A Ilha de Trindade – que fica a cerca de 1.200 km da costa do Espírito Santo – é a principal área de desova das tartarugas-verdes (Chelonia mydas) em todo o país, ficando na frente de Atol das Rocas (RN) e até de Fernando de Noronha (PE). É nesse berço capixaba que nascem, em média, 270 mil tartaruguinhas por ano.
Analista ambiental do Centro Tamar, a veterinária Cecília Baptistotte afirma que a posição de destaque é assegurada de longe. Enquanto no arquipélago capixaba são registrados aproximadamente 3 mil ninhos por temporada, esse número não costuma passar de 500 nas outras duas concorrentes oceânicas.
O que não se sabe ao certo é o que causou essa liderança. "Ser uma área protegida e isolada pode ter contribuído para aumentar a população, pela ausência de predação. Além de estar no cinturão tropical do mundo e ter praias com areia, condições necessárias para a incubação dos ovos", esclarece.
O período de desova da tartaruga-verde é uma das particularidades da espécie. Diferentemente das demais, ele começa em dezembro, com pico nos meses de janeiro e fevereiro, e se estende até maio – justamente quando há uma maior concentração do nascimento dos filhotes.
"Em períodos mais chuvosos e com tempo mais ameno, a incubação dos ninhos é mais longa. Já quando as temperaturas são mais elevadas e não há precipitação, os filhotes nascem mais rápido. De uma maneira geral, o período de incubação costuma variar entre 45 e 60 dias", explica.
120 ovos por temporada
É a média que cada fêmea de tartaruga-verde coloca. Deles, entre 70% e 80% resultam em filhotinhos
Outro processo que a temperatura afeta é a determinação do sexo da nova tartaruguinha. "Quando está em torno de 29°C, nasce metade macho e metade fêmea, aproximadamente. Abaixo disso, nascem mais machos. Já acima, nascem mais fêmeas, como é o caso no Espírito Santo", revela Cecília.
Segunda maior espécie de tartaruga – menor apenas que a gigante, que tem o Espírito Santo como único ponto regular de desova do país –, a Chelonia mydas pode medir até 1,40 metro de casco e costuma pesar em torno de 180 kg, sendo a mais comum de ser avistada no litoral capixaba.
Cecília Baptistotte
Veterinária e analista ambiental do Centro Tamar
"Se você estiver em um píer ou na Baía de Vitória e ver uma tartaruga subindo para respirar, provavelmente vai ser a Chelonia mydas. Elas estão ao longo de toda a costa brasileira"
Essa fácil visualização acontece porque elas migram para águas mais rasas atrás de comida, ao se tornarem herbívoras na fase juvenil. "Essa é a única espécie que passa por mudança de dieta. Ela nasce onívora e muda o modelo de alimentação quando atinge cerca de 30 cm de casco", revela a especialista.
Por viver boa parte da vida mais perto da costa, é também uma das espécies que mais sofre com ameaças relacionadas à atividade humana, como pesca e poluentes, incluindo esgoto e plástico. É por causa disso que, às vezes, as tartarugas-verdes apresentem uma doença chamada Fibropapilomatose.
"É como se fossem verrugas. Apesar de serem benignas, elas podem ficar no olho, impedindo a visão, ou atrapalhar a natação, quando nas nadadeiras. Em alguns casos pode levar a tartaruga à morte", comentou Cecília, que também afirmou que a população de Chelonia mydas segue estável nos últimos anos.
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