A primavera e o verão são estações marcadas pelas altas temperaturas e umidade do ar, que favorecem a formação de tempestades e raios. O Brasil, sendo um país tropical, aparece nas primeiras colocações quando o assunto são ocorrências de descargas elétricas. Este fenômeno, inclusive, é recheado de mitos e verdades. O maior deles talvez seja o: é verdade que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar?
A resposta é não. Uma prova disso, segundo o Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Elat/Inpe), é que o Cristo Redentor, localizado no Rio de Janeiro, recebe ao menos seis descargas atmosféricas por ano. A origem desse mito está nos indígenas, que usam pedras atingidas por raios como amuletos, acreditando que estão protegidos contra os relâmpagos.
A Gazeta separou alguns mitos e verdades sobre este fenômeno que tanto impressiona e provoca medo. Quem responde e explica é o próprio Elat/Inpe.
É perigoso usar telefone quando estiver acontecendo uma tempestade com raios? O risco estar em usar equipamentos que estejam ligados a rede elétrica. Se estiver dentro de casa, evite: usar telefone com fio ou celular ligado à rede elétrica (utilize telefones sem fio); ficar próximo de tomadas e canos, janelas e portas metálicas; tocar em qualquer equipamento ligado à rede elétrica.
É verdade que árvores atraem raios? Árvores isoladas podem atrair raios. Estar embaixo ou próximo de uma é um exemplo no qual muitas pessoas são atingidas indiretamente por uma descarga lateral, que se desloca do ponto atingido e encontra no corpo humano um caminho menos resistente para chegar ao solo.
Espelho atrai raios? Não. O mito vem dos tempos em que os espelhos tinham molduras metálicas bem grossas – elas, sim, eram um atrativo para as descargas elétricas.
O raio precisa da chuva para acontecer? Apesar de estarem normalmente associados aos temporais com chuvas intensas e ventos intensos, os relâmpagos (descargas que ficam dentro ou entre as nuvens) também podem ocorrer em tempestades de neve, tempestades de areia, durante erupções vulcânicas, ou mesmo em nuvens que não sejam de tempestade, embora nesses casos costumem ter extensões e intensidade menores.
Guarda-chuva atrai raio? Objetos pequenos como tesoura, caneta, pulseira e afins não interferem. Porém, objetos maiores como uma enxada ou um guarda-chuva (desde que metálico) podem favorecer que a pessoa seja atingida.
Carro protege de raios? Na verdade, o veículo fechado é o local mais seguro contra raios – nunca ninguém morreu no Brasil atingido por raio dessa forma. Se o carro é atingido por um raio, a descarga elétrica se espalha por sua superfície metálica, sem atingir quem está dentro dele.
É possível calcular a distância de um raio pelo tempo do trovão? É possível estimar a distância em quilômetros com um cálculo simples: basta contar o tempo (em segundos) entre o momento que se vê o raio e se escuta o trovão e dividir por três obtendo-se a distância aproximada em quilômetros.
Como saber se um raio está prestes a cair próximo? Se você estiver em um local sem um abrigo próximo e sentir que seus pelos estão arrepiados, ou que sua pele começou a coçar, fique atento, já que isto pode indicar a proximidade de um raio que está prestes a cair. Neste caso, ajoelhe-se e curve-se para frente, colocando suas mãos nos joelhos e cabeça entre eles. Não fique deitado.
Um mesmo raio pode atingir locais diferentes no solo? Sim, um raio é formado por mais de uma descarga e algumas delas podem atingir o solo em locais diferentes. Em cerca de 50% dos raios negativos, mais de um ponto é atingido no solo.
Um raio pode atingir diretamente uma pessoa? A chance de uma pessoa ser atingida diretamente por um raio é muito baixa, sendo em média menor do que 1 para 1 milhão. Contudo, se a pessoa estiver numa área descampada embaixo de uma tempestade forte, esta chance pode aumentar em até 1 para mil. Entretanto, não é a incidência direta do raio a maior causadora de mortes e ferimentos. Geralmente são os efeitos indiretos associados a incidências próximas ou efeitos secundários dos raios que trazem risco. As descargas também provocam incêndios e queda de linhas de energia.
É perigoso nadar em rios, mares ou piscinas durante tempestade com raios? Sim. O corpo do banhista acaba funcionando como um pára-raios atraindo a descarga elétrica.
Tomar banho durante tempestade com raios é perigoso? Sim, se o chuveiro for elétrico, pois está ligado à rede elétrica que alimenta a residência e se um raio cair próximo ou sobre a mesma, a pessoa que está tomando banho pode tomar um choque elétrico.
As cidades influenciam a ocorrência de raios? Pesquisas já indicaram visíveis aumentos de incidência de raios em áreas urbanas. Essa maior incidência de raios está relacionada ao aumento de temperatura (fenômeno conhecido como ilha de calor) e de poluição nos centros urbanos.
De acordo com o Elat/Inpe, o raio é o nome designado para um relâmpago que atinge o solo. Os relâmpagos são descargas atmosféricas de grande intensidade que ocorrem dentro das nuvens de tempestade – também conhecidas como nuvens Cumulonimbus – a partir de cargas elétricas provocadas pelo atrito entre partículas de gelo. Quando o campo elétrico produzido por essas cargas excede a capacidade isolante do ar, a descarga elétrica se forma.
Relâmpagos também podem ocorrer no interior de uma nuvem, entre duas nuvens ou de uma nuvem para o ar. Os raios percorrem distâncias da ordem de 5 km e podem ser denominados ascendentes, quando iniciam no solo e sobem em direção à tempestade, ou descendentes, quando iniciam na tempestade e descem em direção ao solo. A intensidade típica de um raio é de 20 mil ampères, cerca de mil vezes a intensidade de um chuveiro elétrico.
O trovão, por sua vez, é o barulho produzido pelo deslocamento do ar na região da atmosfera onde a corrente elétrica do raio circula.
No Brasil, caem 77,8 milhões de raios por ano e a explicação é geográfica: é o maior país da zona tropical do planeta - área central onde o clima é mais quente e, portanto, mais favorável à formação de tempestades e de raios.
Ainda segundo o Elat/Inpe, em 20 anos – 2000 a 2019 – 43% das mortes por raios ocorreram no verão e 33% durante a primavera. Esses são os períodos do ano em que as altas temperaturas e umidade do ar favorecem a formação de tempestades e raios.
Apesar disso, o órgão alerta que é importante prestar atenção no tempo em qualquer época do ano.
O Elat/Inpe analisou as mortes causadas por raios no Brasil nos últimos 20 anos (2000 a 2019) e aperfeiçoou as orientações de proteção contra raios. Entre elas, se possível, não saia para a rua ou não permaneça na rua durante as tempestades, a não ser que seja necessário. Nestes casos, procure abrigo em carros não conversíveis, ônibus ou outros veículos metálicos não conversíveis; em moradias ou prédios, de preferência os que possuam proteção contra raios; em abrigos subterrâneos, tais como metrôs ou túneis, em grandes construções com estruturas metálicas, ou em barcos, ou navios metálicos fechados.
Se estiver na rua, evite segurar objetos metálicos longos, tais como varas de pescas e tripés; empinar pipas e andar a cavalo.
Evite também certos locais que são extremamente perigosos durante uma tempestade, tais como topos de morros ou prédios; áreas abertas, campos de futebol; estacionamentos abertos e quadras; proximidade de cercas de arame, varais metálicos, linhas aéreas e trilhos; proximidade de árvores isoladas; estruturas altas como torres, linhas telefônicas e linhas de energia elétrica.
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