Trinta e dois pilares de pedra apontados para o céu em meio a uma vegetação nativa às margens do Rio Benevente, em Anchieta, chamam a atenção e guardam um mistério Litoral Sul do Espírito Santo. Afinal, o que foi erguido naquela região? Há quem diga que o local foi construído após a chegada dos padres jesuítas, outros afirmam que as ruínas seriam de uma antiga salina clandestina.
As estruturas, algumas redondas e outras quadradas, de acordo com informações fornecidas pela Prefeitura de Anchieta, teriam sido erguidas com pedras, conchas e óleo de baleia. Atualmente o lugar é conhecido pelos moradores da região como as Ruínas do Rio Salinas ou Ruínas Jesuíticas – e se tornou ponto turístico da cidade. É possível acessar o local por terra ou de barco, navegando pelo afluente do Rio Benevente.
O ano de construção da estrutura também é um mistério, mas a data pode estar ligada ao início das missões jesuíticas. Segundo o historiador e coordenador de Patrimônio Histórico do município, Ivan Petri, em 1587, os padres já promoviam a catequização nas aldeias indígenas de todo o território que atualmente conhecemos como Anchieta, e usavam como via de transporte o Rio Salinas.
Ivan Petri
Historiador e coordenador de Patrimônio Histórico de Anchieta
"Esse sítio histórico e arqueológico foi analisado e estudado em meados da década de 90. Quanto à estrutura e história, detectaram que foi uma construção dos tempos dos jesuítas devido sua estrutura construtiva, as Ruínas Jesuíticas. Acredita-se também que formava uma antiga salina clandestina, devido à quantidade de Salitre – sal – encontrado no sítio"
As teorias
De acordo com Petri, outra hipótese é de que o local, com o passar dos séculos, tenha tido diversas outras funções: uma fazenda, um armazém, uma escola e até um engenho. Ele afirma que, em documentos do século XIX, fica explícita a constante presença de povos indígenas botocudos, que atacavam o lugarejo – o que pode ter afastado moradores naquele local.
No entanto, recentemente, a professora Sônia Missagia Mattos, titular Departamento de Ciências Sociais e Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), expôs outra versão dessa história. Publicado na Revista do Arquivo Público do Espírito Santo, seu artigo revela que os pilares de pedra que atualmente se encontram em Anchieta, são, na verdade, o início da construção de um engenho de açúcar, que pertencia a Antônio Salgado dos Santos.
Antônio Salgado dos Santos teria recebido sesmaria (doação de terras de Portugal) e veio da Bahia para o Espírito Santo em meados de 1795. Porém, nesses lugares, moravam vários indígenas, que possuíam até lavouras. Conforme os registros, Salgado estaria prejudicando os nativos, construindo um engenho em terreno que seriam dos indígenas. Ainda segundo a pesquisa, ele foi até notificado pela Coroa Portuguesa para que não 'entrasse em confusão' com os moradores, sob pena de expulsão. Não há confirmação se o engenho foi concluído.
Em 2014, o local foi tombado pelo Monumento de Valor Histórico e Cultural, conforme publicação no Diário Oficial da União em 4 de fevereiro daquele ano.
Onde ficam as Ruínas do Rio Salinas
As misteriosas Ruínas do Rio Salinas ficam dentro da área da Unidade de Conservação Reserva de Desenvolvimento Sustentável Papagaio. A reserva foi criada para conservar o manguezal, o rio e as espécies que nele habitam, como pássaros, caranguejos e peixes.
Para chegar às ruínas, o visitante tem duas opções: a primeira por carro e a segunda, navegando pelo Rio Benevente, por passeio de barco, que dura em média cerca de 40 minutos. Depois é preciso seguir por um bosque caminhando, e em menos de cinco minutos se chega ao local.
Ruínas do Rio Salinas em Anchieta
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