Carros alegóricos imponentes, fantasias luxuosas, efeitos especiais, arquibancadas e camarotes lotados e muita emoção deram o tom do espetáculo na segunda noite de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial. As sete agremiações da elite da folia entraram na avenida entre a noite de sábado (3) e a manhã de domingo (4) em busca do título de campeã do Carnaval de Vitória 2024.
Cada agremiação teve até 62 minutos para contar no Sambão do Povo o enredo que escolheu. Os jurados avaliaram alguns quesitos em todos os desfiles e dão notas que variam entre 9 e 10.
7º - PEGA NO SAMBA
Já eram 6h20 da manhã deste domingo (4) quando o Pega no Samba entrou no Sambão para fechar os desfiles do Grupo Especial iniciados na noite de sábado. A agremiação, que conquistou o título de campeã do Grupo A em 2023, garantiu o acesso ao Especial e, por isso, foi a última a desfilar.
A escola viajou rumo aos Emirados Árabes Unidos com o enredo "Pérolas do Deserto". A agremiação contou com três carros alegóricos para exaltar os nômades, mercadores, desertos, a descoberta do petróleo e todo o desenvolvimento e modernidade que vêm do Oriente Médio.
A agremiação fez homenagem ao povo árabe, narrando a fundação dos Emirados Árabes Unidos e a sabedoria milenar de um povo que construiu cidades prósperas em meio ao deserto.
Na abertura, a escola mostrou os "Reinos do Deserto". Na comissão de frente, os "Nômades Mercadores" foram representados por componentes que cruzavam o deserto comercializando mercadorias variadas.
A agremiação encerrou a apresentação por volta das 7h20.
Na primeira ala, a escola mostrou as estrelas, usadas para guiar as caravanas nômades em meio ao deserto. O elemento principal foi o camelo, animal utilizado pelos viajantes durante as longas viagens.
O primeiro carro alegórico, predominante dourado, chamado de "Um Oásis Encontrar", mostrava um palácio árabe que representava o poderio político e econômico do povo homenageado.
6º - UNIDOS DA PIEDADE
A Unidos da Piedade, a escola mais antiga do carnaval e a que tem mais títulos, resgatou sua história para o desfile deste ano. Mostrando a força e a resistência da própria comunidade, a agremiação entrou na avenida com o enredo "Quilombo Piedade", sendo a penúltima a desfilar.
Na avaliação de seus componentes, sua principal marca é o grito de ordem na hora do sinal verde para começar o desfile “Alô, gente boa da Piedade! Bate forte no couro e deixa o pelo ‘arrupiar’”. E, neste ano, fez jus a isso, ao exaltar justamente seu território, histórias e memórias, identificando ancestralidades e valorizando a representatividade de seu povo e dos moradores da comunidade.
O abre-alas da agremiação foi bastante aplaudido pelo público logo no início do desfile. As pessoas interagiam, acenavam para quem estava na avenida e cantavam parte do samba-enredo.
O primeiro carro alegórico chamava a atenção pela altura e pela sua mensagem: “A Força que Vem da Raiz”. A estrutura trazia em si as raízes africanas que formaram a região e a população da Fonte Grande, Moscoso, Capixaba e Piedade, destino de muitos ex-escravizados no período pós-abolição.
A escola mostrou como esses bairros foram berço da cultura identitária negra da cidade. Muitas dessas pessoas que ocuparam essas regiões vieram de várias regiões de África e essa soma de referências ajudou a compor o lugar onde hoje a comunidade se reconhece.
A agremiação ainda trouxe passistas representando os trabalhadores da comunidade. Muitos dos que viviam na comunidade da Piedade e região eram autônomos e tinham ofícios informais, os “bicos”.
Para representá-los, a escola optou por trazer a figura das costureiras, que eram muitas naquele lugar. No surgimento e nos anos iniciais da Unidos da Piedade, as principais costureiras da região faziam os figurinos e as fantasias da escola.
5º - CHEGOU O QUE FALTAVA
A quinta escola a entrar no Sambão é a Chegou O Que Faltava, que foi campeã do Grupo de Acesso A em 2022, mostrou que merecia continuar na elite do Carnaval de Vitória em 2023 e, agora, briga pelo título em 2024. A agremiação da Grande Goiabeiras, na Capital, apresetou o enredo "Bravo! O Glória em cena", homenageando um grande símbolo da história do Centro o Glória, prédio clássico da Capital.
O desfile começou abordando as influências que deram origem ao espaço cultural. Logo na comissão de frente, malas representaram um intercâmbio entre o Espírito Santo e Paris, que inspirou a modernização de Vitória no século XX. De forma lúdica e divertida, integrantes encenaram até o jeito de se vestir e andar dos franceses rumo à capital capixaba.
O prédio foi erguido onde funcionou, antes, o Éden Park, um jardim que abrigava cassinos e bares, lar da boemia capixaba nas décadas de 1910 e 1920. Esse ambiente de prazeres da noite foi apresentado no abre-alas, em um carro com 30 metros de comprimento, o máximo permitido pelo regulamento.
Imponente, o abre-alas misturou um verdadeiro "jardim" com elementos que caracterizam o universo dos jogos de um cassino, como baralho, roleta e dados.
A coroa, um dos símbolos da escola, também marcou presença no abre-alas, e ainda tinha um efeito cenográfico, dando uma volta de 360°.
