Dono de uma carreira brilhante, Maurício Kubrusly percorreu mais de 400 mil km ao redor do Brasil. Não à toa, o repórter, que trabalhou muitas décadas no Fantástico, da TV Globo, é conhecido como o jornalista que mais conhece o país. Foram quase 300 reportagens no quadro "Me Leva Brasil", que ficou 17 anos no ar. Ao menos duas produções colocaram o Espírito Santo como protagonista. Do 'Pipino inventor' à cultura do Congo, A Gazeta relembra as visitas dele ao Estado. Além da contação de histórias em rede nacional, ele também esteve em terras capixabas para palestrar para empresários e dirigentes da antiga Companhia Siderúrgica de Tubarão, a CST.
Aos 79 anos, Maurício Kubrusly vive na Bahia, ao lado da esposa, Beatriz Goulart. Ele recebeu o diagnóstico de demência frontotemporal, condição degenerativa que altera a linguagem, a memória e o comportamento. O documentário "Kubrusly - Mistério Sempre Há de Pintar por Aí" retrata a vida do jornalista, em uma produção especial do Globoplay. O material mostra a rotina de um dos jornalistas mais brilhantes do país.
Apesar do sobrenome difícil, o carisma sempre aproximou Maurício aproximou dos brasileiros. Nascido no Rio de Janeiro em 1945, Kubrusly foi para São Paulo trabalhar em rádio, escrever sobre música e tornar-se uma referência na televisão. Em 1978, ele deixou o Jornal da Tarde para editar a primeira revista brasileira de áudio e música. A publicação durou dez anos. A entrada na Globo aconteceu no final dos anos 1970. O "Me Leva Brasil", quadro do Fantástico, esteve em todos os Estados do país mostrando histórias curiosas, expressões culturais e personalidades que só existem em determinados locais, como no Espírito Santo.
Visitas de Maurício Kubrusly ao Espírito Santo
A Gazeta fez um levantamento, usando o nome do repórter como filtro de buscas. Há citações diversas entre 2003 e 2016 – ano em que Maurício Kubrusly sofreu um infarto. Algumas notícias foram escritas por jornalistas da Rede Gazeta. Outras notas, no entanto, não têm relação direta com o Estado. Confira abaixo alguns registros:
- 2 de fevereiro de 2003:
- 25 de novembro de 2005:
- 8 de outubro de 2006:
- Maio de 2008:
- 3 de abril de 2011:
- 1º de dezembro de 2013:
- 17 de novembro de 2016:
Congo e Banda Manimal no Fantástico para todo o Brasil
O jornal A Gazeta noticiou no dia 2 de fevereiro de 2003: "É Fantástico!". A reportagem assinada pela jornalista Marcela Tessarolo avisava aos capixabas que a cultura do Congo apareceria domingo no Fantástico. Em uma fotografia registrada pela mesma jornalista, Maurício Kubrusly aparece ao lado de músicos da banda Manimal.
A produção do "Me Leva Brasil" veio ao Estado para gravar uma reportagem sobre o Congo. O quadro mostrou a fincada do mastro de São Benedito, na Serra, a Casa do Congo e os netos do falecido mestre Antônio Rosa, que integravam na época a Banda Manimal.
A Gazeta procurou a jornalista Marcela Tessarolo, que gentilmente gravou um depoimento sobre a visita de Kubrusly ao Espírito Santo. Na época, a jornalista estava como colunista interina da Coluna Victor Hugo, do jornal A Gazeta. Considerando a importância da vinda de um "global" ao Estado, ela foi cobrir a produção jornalística.
Marcela Tessarolo
Professora doutora em comunicação
"Maurício chegou muito concentrado ao local da gravação, conversando com a equipe dele, não deu muito papo para quem estava ali cercando a equipe de reportagem. Ele já chegou com o microfone em punho, câmera ligada e já fazia as entrevistas sem nenhuma conversa prévia. Acredito que ele fazia isso para conseguir respostas inusitadas, engraçadas, leves e autênticas do público"
Ainda conforme a jornalista, após a gravação da reportagem, Kubrusly se mostrou interessado pelas pessoas e conversou com todos de forma gentil.
