Em seus 470 anos, o Palácio Anchieta se tornou, principalmente após ter virado sede do governo no final do século XVIII, um dos principais locais para a recepção de grandes personalidades que passaram pelo Espírito Santo. Do imperador Dom Pedro II ao líder sul-africano Nelson Mandela, o local recebeu boa parte dos presidentes brasileiros, astros da TV brasileira, músicos e ídolos do esporte.
No cardápio, quando havia tempo para o visitante almoçar, quase sempre era a moqueca capixaba o prato principal – hábito hoje instituído no protocolo. Em algumas dessas visitas, principalmente as presidenciais, o Palácio também foi local de hospedagem dos ilustres turistas, embora a partir dos anos 1990, com a reforma da Residência Oficial da Praia da Costa, Vila Velha, as autoridades tenham deixado de escolher o Anchieta para pernoitar.
Entre artistas renomados, já visitaram o Palácio os cantores Roberto Carlos, Wanessa Camargo e Zezé di Camargo; o ator Luiz Fernando Guimarães e a atriz Nicette Bruno, que chegou até a gravar nas salas do Anchieta cenas do filme Helena, o último que filmou antes de morrer em 2020.
Já no esporte, também estiveram pelo local os craques do futebol Richarlison e Zico; a dupla campeã olímpica do vôlei de praia Alison Mamute e Bruno Schmidt; e o técnico da seleção masculina campeã olímpica de vôlei, Bernadinho.
Entre os presidentes da República, passaram pelo Palácio Nilo Peçanha, Getúlio Vargas, João Goulart, Juscelino Kubitschek, Castelo Branco, Costa e Silva, Ernesto Geisel, José Sarney, Collor, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Michel Temer e Jair Bolsonaro, os últimos dois presidentes do país, estiveram no Estado, mas não chegaram a passar pelo Anchieta.
Veja o vídeo sobre os visitantes ilustres que já passaram pelo Palácio Anchieta.
A recepção de uma personalidade no Palácio Anchieta costuma ser cercada de planejamento e muito esforço por parte dos servidores que atuam no cerimonial do Estado, para não deixar que nenhuma gafe ou desconforto ocorra durante as visitas. No entanto, nem sempre é possível impedir que elas aconteçam. Conheça alguns causos destas visitas no prédio histórico fundado em 25 de julho de 1551.
MORTE DURANTE CERIMÔNIA EM HOMENAGEM A VARGAS
Talvez a mais trágica delas tenha ocorrido em 1935, durante uma visita do presidente Getúlio Vargas ao Estado. Foi oferecido a ele um grande banquete, onde pessoas da elite capixaba e autoridades locais puderam ouvir um discurso do presidente. No entanto, durante o jantar, o então diretor da penitenciária do Estado, Ademar Grijó, faleceu após ser acometido de um mal súbito.
Apesar da lembrança triste, Getúlio voltou ao Estado outras vezes, tanto durante a campanha presidencial de 1950, quanto em 1951, já ocupando o cargo.
A "QUASE-GAFE" COM A PRIMEIRA-DAMA
Outro evento, bem menos trágico, mas também curioso ocorreu em 1986, quando José Sarney veio até Vitória junto com a então primeira-dama, Marly Sarney. A chefe do cerimonial do Palácio Anchieta, Hilda Cabas, conta o susto que levou quando uma cadeira em que a primeira-dama estava quebrou, pouco depois do fim da cerimônia.
"Tinha sido um evento agradável com a dona Marly. Foi no governo Camata e a primeira-dama era a Rita, quando Enza (Camata), filha dela, ainda era bebê. Me lembro que dona Marly pegou ela no colo enquanto estava sentada na cadeira, fizeram fotografias e tudo mais. Quando eles foram embora, foram arrumar o salão. Quando um funcionário levantou a cadeira, a perna da cadeira caiu", lembrou Dona Hilda.
Hilda Cabas
Chefe do cerimonial do Palácio Anchieta
"Na hora eu pensei, 'imagina se tivesse acontecido com a primeira-dama?'. Eu fiquei assustadíssima, seria manchete nacional"
ENTRE MANDELA E O PALÁCIO, A ALERGIA
Quem também por pouco não enfrentou apuros no Palácio foi o líder sul-africano Nelson Mandela. Inicialmente, ele ficaria hospedado no Palácio Anchieta ou em um hotel na Praia de Camburi, em Vitória. No entanto, Mandela, que havia passado 27 anos na prisão, tinha se tornado tuberculoso nos anos de cárcere. No final das contas, ele passou apenas alguns minutos no Palácio, em uma rápida homenagem, e se hospedou na Residência Oficial da Praia da Costa.
O secretário de Apoio aos Municípios na época, José Eugênio Vieira, ficou encarregado dos preparativos. Ele conta que o carpete que revestia o Palácio naquele período quase inviabilizou a visita.
"Faltavam três dias para a visita quando o Itamaraty vetou o hotel e o Palácio, porque tinha carpete e não faria bem para o Mandela, que era tuberculoso. O local precisaria comportar também 100 homens que fariam a segurança. A única alternativa que restou foi a Residência Oficial, que naquela época estava abandonada. Foi uma correria danada, mas conseguimos fazer uma reforma em três dias e deixar tudo pronto para receber Mandela. Foi uma visita importante para o Estado, para o povo capixaba, mas quase não aconteceu", revelou.
TUMULTO NA HOMENAGEM AO REI
Naquele mesmo ano de 1992, o entorno do Palácio ficou lotado com o assédio dos fãs do cantor Roberto Carlos. No topo das paradas, como foi em boa parte da sua carreira, o músico cachoeirense veio a Vitória receber a comenda Augusto Ruschi. José Eugênio foi buscá-lo no aeroporto para levá-lo ao Palácio.
A Gazeta registrou, em reportagem no dia seguinte da visita, que foram estimadas mais de 700 pessoas aguardando para falar com o Rei, que foi até uma das sacadas do Palácio para retribuir o carinho e acenar para os fãs. A praça João Clímaco, na lateral do prédio, precisou ser interditada durante a agenda.
José Eugênio Vieira
Ex-secretário estadual
"Foi uma comoção enorme, do aeroporto até o Palácio. Por acaso, o título da homenagem, que ele assinou, foi usando uma caneta que era minha. Como tinha uma amiga que era muito fã dele, dei a ela a caneta de presente depois"
"PRESENTE DE GREGO" DO GALINHO
Anos depois, José Eugênio, desta vez como secretário de Educação, viveu outra cena curiosa no Palácio Anchieta. Ele participou de um almoço com o então governador Paulo Hartung e o ex-jogador do Flamengo Zico, que veio ao Estado apresentar um projeto da escolinha de futebol dele. Após o encontro, Eugênio foi presenteado com uma camisa do Flamengo, autografada pelo craque.
"Fiquei lisonjeado, mas até brinquei com ele que eu sou torcedor do Fluminense, sou tricolor e a camisa era do Flamengo, adversário nosso. Era só brincadeira, foi um encontro agradável, ele é super simpático e muito legal de se conversar. Comemos moqueca naquele dia", recordou-se.
SÉRIE: PALÁCIO ANCHIETA 470 ANOS
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