Nesta terça-feira, 22 de agosto, o município de Colatina, no Noroeste do Estado, sopra as velinhas e completa 102 anos. Carinhosamente conhecida como a “Princesinha do Norte”, a cidade coleciona curiosidades, momentos históricos, reconhecimento, aspectos culinários e culturais, o que comprova que nem só de calor extremo vive (e sente) o colatinense.
Pensando nisso, a reportagem de A Gazeta separou dez fatos curiosos da cidade que nasceu como um porto, no final do século XIX, durante as ações do governo do Espírito Santo para povoar e desenvolver a região centro-norte capixaba, mesmo a quilômetros do mar.
Prazer, Colatina!
Nada mais justo do que falar de Colatina, começando pela origem do nome. Nascida em São Paulo, em 1864, Colatina Soares de Azevedo era neta do Barão de Paranapanema. De uma família tradicional e influente, Colatina era católica, recebeu boa formação acadêmica e cultural, bem acima da média para as mulheres da época.
Ela se casou com o capixaba Muniz Freire em 1882, antes dele se tornar governador do Espírito Santo, entre 1892 e 1896, e, depois, de 1900 a 1904. Juntos, o casal teve dez filhos.
A homenagem veio à Vila de Colatina em 9 de dezembro de 1899, pelo desembargador Afonso Cláudio que, em seu discurso da época, disse: “Esta homenagem à paulista certamente tornará próspera a futura cidade”.
“Princesinha do Norte”
A história de Colatina começa muito antes da emancipação política, em 1921. Até então, a cidade era uma vila subordinada a Linhares. A chegada da estrada de ferro (que mais tarde viria ser a Estrada de Ferro Vitória a Minas), e o desbravamento da margem Norte do Rio Doce, a partir da construção da ponte Florentino Avidos, colocaram Colatina definitivamente no mapa. Em rápida ascensão, o município passou a ocupar posição de destaque no cenário político e econômico do Estado.
Mas a essa altura você provavelmente deve estar se perguntando: por quais motivos Colatina é conhecida como a “Princesinha do Norte”? Uma das principais justificativas é o papel de destaque que a cidade ocupou nas décadas de 1950 e 1960, sobretudo com a produção do café, que fez do município o mais populoso no período - na década de 1950, se tornou, inclusive, o maior produtor mundial de café.
Nos anos 1970, com o início do processo de industrialização, a cidade passou a ser reconhecida como uma das maiores economias do Estado. Hoje, além de “Princesinha do Norte”, Colatina também é conhecida como a "capital capixaba da moda" devido à tradição na indústria de confecções, principalmente no Centro do município, onde estão localizadas dezenas de lojas que atraem moradores das regiões vizinhas, que vão a Colatina fazer compras.
Colatina x Porto Velho (RO)
Testemunhado por muitos colatinenses, um dos episódios mais tristes da cidade foi a enchente de 1979, resultado de mais de um mês de chuvas fortes na cabeceira do Rio Doce. O aguaceiro histórico deixou 74 mortos e mais de 100 mil desabrigados.
Além do desastre natural, a época também era de baixa no café, principal atividade econômica da região. Foi nesse contexto, que um programa de habitação da Amazônia, do então governo militar, surgiu, para muitos moradores, como esperança de reconstrução.
Com a promessa de uma nova vida, muitos colatinenses migraram até Rondônia. O Censo de 1980, do IBGE, registrou 32.765 capixabas que foram morar no Estado do Norte do país. Em 1991, o número saltou para 75.668, atingindo 83.480 no Censo de 2000.
O fluxo foi tão intenso, que até hoje Colatina conta com uma linha direta de ônibus para Porto Velho, capital de Rondônia. Atualmente, a viagem leva 48 horas, mas, na época, chegava a durar uma semana. Em algumas partes do ano, há cinco viagens de ida por semana.
