Cunhado em 2004 em um documento elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), o termo ESG é um dos mais falados do universo corporativo dos últimos anos. O Environmental, Social and Governance – em português, Ambiental, Social e Governança - foi criado pelo Pacto Global, braço da ONU que visa engajar empresas e organizações na adoção de princípios nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção. O ESG dominou a cena e praticamente tirou da boca dos executivos termos como "sustentabilidade" e "responsabilidade social". A ideia é adotar uma visão mais global.
E por que está todo mundo preocupado com isso e se planejando para, de alguma maneira, adotar a agenda? Na avaliação de Manuel Belmar, diretor de Finanças, Jurídico e Infraestrutura da globo"="">globo">globo">Globo, e responsável por tocar a agenda ESG do maior conglomerado de mídia do Brasil, a resposta é simples. "Se uma empresa não tiver uma boa resposta na direção de práticas sustentáveis, uma agenda ESG, ela poderá, num horizonte de médio prazo, ser alijada do mercado. Cada vez mais os consumidores vão tomar suas decisões baseadas na percepção que têm dos compromissos assumidos publicamente por essas empresas".
Em julho, a globo"="">globo">globo">Globo aderiu ao Pacto Global e assumiu seis compromissos a partir de estudos e escutas ativas com colaboradores, parceiros, clientes e público, orientando a atuação da empresa nos próximos anos. O Pacto Global é a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com mais de 20 mil participantes, entre empresas e organizações, em 160 países.
Para falar de sua experiência na globo"="">globo">globo">Globo e da importância da adoção do ESG por empresas (mesmo as menores) e demais instituições, Manuel Belmar estará no Pedra Azul Summit, evento organizado pela Rede Gazeta e que acontece neste final de semana. Ele participa, no sábado (19), de um painel ao lado do professor da Fundação Dom Cabral Pedro Lins. Antes, trocou uma ideia com a coluna.
Por que uma empresa deve adotar a agenda ESG?
Boa pergunta! Na verdade, não estamos falando de um tema novo. O que mudou é o choque de realidade, seja no campo ambiental - com as mudanças climáticas -, seja no campo social - com a nossa profunda desigualdade - e tem a questão da governança - que é a necessidade de você, indivíduo e corporação, fazer as coisas corretamente. A sociedade está impondo a necessidade de uma transparência e um compromisso maior das pessoas e das instituições por um mundo mais equilibrado. Está impondo que as companhias façam o que é correto. O ESG, com este nome, tem poucos anos, mas já assumiu uma posição muito importante. Se uma empresa não tiver uma boa resposta na direção de práticas sustentáveis, uma agenda ESG, ela poderá, num horizonte de médio prazo, ser alijada do mercado. O que mudou, principalmente nesta década, foi a dinâmica da sociedade, o senso de urgência, sob pena de não conseguirmos avançar como sociedade.
Por que a empresa que ficar de fora dessa agenda ESG pode acabar alijada pelo mercado?
Porque os seus concorrentes adotarão. Cada vez mais os consumidores vão tomar suas decisões baseadas na percepção que têm dos compromissos assumidos publicamente por essas empresas. As empresas que cuidam do meio ambiente, do ecossistema do seu entorno, que abraçam causas sociais, que são diversas na sua composição, enfim... Empresas que adotam boas práticas serão progressivamente mais bem percebidas pelos consumidores. São eles, os consumidores, que determinam, no final do dia, o sucesso ou o fracasso de uma organização. Portanto, quem não fizer corre o risco de ser alijado. Tem a questão do crédito também. Vários grandes investidores, instituições financeiras e organizações multilaterais de crédito só estão dispostos a emprestar recursos para empresas que adotam essa agenda ESG. Você não precisa atacar tudo ao mesmo tempo, mas tem que ter diretrizes e ações que apontem para a adoção de boas práticas ambientais, sociais e de governança.
Temos uma desigualdade social, racial, educacional e outras muito marcantes no Brasil. A agenda ESG não é só a pauta ambiental, vai muito além. O ESG, no Brasil, é diferente do resto do mundo?
De fato as agendas são diferentes, mas eu acredito muito no equilíbrio. É claro que não dá para fazer nada do ponto de vista social e de governança se o nosso meio ambiente, se o local onde nós vivemos estiver destruído. Mas dentro de todo esse contexto é certo que as diferenças de agenda vão surgir. Veja que a matriz energética brasileira é, hoje, 80% renovável. Quando você olha para outros países a situação não é essa, a geração de energia é muito baseada em combustíveis muito poluentes. Aqui já notamos uma diferença na agenda. Em contrapartida, temos, aqui no Brasil, um déficit de saneamento básico gigante. Isso afeta o meio ambiente, mas isso também afeta o S (de social). Os temas quase sempre se cruzam, importante termos isso na cabeça. Temos, somente na questão do saneamento, problemas graves de saúde e poluição dos rios, praias e manguezais. Abrindo um pouco mais você entra na questão econômica, já que o sujeito não consegue, por exemplo, pescar num ambiente como esse, e a região, por ser poluída, não irá atrair turistas. Então, as agendas são mesmo diferentes, afinal, os países são muito diferentes. O que precisamos fazer é coordenar esforços, aprender com que já fez esse mesmo serviço lá fora e buscar a convergência de soluções para que todos avancemos.
Muita gente acha que trata-se de uma pauta politizada e ideologizada. Tem isso mesmo? A polarização da política atrapalha a adoção dessas práticas?
É uma dificuldade, mas há boas alternativas. Veja que hoje nós temos dados para tudo. A questão ambiental é ciência pura. O que precisamos fazer é nos apegarmos aos dados, às informações que já estão aí e construirmos as agendas. Mesmo quando você entra no campo das pautas mais ideológicas, da polarização que tomou conta da sociedade em todo o mundo, é importante olhar para os dados. A reação é forte, temos que levar com firmeza e sempre com muito equilíbrio. Vejo extremismo dos dois lados, temos essa tendência, acho que o grande convite que está feito é para resgatarmos o diálogo e buscar uma centralidade. Há caminhos para conversarmos, avançarmos e mantermos uma convivência pacífica. É um trabalho muito forte de comunicação.
Trata-se de uma agenda que demanda investimentos. Empresas maiores, caso da Globo, conseguem fazer, mas as menores não. Como um pequeno ou micro empresário faz para adotar essas boas práticas? Como se adaptar?
Tamanho é importante, mas tem uma relativização. Demandas e necessidades são diferentes. Primeiro é importante saber onde você quer chegar. Qual é o tamanho da minha necessidade? A outra coisa é combinar esforços. A sua necessidade certamente é muito parecida com a necessidade de um vizinho. Juntem as forças. Acredito muito nessa força do conjunto, tem de ser buscada. Importante também diluir esse objetivo no tempo. Dê uma espaçada no investimento, isso pode ser o suficiente para que aquela necessidade caiba no seu bolso. Você também não precisa atacar tudo ao mesmo tempo. Bom frisar que boa parte das mudanças impostas por uma agenda ESG ficam em cima de controle e processos, que não demandam aportes vultosos. É uma questão muito mais de organização. Não poder fazer investimentos não pode servir de muleta para uma empresa não adotar a agenda. Olhe suas particularidades, defina um plano e encaixe isso no tempo. Reconheço que as dificuldades, de gente e dinheiro, são muitas, mas são barreiras que não podem nos imobilizar.
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