Era madrugada do dia 2 de maio de 1974, quando o fazendeiro César Minelli ouviu gritos de socorro vindos do alto de um morro na propriedade localizada em Catuá, distrito de Baunilha, em Colatina, na região Noroeste do Espírito Santo.
Horas depois, já ao amanhecer, o homem que emitiu os gritos desesperados apareceu cambaleando no curral da fazenda, sujo de lama e com espinhos pelo corpo.
Trajando um paletó e bastante apavorado, ele se identificou como Onilson Páttero, um vendedor de livros de 42 anos, natural da cidade de Catanduva, em São Paulo. Desesperado e nervoso, o homem afirmava ao fazendeiro ter sido deixado no alto daquele morro por um disco voador.
Cinquenta anos depois, o sequestro sideral de Onilson Páttero é considerado pelos ufólogos como um dos episódios de abdução mais famosos do Brasil. À época, o caso chegou a ser noticiado nas páginas de jornais do país e do exterior, e investigado pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), da Ditadura Militar.
Capturado por um raio luminoso
A abdução de Onilson Páttero ocorreu no dia 26 de abril de 1974, quando retornava para casa, na estrada que liga o município de Osvaldo Cruz até Catanduva, no interior paulistano. Em reportagem especial para relembrar os 30 anos do caso, o vendedor de livros relatou ao jornal A Gazeta, em novembro de 2004, os detalhes daquela noite.
Onilson Páttero
Entrevista ao jornal A Gazeta | 28/11/2004
"Eram 23h30 quando meu carro foi interceptado por um feixe de luz. Fui obrigado a parar no acostamento próximo à localidade de Guarantã"
Ele comentou que tentou fugir, mas disse ter sido capturado pelo raio luminoso e levado para uma nave, onde permaneceu por seis dias, até ser deixado no topo de um morro na propriedade do fazendeiro César Minelli.
Segundo a filha de Onilson, Samária Páttero, naquele 26 de abril, o pai saiu para viajar, como sempre fazia. À época, com apenas 13 anos, Samária relembrou que voltava da escola quando viu o vendedor saindo com o fusca azul da família. Ela acenou para o pai, que virou a esquina de uma rua. Depois daquele dia, Onilson só seria encontrado no dia 2 de maio, a quilômetros de distância de onde disse ter sido abduzido.
“Minha mãe, eu e minha irmã ficamos esperando por ele até tarde da noite. Estávamos preocupadas. Apenas dois dias depois, a polícia nos procurou para dizer que tinham achado o carro dele parado em um acostamento perto de uma fazendo na cidade de Guarantã. O carro estava todo aberto, com todos os documentos e objetos pessoais dele”, contou Samária à reportagem de A Gazeta.
Seis dias após o desaparecimento de Onilson, a família recebeu uma ligação da polícia de Catanduva, informando que o vendedor de livros havia sido encontrado em Colatina, no Noroeste capixaba.
“No dia seguinte, imediatamente, meus tios saíram de carro para ir de encontro ao meu pai em Colatina”, disse Samária.
Antes de retornar para São Paulo, Onilson esteve mais uma vez no topo do morro onde disse ter sido deixado pelos extraterrestres. Lá, ele registrou as iniciais de seu nome “OP” em uma pedra.
Duas vezes sequestrado por um disco voador
O episódio de abril de 1974 não teria sido a primeira aventura espacial de Onilson. Um ano antes, o vendedor de livros relatou à imprensa que já havia sido sequestrado por seres extraterrestres em maio de 1973, quando viajava de Itajobi para Catanduva, também em São Paulo.
Aquele primeiro sequestro, no entanto, não durou por muito tempo e Onilson foi deixado pelos tripulantes do disco voador no asfalto.
Onilson Páttero
Entrevista ao jornal A Gazeta | 03/05/1974
"Foi no dia 21 de maio do ano passado. No entanto, o forte calor do aparelho fez com que eu desmaiasse e os tripulantes me deixaram estendidos no asfalto. Fui salvo por uma guarnição da Patrulha Rodoviária Federal, que me levou para um hospital, onde, internado, fui submetido a uma série de exames"
Investigação do Dops
O “Caso Páttero”, como ficou conhecido, teve grande repercussão na mídia nacional e internacional. Por conta disso, o sequestro de Onilson chegou aos investigadores do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), da Ditadura Militar, que solicitaram uma análise dos relatos do vendedor de livros a dois pioneiros da ufologia no Brasil, Max Berezovsky e Willi Wirtz, à época integrantes da Associação Brasileira de Estudos das Civilizações Extraterrestres.
A história foi noticiado no jornal Folha de S.Paulo, em maio de 1997. Berezovsky considerou verdadeiro o primeiro contato que o vendedor de livros teve com os extraterrestres, em 1973. No entanto, viu sinais de que o segundo encontro “fora inventado”, como noticiou o Folha de S.Paulo.
Wirtz, por sua vez, concluiu que as duas histórias contadas por Onilson eram “completamente inconsistentes, com muitos pormenores que lembram filmes de televisão, principalmente da série ‘Os Invasores’”, complementou o jornal.
Além das investigações do Regime Militar, Páttero foi examinado e submetido, à época, a testes e sessões de hipnose regressiva. Em anos de estudo, os médicos nunca apontaram sintomas de debilidade mental no vendedor.
O desejo de retornar a Colatina
Em entrevista ao jornal A Gazeta em novembro de 2004, ano em que o “Caso Páttero” completou 30 anos, o vendedor de livros expressou a vontade em retornar a Colatina, onde apareceu, de forma misteriosa, no topo de um morro na propriedade do Seu César Minelli. Mas Onilson não teve tempo de realizar o sonho. Ele faleceu em agosto de 2008, aos 75 anos, em Catanduva (SP).
No intuito de realizar a vontade do pai e reviver o caso, Samária teve a ideia de vir a cidade onde Onilson disse ter sido deixado por um disco voador. Dessa forma, em setembro de 2023, ela, junto do marido, saiu de São José do Rio Preto, cidade onde reside em São Paulo, e desembarcou em Colatina para visitar a propriedade. O encontro foi organizado pelo jornalista Nilo Tardin.
“Encontramos com uma parte da família do Seu César Minelli. Lá, o neto dele nos levou até a montanha onde o meu pai foi deixado. Foi muito emocionante para mim saber que ele foi deixado naquele local íngreme, à noite, com muito mato ao redor. Acredito que tenha sido bem desesperador para ele”, disse Samária.
“Caso Páttero” vai virar livro
Em comemoração aos 50 anos do sequestro sideral de Onilson Páttero, o jornalista Manoel Moreira, que já havia elaborado uma reportagem especial sobre os 40 anos do acontecimento, lançará um livro com registros do caso. Segundo o jornalista, o livro foi elaborado a partir de pesquisas de campo e entrevistas em Colatina e São Paulo, com atores que tiveram relações diretas com Onilson naquela época.
“O caso sempre despertou em mim a convicção de muitas verdades presentes na história contada por ele [Onilson], mas que não alcançaram o conhecimento público na época. Por falta de fidedignas informações, o episódio sempre permaneceu imerso nas fronteiras do imaginário popular, mas desde quando elaborei uma reportagem em memória aos 40 anos do acontecimento, passei a receber inúmeras solicitações de pessoas ávidas por obter um conhecimento mais profundo sobre o caso, o que me inspirou a escrever o livro”, disse Manoel, em entrevista à reportagem de A Gazeta.
De acordo com o jornalista, o livro está em fase final de elaboração.
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