"O Carnaval do Brasil começa aqui". Essa frase já virou uma marca do Carnaval de Vitória. Afinal, os desfiles das escolas de samba no Espírito Santo ocorrem uma semana antes da data oficial da folia no país. A festa, cheia de cores e manifestações culturais, toma conta do Sambão do Povo, no bairro Mário Cypreste, em Vitória, ano após ano. Mas nem sempre foi assim. A Gazeta conta agora como e quando os desfiles começaram e por onde já passaram na Capital.
No Estado, o samba nasceu na região central de Vitória. A primeira escola capixaba, a Unidos da Piedade, foi fundada em 1955. Mas, bem antes disso, por volta de 1880, os foliões já atravessavam as principais vias do Centro. No começo do Século XX, quem não estava nas ruas curtia a folia nos tradicionais clubes, como o Saldanha da Gama e o Álvares Cabral. Em meados de 1910, foi a região do Parque Moscoso que se tornou a casa do samba na Capital.
Historiadores contam que, dos anos 1960 a 1980, o samba-enredo das escolas ecoava nas Avenidas Jerônimo Monteiro e Princesa Isabel, no Centro. Arquibancadas eram montadas, nas vias, para que o público pudesse acompanhar as apresentações e torcer por sua agremiação favorita.
Marcus Vinícius Sant'Ana
Pesquisador e historiador
" Era aquela coisa popular. Todos podiam ir e tomavam as ruas"
"No ano seguinte a criação da Unidos da Piedade, já surgem outras agremiações, em outras comunidades de Vitória, como a Acadêmicos do Moscoso e a Unidos do Caratoíra, que não teve uma vida longa. Depois, veio a Império da Vila, que virou depois a Novo Império. Essas agremiações colocaram o carnaval em outro patamar, justamente por ser popular. E, em vez de tocar marchinhas, tocavam samba", conta o pesquisador e historiador Marcus Vinicius Sant'Ana.
Em 1986, a Reta da Penha recebeu o desfile por uma única vez. O Carnaval de Vitória estava tão grande que era hora de ter um espaço maior e ideal para a apresentação das escolas de samba.
O nascimento do Sambão do Povo
Entre 1986 e 1987, o Sambão do Povo foi erguido em um intervalo de apenas 112 dias. A obra, que uniu força de vontade e amor pelo carnaval, ficou pronta no dia da folia. Iamara Nascimento, sambista e comentarista do Carnaval de Vitória, lembra com carinho da época da obra.
"O nosso carnaval, até os anos de 1980, tinha o de avenida ainda com aquelas arquibancadas feitas de madeira. Em 1986, fomos para a Reta da Penha, porque o Centro não tinha mais espaço para o tamanho do carnaval. Na época, o então prefeito Hermes Laranja sentiu essa necessidade. Nosso Sambão do Povo, foi inspirado no sambódromo do Rio de Janeiro. Por que não poderíamos ter um? E aí veio esse ‘boom’ do carnaval", lembra Iamara.
Marcus Vinicius conta que o Sambão surgiu em um momento de crescimento do Carnaval de Vitória. "O carnaval já tinha saído do Centro no ano anterior, por causa do tamanho mesmo. Muitas agremiações tinham aderido às grandes alegorias e grandes alas. A epopeia de fundar o Sambão do Povo está no próprio nome: era justamente porque o povo do carnaval foi para lá para construir, para que o carnaval de 1987 fosse realizado", explica o historiador.
Samba supera a discriminação
Baluarte do Carnaval de Vitória, Aroldo Rufino foi o primeiro mestre-sala da primeira escola de samba fundada no Espírito Santo, a Unidos da Piedade. Hoje, aos 87 anos, ele lembra que, quando o samba ganhou força no Estado, a discriminação tomava conta dos espaços culturais.
Aroldo Rufino
Primeiro mestre-sala do Carnaval de Vitória
"Quando o samba apareceu, eles tachavam a gente como vagabundos, desocupados. Pura discriminação"
Para Aroldo, os casos aconteciam por conta do preconceito com o samba e com as comunidades negras e periféricas que tentavam expandir a cultura na Capital. Situação que mudou com o passar dos anos. "É a comunidade que faz o samba. Não tem dinheiro, mas tem o mais importante. Quem faz a festa na avenida é o pessoal da comunidade", afirma o sambista.
Apesar das glórias e inglórias na luta pelo crescimento do Carnaval de Vitória, Iamara, Aroldo e Marcus garantem que a festa tem tudo para crescer nos próximos anos. No que depender desse grupo, o samba jamais vai morrer.
"Costumo dizer muito que quem é sambista verdadeiro tem o coração e o emocional antes da razão. A razão nunca está na frente do coração do sambista. E o samba vem da alma, corre nas veias", destaca Iamara.
O Carnaval de Vitória em 2024
Os desfiles das escolas de samba do Carnaval de Vitória 2024 vão acontecer nos dias 2, 3, e 4 de fevereiro, no Sambão do Povo. A poucos dias para o início da festa, sete mil ingressos de arquibancada já foram vendidos. Camarotes corporativos, mesas e lounges estão esgotados, segundo a JBL eventos, a organizadora dos desfiles. No site Brasil Ticket, ainda é possível adquirir entradas.
Para 2024, uma das novidades é a estreia do Desfile das Campeãs, previsto para acontecer no dia 10 de fevereiro. As três agremiações mais bem colocadas do Grupo Especial, as duas primeiras do Grupo A e a primeira colocada do Grupo B vão abrilhantar essa festa, segundo o presidente da Lieses (Liga Espírito-Santense das Escolas de Samba), Sandro Rosa.
Segundo Edson Neto, presidente da Liga das Escolas de Samba do Grupo Especial (Liesge), o Carnaval de Vitória é sinônimo de crescimento a cada ano. “O Carnaval de Vitória é, hoje, o maior evento do Espírito Santo. E este ano o desfile será o mais disputado da história. A diferença entre a primeira e a última vai ser muito pequena, com chances reais de título para as sete escolas do Grupo Especial”, prevê.
Conforme divulgado por HZ, para viabilizar os desfiles deste ano, as agremiações capixabas receberam os aportes financeiros em novembro do ano passado. “Foi muito importante esse recurso chegar antes para as escolas, porque elas tiveram o poder de compra melhor. Acredito que foi o Carnaval que começou mais cedo”, explicou Edson Neto.
Investimentos
O Carnaval de Vitória recebeu da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) o valor de R$ 500 mil e do Banestes, R$ 1,5 milhão. A Prefeitura de Vitória investiu R$ 370 mil nas escolas da Capital que desfilarão no Grupo Especial, enquanto a Prefeitura de Vila Velha destinou R$ 300 mil para a MUG, atual campeã do Grupo Especial.
A TV Gazeta será a emissora oficial dos desfiles das escolas de samba, com transmissão das apresentações no portal G1 na sexta (2) e no sábado (3) ao vivo na programação.
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