Kubrusly gravou reportagem sobre Congo em 2003
À época integrante da Banda Manimal, Fábio Carvalho conversou com A Gazeta a agradeceu a vinda de Maurício Kubrusly. Em vídeo, Fábio Carvalho contou como foi a reação quando o Fantástico ligou para ele: "É trote", brincou.
Fábio Carvalho
Músico
"Agradeço muito ao Maurício de ter vindo ao Espírito Santo contar a história do Congo. Ele veio e ficou amarradão, se divertindo muito. É incrível, foi incrível essa vinda dele. E o programa foi lindo"
De acordo com o músico, programas como o "Me Leva Brasil", do Fantástico, e o "Avisa lá que eu vou", gravado atualmente pelo ator Paulo Vieira, mostram partes não convencionais do Brasil. Isso é essencial, segundo Fábio Carvalho. "É um trabalho de mostrar o Brasil profundo, porque nós temos vários brasis. Hoje o Paulo Viera faz de forma magnífica. É a mesma pegada do Kubrusly", classificou.
Pipino inventor e colecionador de telefones em Venda Nova do Imigrante
Anos depois, o "Me Leva Brasil" voltou ao Espírito Santo. Em 2008, a produção do programa se interessou por uma história mais particular: um homem chamado pelo apelido "Pipino" que reunia telefones de diferentes formatos e até robôs criados por ele em uma espécie de laboratório.
Na época, o inventor Jéferson Dorzenoni, o Pipino, mostrou o local de trabalho e as invenções. O homem recebeu a produção do Fantástico no LEIP: Laboratório de Exeperimentos e Inventos do Pipino, em Venda Nova do Imigrante.
Kubrusly gravou reportagem com um inventor do ES em 2008
Em conversa com Kubrusly, o inventor contou como era a rotina e o trabalho, além das invenções de moda. Com seu jeito original, conquistou o Brasil.
Jéferson Dorzenoni, o "Pipino"
Inventor e morador de Venda Nova
"Os telefones quebram muito. Tenho telefones em formato de violino, pepino e golfinho. Nas horas vagas, invento robôs. Um deles é o Jedor. Os olhos, inclusive, abrem"
Apesar de todo carisma e criatividade, não foi Maurício Kubrusly quem descobriu a história de Pipino. Na época do quadro no Fantástico, havia um blog que reunia sugestões de pauta. Uma das sugestões foi enviada pelo então jornalista de rádio Leandro Fidelis.
"Sempre conheci o Pipino, desde muito novo. Quando apareceu o quadro, eles pediam sugestões. Eu, então, mandei o e-mal sugerindo o Pipino, junto com outras histórias da região, contei várias histórias. A produtora entrou em contato comigo para entender melhor a história do Pipino. Cerca de 40 dias depois, eles gravaram", contou em conversa com A Gazeta.
Leandro Fidelis contou por telefone que viu reportagens sobre o estado de saúde de Kubrusly no Fantástico e ficou emocionado. Assim como Marcela Tessarolo, Fidelis ficou encantado pela forma de Maurício Kubrusly fazer jornalismo.
Leandro Fidelis
Jornalista
"Vi no Fantástico [sobre Kubrusly] e fiquei muito arrepiado. Eu tinha o livro do 'Me Leva Brasil', sempre foi muito marcante. O que eu lembro do Maurício é que ele sempre foi muito rápido. Quando ele entrava para gravar, a coisa acontecia de primeira. Busca espontaneidade. Passamos um dia inteiro juntos, foi uma aula, fiquei muito encantado"
A história foi contada para todo o Brasil e, segundo Leandro Fidelis, Pipino ficou ainda mais famoso na cidade e conhecido em todo o país. A Gazeta falou por telefone com o inventor. Ele não quis gravar entrevista, mas lembrou com alegria do encontro com Maurício Kubrusly.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.