Há quem diga que história de pescador é aquele relato exagerado ou até mesmo mentiroso. No Espírito Santo, o que vem do mar é notícia boa e até mesmo um título mundial. O Estado ocupa parte importante no mapa de pesca de peixes gigantes. Na última segunda-feira (6), um peixe meca, de 328 kg, foi pescado em Guarapari. O feito foi motivo de comemoração na cidade e traz à memória uma história semelhante, também ocorrida no Espírito Santo, há quase 33 anos.
O ano de 1992 foi histórico para os capixabas, sobretudo aos interessados e envolvidos na atividade de pesca em alto-mar. No dia 29 de fevereiro daquele ano, o maior marlim-azul do mundo foi pescado em águas capixabas. Apesar das diferenças entre as duas espécies pescadas, as conquistas de 1992 e de 2025 ficaram marcadas na memória dos capixabas, gerando curiosidade, considerando a dificuldade da pesca e o tamanho dos animais.
328,6 kg
O peso do peixe meca pescado em Guarapari em 2025
Em Guarapari, um grupo de pescadores se mobilizou para pescar o meca e levá-lo para terra firme. Vídeos mostram que um guindaste foi necessário para tirar o peixe de 328 kg da embarcação. De acordo com um dos integrantes da aventura em Guarapari, o exemplar foi pescado a aproximadamente 45 km da costa, ou seja, bem distante da cidade. Após a pesca, o peixe foi levado para o píer de Guarapari, no Centro da cidade.
Igor Dorea, que é cirurgião-dentista e estava na embarcação, contou ao g1 que integra uma equipe numa competição nacional. A pesca do meca, então, significou uma grande pontuação.
Igor Dorea
Cirurgião dentista e pescador
"Saímos cedo de Vitória e pouco mais de uma hora já avistamos ele. O difícil foi conseguir colocá-lo em cima da lancha. Por ser muito pesado, foram mais de quatro horas para conseguir tirá-lo do mar. Foram momentos de muita tensão, um trabalho em equipe. Sem todo mundo ajudando, a gente não ia conseguir"
O último meca pescado na competição nacional, segundo o dentista, pesava 282 quilos. O peixe pescado em Guarapari tinha aproximadamente quatro metros de extensão. A carne dele é conhecida como "picanha do mar" e foi distribuída após os registros fotográficos e a pesagem.
Peixe de 328 kg foi pescado em Guarapari
Se o assunto é o peso dos peixes pescados, o Espírito Santo tem destaque há muito tempo. Em 1992, o maior marlim-azul já fisgado no mundo pesava mais de 600 quilos e media 4,62 metros. Em 2015, a espécie passou a ser considerada peixe-símbolo do Espírito Santo.
636 kg
O peso do marlim-azul pescado em Guarapari em 1992
A pesca impressionante realizada há mais de três décadas está longe de ser considerada história de pescador. Há, inclusive, registro oficial do recorde batido com a pesca do marlim-azul.
O documento mostra que a International Game Fish Association certificou Paulo Roberto Almeida Amorim pela pesca do peixe mais pesado na categoria.
Em 2019, o repórter de A Gazeta Murilo Cuzzuol conversou com o filho de Paulo Roberto, autor do feito histórico. O pai faleceu em 2006, mas a história continua sendo contada ao longo das gerações. O empresário Raphael Amorim, filho do pescador, lembra com carinho do feito.
Raphael Amorim
Empresário e filho de Paulo Roberto
"Eu tenho muito orgulho desse feito conseguido por meu pai. Cresci ouvindo ele dizer como foi aquele dia, da luta de horas com o peixe, o cansaço pelo corpo, o susto ao ver o tamanho do animal fisgado. No mundo da pesca, onde meu pai ia, ele era reconhecido e exaltado. Ter essa conquista ainda com minha família é algo especial"
Considerando o tamanho e o peso, o peixe precisou ser rebocado, ficando apenas com o bico apoiado na embarcação batizada de "Duda Mares". Após mais de quatro horas de navegação lenta, Paulo Roberto atracou no píer. O trabalho de pesca e transporte fez jus à ideia de um trabalho coletivo: Paulo contou com a ajuda de 28 homens para retirar o animal da água.
Impactados pela imponência do peixe, as pessoas que estavam no dia da captura trataram de agilizar a documentação para validar o recorde. A aferição foi realizada por Otacílio Coser Filho, na época o representante da IGFA em Vitória. Após ter as barbatanas, bico e cauda enviadas para os Estados Unidos, onde foi confeccionada uma réplica, outras partes do animal foram doadas para entidades filantrópicas de Vitória.
Dificilmente o feito de Paulo Roberto Amorim será batido. Muito por conta da diminuição da quantidade de marlins existentes, como explica Raphael Amorim. Atualmente, a pesca do marlim-azul é proibida.
"Felizmente, hoje o marlim está protegido e a captura dessa espécie está proibida em todo a costa do território brasileiro. Com o passar das gerações, percebeu-se que não havia a necessidade de tirar a vida do animal, mas naquela época não existia essa consciência coletiva", disse o empresário do ramo logístico.
Em dezembro de 2006, o jornal A Gazeta noticiou a morte de Paulo Amorim. O recordista faleceu aos 55 anos em um hospital de Vitória após 67 dias internado em decorrência de um acidente na Rodovia do Sol, em Vila Velha.
A cidade de Guarapari, inclusive, tem um monumento turístico na Praia do Morro que faz referência à espécie. O local é muito visitado pelos turistas para registrar o passeio na Cidade Saúde. A estátua foi criado pelo artista plástico Juliano Fillippi em 1998 para homenagear o feito histórico do empresário Paulo Amorim.
O comodoro do Iate Clube, Fabiano Pereira, ressalta que houve uma mudança no comportamento dos pescadores. Atualmente, a pesca esportiva preconiza que a maioria dos peixes pescados seja liberado de volta ao mar, sem ferimentos que impeçam a continuidade da vida do animal. Ele afirma que o Espírito Santo é tratado como referência na pesca em todo o Brasil.
"Vitória é a capital mundial da pesca. E o Iate Clube, com 79 anos de existência, mantém a tradição da pesca, que é esportiva, não predatória. A gente cuida do mar, se preocupa com a pesca e incentiva. Atualmente, vários Estados vêm pescar no Espírito Santo, como Rio de Janeiro e Bahia", explica.
Do marlim-azul ao meca, o Espírito Santo é referência na pesca em alto-mar. As duas histórias, separadas por mais de 30 anos, mostram que o Estado é mesmo um local privilegiado pela natureza. Não é por acaso é conhecido como a "capital mundial" dos peixes da espécie. O Estado também é detentor do maior exemplar já fisgado de marlim-branco, com um animal de 82,5 quilos, pescado em dezembro de 1979.
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