4º - MUG
Por ser a atual campeã do Carnaval de Vitória, a Mocidade Unida da Glória (MUG) pôde escolher, de acordo com o regulamento dos desfiles, a ordem em que gostaria de entrar na avenida. E, com isso, optou estrategicamente por ser a quarta escola a se apresentar no Sambão do Povo neste ano. A agremiação de Vila Velha homenageou o artista pintor Homero Massena, mineiro que morou e pintou inúmeras passagens do município. O enredo foi "Massena: um olhar em aquarela".
Entrando na avenida às 02h12m, a escola contou como o artista ganhou prestígio ao retratar paisagens do Espírito Santo.
Logo no primeiro setor, a MUG trouxe à avenida o quadro "O prelúdio das cores", que retratou, de forma lúdica, a infância de Homero Massena e seu primeiro contato com a arte.
O carro abre-alas veio com dois chassis, totalizando 29 metros de comprimento — o limite do regulamento é de 30 metros — e 8,75 metros de altura, apenas 25 centímetros abaixo do regulamento (9 metros).
Imponente, o carro trouxe a "Grande Inspiração", mostrando as mãos de uma criança que desenha livremente sobre o papel. De acordo com a escola, foram distribuídos quase 800 lápis de cor, que foram feitos com cano de PVC e isopor, além de 30 cadernos gigantes.
3º - BOA VISTA
A Independente de Boa Vista, de Cariacica, foi a terceira escola a desfilar e homenageou a cidade vizinha com o enredo "Viana divinamente brasileira". As lendas e tradições do município capixaba foram contados no Sambão. No desfile, falou sobre o crescimento e a resistência da cidade — seu potencial logístico, a força de seu desenvolvimento, e claro, seus encantos culturais e naturais.
A Independente de Boa Vista entrou na avenida às 0h48 deste domingo (4). A história que a agremiação apresentou teve como fio condutor a peculiar imigração açoriana no município.
Isso porque, no século XIX, Viana recebeu centenas de famílias açorianas — um arquipélago pertencente a Portugal —, que trouxeram tradição, costumes e uma imensa paixão: a Festa do Divino Espírito Santo, que se iniciou em 1817 e acontece até hoje.
A comissão de frente trouxe 15 componentes, representando os sete dons do Espírito Santo: sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência; piedade e temor de Deus.
O carro “Um trem para o futuro” fechou o desfile. A alegoria representou uma ferrovia, que levou progresso e desenvolvimento para Viana. Hoje, a antiga estação recebe visitantes para conhecer um passado de glórias, um presente de esperança e um futuro de novas possibilidades. A escola tinha a intenção de tentar colocar cheiro de cerveja para exalar do carro, mas isso não aconteceu. A apresentação durou uma hora e um minuto, terminando às 1h49 da madrugada.
2º - JUCUTUQUARA
A segunda agremiação a atravessar a linha amarela da avenida, por ordem de sorteio, foi a Unidos de Jucutuquara. A escola da coruja, conhecida como Nação Jucutuquara, escolheu falar, no desfile deste ano, sobre o Mosteiro Zen Morro da Vargem, que fica em Ibiraçu, e do budismo com o enredo "Gassho. Caminhos de sabedoria".
A escola mostrou a evolução daquele ponto turístico desde a época das cabanas de madeira até a chegada dos templos e sua explosão de visitas.
A agremiação começou os desfiles exatamente às 23h20. Ainda na concentracão, integrantes da comissão de frente se uniram para fazer uma oração. Muitos foliões já estavam com a letra na ponta da língua e animaram a bateria.
Na comissão de frente, uma surpresa impressionou os foliões: um elemento cenográfica "flutuou" para representar o nascimento de Buda, mentor da filosofia budista. Em poucos segundos, integrantes também fizeram uma rápida mudança de vestimenta, para representar o nascimento de Buda, mentor da filosofia budista. Os quimonos, tradicionais na cultura oriental, também foram destaque nas primeiras alas.
O segundo carro alegórico tomou a avenida representando os diferentes sons dentro dos templos budistas. Alguns dos elementos representados são os tambores e sinos.
A escola conseguiu finalizar o desfile dentro do tempo, mas com correria. Por causa da pressa, foi difícil ver até os próprios foliões cantando o samba-enredo. Houve uma grande tensão entre os integrantes. Depois do susto, diretoria e membros da harmonia comemoraram muito. Finalizaram com 1 hora e 1 minuto, praticamente no limite, que é de 62 minutos
1º - NOVO IMPÉRIO
A primeira a desfilar foi a Novo Império A agremiação, da Grande São Pedro, apresentou neste ano uma homenagem à cidade de Barra de São Francisco, no Noroeste capixaba, com o enredo "Espírito guerreiro ancestral, Barra de São Francisco. A sentinela capixaba".
No esquenta, integrantes pediram para os foliões na arquibancada acenderem as luzes do celular, para já deixar o público no clima da festa preparada pela agremiação.
Para levar a história da cidade para a avenida, a escola contou com o apoio de moradores de Barra de São Francisco para uma pesquisa minuciosa sobre o município, exaltando suas festas e tradições. Na comissão de frente, a escola mostrou a ancestralidade guerreira, representada pelos índios Botocudos e Puris.
Público se encanta com desfiles do Carnaval de Vitória 2024
Com a colaboração de Ludson Nobre, João Barbosa, Jaciele Simoura, Maria Fernanda Conti, Júlia Afonso, Caio Vasconcelos, Roberta Costa, Diná Sanchotene, Vinícius Zagoto e Mariana Bernadino.
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