Augusto Ruschi com os 50 casais de beija-flores, pronto para viajar a Londres e levar o presente à rainha Elizabeth II
Augusto Ruschi com os 50 casais de beija-flores, pronto para viajar a Londres e levar o presente à rainha Elizabeth II. Crédito: Acervo da Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi

Capixaba presenteou rainha Elizabeth II com 100 beija-flores vivos

Ideia foi do então embaixador do Brasil na Inglaterra, Assis Chateaubriand, que tinha parceria com o naturalista capixaba no repovoamento da ave no Rio de Janeiro

Tempo de leitura: 4min
Vitória
Publicado em 09/09/2022 às 20h36

Além da visita do agora rei Charles III ao Espírito Santo, em 1991, o Estado teve outra participação na história da Família Real Britânica. Em 1957, o naturalista Augusto Ruschi (1915-1986), considerado “Guardião da Floresta”, presentou a rainha Elizabeth II com 50 casais de beija-flores vivos. Posteriormente, ele foi condecorado pela monarca.

Neto do naturalista, o ambientalista Gabriel Ruschi conta que o avô desenvolveu uma técnica de transporte da ave durante as pesquisas no Espírito Santo. “Ele estudou várias técnicas e equipamentos para transportar beija-flores em longas distâncias, como acondicionamento, indução ao sono e alimentação, nas análises para contar o batimento de asas”, conta o presidente da Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi (EBMAR).

Com essas técnicas, Augusto Ruschi viajou à Inglaterra para presentear a rainha com os beija-flores. A viagem ocorreu em 1957, cinco anos após Elizabeth ter se tornado rainha. Gabriel Ruschi conta que o avô recebeu um livro da monarca sobre a ave, em agradecimento ao presente dado pelo capixaba.

Doutora em História pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), pesquisadora do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) e autora de um livro sobre Ruschi, Alyne dos Santos Gonçalves conta que a ideia de levar as aves para a rainha foi de Assis Chateaubriand, então embaixador do Brasil na Inglaterra, entre 1957 e 1960.

Assis
Chateaubriand, então
embaixador
do Brasil na
Inglaterra,
durante o
plantio de uma
muda de pau-brasil, no parque
do Museu Mello Leitão, em
14 de maio de
1956. Crédito:  AAR, s/c. | Reprodução livro "Augusto Ruschi : notas biográficas"
Assis Chateaubriand, então embaixador do Brasil na Inglaterra, durante o plantio de uma muda de pau-brasil, no parque do Museu Mello Leitão, em 14 de maio de 1956. Crédito:  AAR, s/c. | Reprodução livro "Augusto Ruschi : notas biográficas"

“Chateaubriand desenvolvia um projeto com o Ruschi, a campanha de repovoamento dos beija-flores no Rio de Janeiro. Ele já tinha uma ligação. Era um doador do Museu de Biologia Professor Mello Leitão”, afirma Alyne. O museu criado pelo naturalista fica em Santa Teresa, na região Serrana do Estado, e hoje é sede do INMA.

“Chatô era o embaixador do Brasil na Inglaterra. Partiu dele essa ideia de presentear a rainha, de levar os beija-flores para o Zoológico de Londres. Como Ruschi já tinha essas técnicas de captura, transporte e alimentação, levou as aves para lá”, destaca a pesquisadora. O fato pode ser visto na foto abaixo, que mostra um encarregado do Zoológico de Londres, na recepção dos beija-flores. 

Augusto Ruschi,
seu assistente,
José Duarte dos
Santos, e um
encarregado do Zoológico de Londres, na
recepção dos
50 casais de
beija-flores
doados à rainha
da Inglaterra,
em 1957. Crédito:  Reprodução livro "Augusto Ruschi : notas biográficas"
Augusto Ruschi, seu assistente, José Duarte dos Santos, e um encarregado do Zoológico de Londres, na recepção dos 50 casais de beija-flores doados à rainha da Inglaterra, em 1957. Crédito: Reprodução livro "Augusto Ruschi : notas biográficas"

CONDECORADO PELA RAINHA 

O livro “Ruschi: O Guardião da Floresta” conta a história do naturalista e destaca que, entre os diversos prêmios e honrarias recebidas, como reconhecimento pelo seu trabalho, houve uma condecoração da rainha Elizabeth II. Não há confirmação, no entanto, da data em que a homenagem foi realizada e se ela tem relação com os beija-flores. 

A obra evidencia que uma das estratégias de Augusto Ruschi para cativar e garantir o apoio de personalidades influentes era homenageá-las, colocando o nome delas no batismo de novas espécies de beija-flores e orquídeas.

Essa rede de relacionamentos de Ruschi incluía membros de todo o mundo. No Museu de Biologia Professor Mello Leitão (MBML), onde hoje funciona a sede do Instituto Nacional Mata Atlântica, em Santa Teresa, o "guardião da floresta" recebeu visitas ilustres, como o então vice-presidente da República Augusto Rademaker; a esposa do presidente Ernesto Geisel, Lucy Geisel; além de governadores e socialites, que acabavam se tornando divulgadores do seu trabalho.

De acordo com o livro, a rede de apoiadores de Ruschi ainda incluía nomes como Assis Chateaubriand; o poeta Carlos Drummond de Andrade; o cronista Rubem Braga; o ex-presidente da República Juscelino Kubitscheck; o parasitólogo e pesquisador Lauro Travassos; a antropóloga Heloísa Alberto Torres; e o ornitólogo alemão Helmut Sick.

Augusto Ruschi com os 50 casais de beija-flores, antes de viagem a Londres. Crédito: Acervo da EBMAR
Augusto Ruschi com os 50 casais de beija-flores, antes de viagem a Londres. Crédito: Acervo da EBMAR

UM POUCO MAIS DE AUGUSTO RUSCHI 

Augusto Ruschi nasceu em 12 de dezembro de 1915, em Santa Teresa, na Região Serrana do Espírito Santo, em uma família de origem italiana. Ele era o oitavo dos doze filhos brasileiros do agrimensor Giuseppe Ruschi e da dona de casa Maria Roatti. 

O site da Estação Biologia Marinha que leva o nome do naturalista conta que, ainda menino, Ruschi apresentava muita curiosidade pelas flores que o pai cultivava como hobby na “Chácara Anita”. Começou os estudos em Santa Teresa, no colégio Ítalo Brasileiro, onde diversas vezes foi chamado a atenção nas aulas, devido às brincadeiras com insetos que levava em vidrinhos e caixas de fósforos.

A pesquisadora Alyne dos Santos Gonçalves conta em seu livro que a família Ruschi tinha um bom trânsito na política e Augusto iniciou a vida profissional na administração pública, onde ocupou cargos técnicos. Em 1938, ele foi contratado pelo Estado, na Secretaria de Agricultura, para fazer o levantamento de áreas florestais. No final dos anos 1930, ele já tinha contato com a alta cúpula da administração estadual e fez relações importantes com figuras do Museu Nacional, onde ingressou em 1939. 

Após a Segunda Guerra Mundial, diante da necessidade de intensificar a produção de alimentos, com a utilização de adubos químicos e um controle sobre as pragas, Ruschi passou a observar a morte dos pássaros e insetos após a pulverização com agrotóxicos e outros efeitos provenientes do envenenamento da natureza. 

Augusto Ruschi publicou mais de 450 trabalhos científicos e obras de grande importância, como Aves do Brasil e Beija-Flores do Espírito Santo, livros sobre orquídeas, beija-flores, morcegos, macacos, aves e trabalhos com propostas de solução para problemas ambientais de diversas regiões do país.

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