No lugar de fé e oração, reinou a confusão durante um dos eventos religiosos mais tradicionais do Espírito Santo. No dia 1 de abril de 1989, aos pés do Convento da Penha, em Vila Velha, a Romaria dos Homens terminou com mais de 100 pessoas feridas, mercadorias de ambulantes destruídas e até em tiro disparado por um policial militar em meio aos romeiros.
O 'quebra-quebra' começou após a imagem de Nossa Senhora da Penha sair da Catedral de Vitória, às 20h, em direção ao santuário. Mas, cerca de duas horas depois, 15 mil fiéis já tinham chegado ao Convento – bem antes da santa. Uma grande concentração se formou nos portões de acesso. E a título de curiosidade: a imagem só chegou ao santuário perto da meia-noite.
Aos gritos, a multidão começou a pedir pela abertura do santuário, o que foi negado pela organização do evento. Conforme veiculado em A Gazeta na época, um dos freis responsáveis disse que não iria fazê-lo porque "não se entra numa casa se o dono não está presente".
Jornal A Gazeta
Matéria veiculada no dia 3 de abril de 1989
"Revoltados e cansados após terem percorrido cerca de 14 quilômetros a pé, os fiéis começaram a gritar: ‘abre, abre…'"
Repórteres da Rede Gazeta que trabalharam na romaria flagraram a dinâmica da confusão (veja no vídeo abaixo): em certo momento, diante da tentativa de barrar uma invasão, um policial militar dá um tiro para cima. A multidão corre, desesperada, e muitas pessoas acabam pisoteadas. Produtos de comerciantes ambulantes também ficam jogados no chão.
“As pessoas se atropelaram ao correr e caíram por cima dos carros de pipocas e de churrascos, se cortando nos vidros e por pouco um incêndio não ocorreu, já que a maioria dos vendedores ambulantes usava botijões de gás em seus carrinhos”, descreve a reportagem.
Quem esteve no local e viu os reflexos da situação foi o jornalista Fernando Künsch, que atuava como repórter de A Gazeta na época. Ele conta que, embora tenha chegado após a confusão, conseguiu colher relatos de algumas das pessoas machucadas. Ao menos quatro fiéis ficaram com ferimentos graves.
1989: Tumulto em frente ao portão do Convento
“Fui até a casa das pessoas, a maioria já devidamente medicada. Todos já estavam com os curativos e contando como foi a triste experiência. Reclamaram também da organização e do despreparo da festa”, relembrou.
Frei disse que fiéis eram culpados
Conforme também veiculado em A Gazeta na época, o frei Sílvio Tadeu Mascarenhas alegou que a culpa pelo tumulto poderia ter sido de alguns fiéis, que, segundo ele, "bebem um pouco mais e só vão à procissão dos homens para tumultuar”.
"E como a imagem de Nossa Senhora ainda estava liderante a romaria dos homens ‘não fazia sentido abrir os portões do Convento’. No seu entendimento, ‘perde todo o sentido da comunhão penitencial os fiéis entrarem antes da imagem da Penha'", frisou a reportagem.
Mesmo após toda a repercussão que o caso teve, os festejos para Nossa Senhora da Penha continuaram e não houve outros registros de mais confusão.
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