Templos religiosos com altas torres, que abrigavam um ou mais sinos, sempre foram vistos como símbolo de imponência e de beleza. Hoje, encontrar uma igreja com uma torre é algo comum, mas em 1887 isso só era permitido para a Igreja Católica.
Mas em Domingos Martins, na Região Serrana do Espírito Santo, um líder religioso contrariou a legislação brasileira da época para que em sua igreja também fosse erguida uma torre. Com a desobediência, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana, localizada na Praça Doutor Arthur Gerhardt, no Centro da cidade, se tornou a primeira igreja evangélica a ter torre no Brasil.
A comunidade já havia erguido a igreja em 1886. Mas a ideia de construir uma torre, segundo o escritor e pesquisador José Eugênio Vieira, surgiu após uma visita de um membro religioso da igreja, Nikolaus Velten, a amigos em Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro.
De acordo com os registros da época, que estão no livro "Italemães" (obra escrita por Vieira e Joel Velten), em Petrópolis, Velten, teve a oportunidade de ver e visitar várias igrejas. Ficou encantado com a beleza das torres e o som que ecoava dos sinos. Surgiu, então, a ideia de se construir uma torre.
De acordo com arquivo histórico da paróquia, publicado no Portal da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, para surpresa do senhor Velten, ele ficou sabendo que para os evangélicos isso seria proibido.
“Tudo muito bom e bonito, todavia, alguma coisa me doeu no coração. Eu estive na Igreja do Imperador, lá é tudo tão suntuoso, enquanto a nossa Igreja e tão primitiva e simples. Isso me dói, que os evangélicos são tão passados para trás. Nossa igreja esta aqui, sem torre e sinos”, contou na obra Henrique Velten IV, filho do idealizador Nikolaus.
Primeira igreja evangélica a ter torre no Brasil foi construída no ES
A CONSTRUÇÃO
Naquela época, o Artigo 5º da Constituição Imperial proibia a construção de igrejas evangélicas adornadas com torres. De acordo com a legislação, todos os evangélicos podiam praticar o seu culto, desde que fossem em casas que não tivessem aparência exterior de templo.
Retornando a Domingos Martins, o luterano reuniu um grupo de membros da igreja para construção da torre, que ganhou três sinos, que mandaram comprar na Alemanha.
O escritor José Eugênio Vieira disse que a comunidade era pobre, mas reuniu dinheiro para comprar as peças. Os sinos - batizados de Glória, Concórdia e Gratia - foram transportados até o Vale da Estação de trem. De lá foram levados a Campinho em carro de boi.
José Eugênio Vieira
Escritor do livro 'Italemães'
"Alguns concordaram com a ideia, outros não. A comunidade era pobre, mas conseguiu reunir cerca de 800 mil réis, o que naquela época era muito dinheiro"
Segundo arquivo histórico da paróquia, a construção da torre somente foi possível depois de muitas brigas entre os membros da igreja e autoridades governamentais da época. Autoridades do império chegaram a ir ao local para embargar a obra, mas foram expulsos sob ameaças com pessoas armadas com machados. Receosas, as autoridades retornaram para Vitória e a obra foi concluída.
UNIÃO ENTRE CATÓLICOS E LUTERANOS
Durante a construção, os sinos chegaram da Europa. Um fato curioso, segundo o escritor, é que os registros mostram que católicos e luteranos da região se uniram para abrir as estradas, para que o sino pudesse passar.
A torre, enfim, foi inaugurada em 30 de janeiro de 1887 e se tornou a primeira igreja evangélica com torre no Brasil. O evento, relembram os registros, foi marcado por um grande festejo.
Desde 20 de maio de 1986, por meio de resolução do Conselho Estadual de Cultura, a torre passou a fazer parte do patrimônio histórico do Espírito Santo e é até hoje um dos pontos turísticos do município de Domingos Martins.
Fonte: Portal Luteranos, site da Prefeitura de Domingos Martins e o livro do escritor José Eugenio Vieira
Este vídeo pode te interessar
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.