Mochuara e Mestre Álvaro: a lenda do pássaro de fogo
Mochuara e Mestre Álvaro: a lenda do pássaro de fogo. Crédito: Montagem Mikaella Campos / A Gazeta

De amor proibido a criaturas fantásticas: as lendas das pedras capixabas

Pedras e morros do Estado, além de cartões postais, são cercados de histórias que ultrapassam gerações do imaginário capixaba. Confira

Tempo de leitura: 4min

Histórias com paixões, ciúmes, intrigas e conflitos. Tudo isso em um plano de fundo com magia, maldições e criaturas fantásticas. Não, isso não é um novo filme prestes a estrear no cinema, ou uma série que vai começar em algum streaming (pelo menos, não ainda). São as lendas sobre pedras e morros capixabas.

Separamos algumas das fábulas mais populares que passaram de geração em geração no Espírito Santo. Alerta de spoiler: o monte próximo da sua vizinhança pode ter sido palco de uma grande história de amor ou de um conflito épico.

MOCHUARA E MESTRE ÁLVARO:  A LENDA DO PÁSSARO DE FOGO

Segundo a lenda, onde hoje ficam as cidades de Cariacica e Serra, viviam duas tribos rivais: os Temiminós e os Botocudos. O chefe da tribo dos Botocudos teve uma filha lindíssima, esta princesa veio a se apaixonar por um valente guerreiro da tribo rival dos Temiminós.

Dos céus, uma ave fantástica via o sofrimento do casal e seu amor proibido. Decidido a ajudar, o enorme pássaro levava a princesa índia até o encontro de seu amado, mas, mesmo com a ajuda sobrenatural, os jovens foram descobertos.

Monte Mochuara, em Cariacica, visto do Parque da Fonte Grande, em Vitória
Monte Mochuara em Cariacica. Crédito: Fernando Madeira

Irado, o chefe da tribo pediu a um poderoso xamã que fizesse um feitiço para que os amantes jamais se encontrassem de novo. Assim o velho curandeiro implorou tal provisão aos deuses, que prenderam os dois jovens amantes em prisões de pedra. Dessa forma, a princesa transformou-se no monte Mochuara (localizado em Cariacica) e o guerreiro no monte Mestre Álvaro (localizado na Serra), ambos condenados a ficar um de frente para o outro pela eternidade, mas sem se tocar ou falar.

Talvez por arrependimento das tribos ou dos deuses, os espíritos que habitavam as florestas do Mochuara fizeram outro encanto. Uma vez por ano os jovens amantes se libertariam de sua prisão de pedra e o pássaro encantado lhes serviria por mensageiro.

Uma vez por ano, no dia de São João, os jovens voltam à forma humana e trocam juras de amor com a ajuda do pássaro de fogo, que corta os céus como mensageiro do casal.

Vista do Mestre Alvaro, Serra
Vista do Mestre Alvaro, Serra. Crédito: Ricardo Medeiros

Essa lenda é uma das mais famosas do folclore de Cariacica e chegou a ser adaptada no livro Pássaro de Fogo, da escritora cariaciquense Sandra Temistocla. No romance, a autora faz algumas mudanças no conto original, como o nome do protagonista (que é Piatã no livro), adiciona personagens e subtramas.

O LAGARTO GIGANTE DA PEDRA AZUL

A Pedra do Lagarto, que fica na Pedra Azul, em Domingos Martins, desperta a atenção dos visitantes. Várias lendas contam a origem do tal lagarto — e todas elas têm algo em comum: o réptil gigante já foi real e pode voltar à vida a qualquer momento.

No livro A Lenda do Lagarto Azul, o escritor capixaba Jonas Reis conta que o lagarto azul gigante vivia na região, mas tinha medo que o povo da montanha tomasse seu lugar. Esse medo provocou conflitos e ele acabou sendo petrificado por dois garotos aventureiros, para proteger o povo da montanha.

O lagarto, entretanto é uma criatura do bem, por isso os garotos aventureiros e o lendário povo da montanha sabem que ele pode voltar à vida e todos esperam por isso até com alguma ansiedade. O lagarto azul é considerado parte do povo da montanha, um grande irmão ancestral.

Parque Estadual da Pedra Azul. Crédito: Rita Benezath
Parque Estadual da Pedra Azul. Crédito: Rita Benezath

UM AMOR PROIBIDO PELO CELIBATO: O FRADE E A FREIRA

Em Itapemirim, no Sul do Estado, a lenda conta que um frade e uma freira se apaixonaram. Como os dois tinham se comprometido com a fé, não puderam se entregar ao romance. Deus, porém, se compadeceu e decidiu eternizar o sentimento dos dois.

Eles foram transformados em pedra para passarem a eternidade admirando um ao outro. O tamanho do monte seria equivalente ao tamanho do amor do casal.

Diferente de muitos pontos turísticos do Espírito Santo, a trilha para chegar à pedra
O Frade e a Freira: um amor proibido eternizado. Crédito: @sandrosadmartins

SANTO ANTÔNIO CONTRA O DIABO: A PEDRA DE INHANGUETÁ

Em Vitória, a lenda conta que onde hoje fica o bairro Inhanguetá vivia um fazendeiro rico, com medo de ficar pobre, que resolveu recorrer às forças ocultas para proteger seus bens, prometendo a alma do próprio filho ao capeta. A esposa do fazendeiro descobriu o plano do marido e resolveu pedir reforços do céu.

Quando o homem ia entregar o filho ao diabo, Santo Antônio apareceu para impedir que o pacto fosse selado. Com uma cruz no chão, o santo salvou a vida do rapaz e afastou o coisa ruim, que fugiu numa nuvem de enxofre. 

A BATALHA DE CAVENDISH E O PENEDO

Essa não é uma lenda, é uma história real do primeiro século do Brasil colônia. Mas é tão recheada de ação e reviravolta, que parece ter sido tirada de algum filme de piratas. Começa quando o corsário (que era uma espécie de pirata, mas com apoio de algum governo da época) inglês Thomas Cavendish cresceu o olho nas riquezas da capitania do Espírito Santo.

Cavendish recebeu “dicas” de um português, que tinha sido capturado em Cabo Frio e planejou um ataque surpresa. Mas quando tentaram desembarcar na ilha, os corsários é que foram surpreendidos. Com apoio dos índios e populares, as tropas da capitania resistiram e impuseram uma derrota dura aos ingleses. 

ESSAS HISTÓRIAS TÊM UM FUNDO DE VERDADE?

Segundo o historiador Willis de Farias, a maioria dessas histórias são folclores, que nascem da necessidade de explicar e contar histórias. “São lendas e folclores. Foram sendo contadas e aumentadas ao longo do tempo”, disse.

O historiador ressalta que, mesmo não sendo reais, as lendas são importantes para deixar a história dos lugares mais atrativas, sobretudo, para jovens e crianças.

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