurrá-los.
Depois, vieram os bondinhos sobre trilhos e, nos anos seguintes, com a chegada da eletricidade, os bondes a tração elétrica. Estes passaram a ser mais usados já que eram mais rápidos que os modelos anteriores.

FISCALIZAÇÃO
Cada bonde era capaz de transportar dezenas de passageiros, e, de acordo com registros históricos, pelo menos três pessoas integravam a equipe responsável por um único veículo: um motorneiro, que era responsável pela condução; um condutor, como era chamada a pessoa que cobrava as passagens; e um fiscal, que fazia a contagem daqueles a bordo.

TRANSPORTE PARA CASAMENTOS E ATÉ FUNERAIS
Havia diversos tipos de bondes, que eram diferenciados por linhas, mas também por finalidade. Além de facilitar a vida dos trabalhadores que precisavam se deslocar de um ponto a outro, os bondinhos tinham funções diversas, entre elas transportar mortos da Catedral ao Cemitério de Santo Antônio, na Capital.
Esse modelo especial funcionou até o início da década de 1940, mas também existiam os bondes de casamento e até os exclusivos para transporte de legumes e verduras no comércio.
"BONDE DAS ALMAS"
Havia ainda um bonde para os retardatários, que saía da Praia do Canto, às 2 horas, seguindo até Santo Antônio. Era o chamado “bonde das almas”, que circulava apenas na madrugada e, muitas vezes, consistia na última oportunidade para alguém retornar para casa antes do nascer do sol.

'VOLTINHA' EM BONDE ROUBADO
Outros acontecimentos também marcaram madrugadas daquela época na Capital. Considerados "estripulias dos rapazes das décadas de 1940 e 1950", furtos de bondinhos para 'dar uma voltinha' eram também registrados.
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ACIDENTES NO PERCURSO
Nem tudo eram flores. Ao longo dos anos, foram registrados acidentes como atropelamentos, descarrilamentos e engavetamentos. Houve ainda diversos registros de quedas de passageiros com os bondes em movimento.

CIRCUITO ATÉ VILA VELHA
Além de percorrer as ruas da Capital, os bondes foram adotados em Vila Velha, circulando do Centro do município até Paul. O circuito se interligava, de certo modo, ao de Vitória, sendo que era preciso pegar barcas para atravessar de um município ao outro, a exemplo do que acontece hoje com os ônibus do Transcol e as embarcações do Aquaviário.
Atualmente, o único bonde restante — mas só para admiração — é o de número 42, em exposição permanente na Casa da Memória, localizada na Prainha, em Vila Velha.
O FIM DOS BONDINHOS

Os modelos deixaram de circular por Vitória e Vila Velha até meados da década de 1960, quando foram extintos devido à popularização dos ônibus coletivos. Agora, restam apenas lembranças documentadas em registros históricos.
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