“No rancho fundo”
Considerado um distrito de Colatina no passado, São Domingos do Norte inspirou uma famosa música sertaneja, emblemática na voz de Chitãozinho & Xororó. Foi nas terras até então colatinenses, que Lamartine Babo, compositor popular brasileiro, buscou inspiração para a clássica canção “Rancho Fundo”, composição dele com Ary Barroso.
Depois de se apresentar em um show em Santa Leopoldina, na Região Serrana do Espírito Santo, Lamartine se aventurou em uma localidade conhecida como Rancho Fundo. Por lá, na testemunha dos funcionários que abriram a estrada de São Domingos do Norte a Colatina, ele dedilhou no violão a melodia que encanta o Brasil até hoje.
Cristo Redentor? Temos!
Não é novidade alguma que a estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, é um dos monumentos mais imponentes do mundo. A “Princesinha do Norte” também tem um Cristo para chamar de seu!
Com 35,5 metros de altura, o Cristo colatinense é o mais alto entre as três imagens do Estado (Guaçuí e Mimoso do Sul, no Sul do Espírito Santo, também contam com um monumento). Criada pelo artista capixaba Antônio Francisco Moreira, a obra foi inaugurada em 1975.
O monumento também carrega consigo uma história curiosa. É que a Prefeitura de Colatina, na época, atrasou o pagamento do artista. Três anos depois da obra já pronta, ele retornou ao município para cobrar o seu dinheiro e ameaçou explodir a estátua.
Devacyr Zaché, que havia acabado de assumir a prefeitura, foi obrigado a negociar com Antônio Francisco Moreira. A Câmara de Vereadores aprovou, e a prefeitura teve que dividir o valor da dívida em duas parcelas de 110 mil cruzeiros. O artista só conseguiu receber a última parcela do pagamento em 1980.
A construção do Cristo Redentor de Colatina
Aeroporto? Tem também
O que poucos capixabas provavelmente sabem é que Colatina possui um aeroporto. Inaugurado em 2000, o local conta com uma pista de 1.300 metros de comprimento e 30 metros de largura. O terminal é utilizado para operações de pequenas aeronaves.
Além do aeroporto, Colatina também possui um aeródromo particular localizado na Fazenda XV de Outubro. A área de pouso é feita de grama e tem apenas 400 metros.
Bonecos… Mas não os de Olinda!
Dona Colatina, Zé do Brejo, Filogônio Barbosa, Joãozinho de Deus, Catarina Sete Saias e Delminha do Porrete. Essas figuras icônicas de Colatina ganharam, recentemente, bonecos gigantes, uma antiga tradição da cidade de Olinda, em Pernambuco.
Criados pelo artista plástico Eduardo Guimarães, os bonecões possuem cerca de três metros de altura. Mas quem são esses personagens tão famosos e conhecidos nas ruas da “Princesinha do Norte”?
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01
Dona Colatina
Como o nome já sugere, foi a mulher que deu nome à cidade. Paulista, ela foi casada com o capixaba e ex-governador do Espírito Santo, José de Melo Carvalho Muniz Freire. A homenagem veio à Vila de Colatina, em 9 de dezembro de 1899, pelo desembargador Afonso Cláudio.
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Zé do Brejo
Wilson Benevenuto de Assis, o “Zé do Brejo”, foi um famoso sanfoneiro da região. Seu talento era tão reconhecido, que ele chegou a morar por quatro meses na casa de Luiz Gonzaga. Na época, o “Rei do Baião” declarou “Zé do Brejo” como seu sucessor.
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Joãozinho de Deus
Detestava ser chamado de velho e se dizia “menino”, mas até hoje ninguém sabe a sua idade exata (alguns estimam mais de 80 anos). Sempre de bermuda, andava pelas ruas de Colatina com chicote e estilingue na mão, sacolinha de pano pendurada no pescoço, falava rapidamente e muitas vezes sem nexo, pedindo “Benção, padim. Me ajuda!” e esticando a mão aguardando algum agrado. Assistia a todas as missas na Catedral e não perdia uma cerimônia de casamento, Atualmente, Joãozinho de Deus mora em um asilo.
