Na primeira noite em que os filhos do ex-governador Arthur Gerhardt dormiram no Palácio Anchieta, logo após se mudarem com os pais para o prédio, em março de 1971, situações incomuns aconteceram.
"As janelas batiam, as cadeiras de balanço andavam, mexiam sozinhas. A gente ficou em pânico", lembrou Cristina Vellozo Santos, que na época tinha 14 anos.
Cristina conta que pouco antes de irem morar no Palácio, ela e os irmãos haviam recebido um alerta dos filhos do ex-governador Jerônimo Monteiro (1908-1912). "Eles falaram que a gente ia enfrentar alguns fantasmas, porque tinha assombração nos quartos."
Veja o vídeo com as histórias de fantasmas:
As lendas e histórias populares de fantasmas no Palácio Anchieta percorreram décadas. Quem morou no prédio sempre tem uma história para contar. A ex-primeira-dama Maria Antonieta Lindenberg, por exemplo, costumava lembrar que o filho Cariê Lindenberg, fundador da Rede Gazeta, não gostava de dormir sozinho.
Cariê tinha 10 anos quando morou no Palácio Anchieta, durante o primeiro governo do pai dele, Carlos Lindenberg (1947-1951).
"Diziam a ele que, de noite, a alma de Padre Anchieta passava por aqui arrastando as correntes. Ele ouvia isso e ficava com pavor", contou em entrevista exibida pela TV Gazeta em 2008.
Algumas situações realmente davam medo, segundo Arthur Gerhardt Filho, e parecia que havia algo estranho no edifício. Ele se recorda de uma porta de um dos cômodos do Palácio que sempre amanhecia destrancada.
"Eu e Alexandre, meu irmão, dormíamos em um quarto que tinha duas portas, uma dava para frente do banheiro e a outra era para o meio do quarto. Essa que dava para frente do banheiro, a gente trancava por dentro, mas ela amanhecia aberta todo dia. Aquilo era uma coisa sinistra", afirmou.
Demorou um tempo até os irmãos Gerhardt descobrirem que as situações incomuns não se tratavam de fantasmas. Para desvendar os mistérios, eles contaram com a ajuda da mãe, Maria Clementina Vellozo Santos.
A ex-primeira-dama conta que também chegou a ouvir barulhos estranhos, o que a deixou muito intrigada. Como não acreditava em fantasmas, procurou descobrir o que acontecia no prédio.
Maria Clementina Vellozo Santos
Ex-primeira-dama
"Tinha uma cadeira de balanço que balançava sozinha. Eu percebi que isso só acontecia em dia de ventania e vi que as portas do Palácio tinham um vão entre a madeira e o chão. O vento entrava ali e balançava tudo"
"Tinha outra situação que era um barulho nas paredes do banheiro. Um dia, tomando banho, elas começaram a fazer 'tatatata' e parava, 'tatatata', e parava. Saí para verificar o que era. Depois de um tempo, descobri que as colunas que seguravam a porta eram ocas por dentro. O vento entrava ali e misturava tudo, fazendo aquele barulho."
Mas a família Gerhardt não foi a única a conviver com essas histórias. Mesmo quem nunca presenciou algo estranho ouvia falar do fantasma de José de Anchieta.
"Diziam que a assombração dele passava pelos corredores do Palácio à noite, mas nós não ficávamos impressionados com isso não. Só tinha um salão lá, o Salão Negro, que era todo escuro e a gente evitava de entrar, porque a babá dizia que tinha fantasma. Vai ver que ela até falava isso para gente não entrar e fazer confusão", lembrou Christiano Dias Lopes Neto, que morou no Palácio entre os anos de 1967 e 1971, quando o pai Christiano Dias Lopes Filho governou o Espírito Santo.
A ex-deputada Luzia Toledo também conta que nunca acreditou nas histórias. Ela costumava dormir no Palácio nos fins de semana, quando ficava com os pais de criação, Rubens e Helena Rangel, que foram, respectivamente, governador e primeira-dama do Estado entre 1966 e 1967 e moravam no local.
"Eu dormia lá tranquilamente, sem problema nenhum. Mas todo mundo falava: 'Olha, tem um fantasma, José de Anchieta fica aqui'. Se tinha, nunca mexeu comigo não", brincou.
Os episódios também assombravam funcionários do Palácio. A chefe da cozinha Ângela Maria Dantas, que trabalha há mais de 40 anos no prédio, conta que uma vez foi dormir no local, mas ouviu barulhos estranhos e nunca mais passou a noite lá.
Angela Maria Dantas
Chefe de cozinha do Palácio Anchieta
"Era uma andação nessa escada, sobe para lá, sobe para cá. O sino da igreja batia, tocava. A fechadura da porta mexia. Nossa, eu fiquei doida"
A chefe do cerimonial do Palácio Anchieta, Dona Hilda Cabas, trabalha no Palácio há mais de vinte anos e diz nunca ter passado por nenhuma situação. Mas já ouviu diversas histórias sobre o fantasma de Anchieta.
"Eu já tive uma funcionária aqui que morria de medo. Começava a escurecer, se quisesse brigar com ela, era mandar lá dentro, passar pelo corredor. Ela dizia que via o padre andando no corredor, que tinha barulho não sei onde", lembrou.
Se isso é só mais uma história, Hilda Cabas sempre teve curiosidade de descobrir. "Muita gente vê, mas eu nunca vi. Se tem, eu até gostaria de ver, ser apresentada."
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