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Filogônio Barbosa
Foi um pintor, professor, ator e escritor. Colatinense de coração, viveu na cidade por mais de 70 anos, e conquistou notoriedade como pintor, com obras até fora do Brasil.
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Catarina Sete Saias
Foi uma figura muito conhecida entre as décadas de 1960 e 1980, por sempre usar várias saias rodadas de uma só vez, uma sobre a outra. No final do dia, ela tirava a saia debaixo, a primeira que vestia. Sempre andava com caderno e caneta em que dizia rabiscar poemas que jogava nas lojas e nas varandas das casas. Desde então, ninguém teve mais notícias de Catarina.
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Delminha do Porrete
Chamava atenção por estar sempre com um vestido de tecido estampado com flores e sacolinha do mesmo tecido. Durante o dia, ela ficava na rua, pelas calçadas, sempre observando o movimento, mas não gostava de conversar e nem que mexessem com ela.
“Terra do sol poente”
Seja para fazer uma caminhada, pedalar ou passear com o pet, quem passa pelo calçadão da Avenida Beira Rio ao fim do dia provavelmente já teve o privilégio de contemplar uma paisagem encantadora. Estamos falando do pôr do sol da cidade, que pode ser considerado tema de cartão-postal.
Não é à toa que uma eleição feita pelo programa Fantástico, da TV Globo, em 2014, apontou o "cair do sol" de Colatina como o terceiro mais bonito do país.
Antigos moradores do município também contam que uma pesquisa realizada nos anos 1960 por uma famosa revista norte-americana, elegeu o entardecer colatinense como o segundo mais bonito do mundo. Apesar de não haver comprovações dessa história, é fato que o belo pôr do sol - ainda mais com o Rio Doce na composição - segue encantando colatinenses e visitantes.
A pereveca que Ana Maria provou
Você, por acaso, já ouviu falar de um pão de nome curioso chamado “pereveca”? A iguaria que possui formato de rocambole é recheada com banana e cachaça, e veio parar no Espírito Santo com os imigrantes alemães.
Desde então, ela tem sido uma tradição no café da manhã de várias famílias da região do Córrego da Lage, no interior. A fama é tanta, que foi criado um circuito nos distritos de Barbados e Baunilha para receber os turistas que querem conhecer esta delícia.
Mas não pense que a fama da pereveca fica restrita apenas às terras capixabas. O doce já deu o que falar no programa "Mais Você", da TV Globo, apresentado por Ana Maria Braga. Além de experimentar o pão de nome inusitado, a apresentadora também deu boas risadas por conta do duplo sentido da palavra.
“Vou começar bem a sexta-feira. Vou te fazer uma pergunta. Você já provou a pereveca? Quem come disse que jamais esquece, ainda mais se tiver sorte de pegar uma bem quentinha, bem gostosa”, falou Ana Maria em tom divertido.
Nas redes sociais, muitos internautas entraram na brincadeira da apresentadora.
“A caminho das terras do sol poente”
“Minha MUG vai brilhar na imagem mais perfeita. Vou te levar, onde a luz do Sol se deita. A Lua do Leão que ilumina o céu de Colatina”
Se você é carnavalesco pé quente, com certeza deve reconhecer o trecho acima. Com o enredo intitulado “A caminho das terras do sol poente”, a Mocidade Unida da Glória (MUG) fez bonito no Sambão do Povo ao homenagear a “Princesinha do Norte”.
Carnaval 2023: Confira como foi o desfile da MUG
O resultado não poderia ser outro! Os carros grandiosos e as fantasias luxuosas, que faziam referência à história de Colatina - da origem indígena da cidade até o protagonismo na exportação de café, dos polos de confecção e das festas religiosas - deram à escola de Vila Velha o título de campeã do carnaval capixaba 2023.
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