
"Faremos bilhões de reais em investimentos no Espírito Santo. Serão milhares de empregos gerados e muitos serviços a serem contratados. Se preparem, vamos precisar de mão de obra e serviços qualificados. É o maior recado, e preocupação, que tenho para passar para vocês". O aviso (e apelo) é do gerente geral da Petrobras no Espírito Santo, Guilherme Sargenti. Foi feito há poucos dias, no auditório da sede estatal em Vitória, para uma plateia de empresários e executivos do setor. A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, também há poucos dias e para uma plateia de empresários, disse que o grande desafio da estatal para colocar de pé o plano estratégico 2025/2029 é conseguir encontrar trabalhadores e empresas fornecedoras preparados para a empreitada de US$ 111 bilhões (quase R$ 650 bi).
A fala dos dois aponta para uma dor bem democrática. Vai da enorme Petrobras aos pequenos empreendedores. Quem deu uma pequena rodada, durante o verão, por restaurantes, bares e hotéis, e conversou sobre o andamento dos negócios com os proprietários, certamente ouviu a seguinte reclamação logo no começo do papo: "a mão de obra está muito difícil".
É claro que o fato de as taxas de desemprego estarem nas mínimas históricas - no Espírito Santo, fechou 2024 em 3,9% - ajuda a explicar um pouco do momento, mas a coisa vai além. A subutilização da força de trabalho (desocupados, pessoas que gostariam de trabalhar mais e trabalhadores em potencial) de 2024 ficou em 8,2% no Espírito Santo e em 16,2% no Brasil. Ou seja, há muita gente disposta a trabalhar, mas, apesar dos contratantes estarem atrás, não encontram emprego. A pergunta que fica é: o que está havendo?
Vamos a algumas das questões indicadas por que entende. A educação básica do Brasil é falha e, pior, está estagnada em um nível bem baixo. O último Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) mostrou um desempenho estável dos nossos alunos em matemática, leitura e ciências, ou seja, seguimos na parte baixa da tabela. Partindo de uma base mal construída, o trabalhador chega ao mercado com sérias dificuldades para entrar na operação (não estamos falando apenas da parte técnica, mas também dos executivos). O cenário fica ainda mais complicado em um contexto de aumento da velocidade da inovação e avanço rápido das novas tecnologias. Há um outro ponto, desta vez do lado psicológico: a ansiedade, principalmente entre os mais jovens, vem elevando muito a rotatividade e, claro, a sensação de escassez.
"Estamos vivendo um problema que é grave no Brasil, mas que está acontecendo no mundo todo: mão de obra e prestação de serviços escassos. Não é algo de simples solução, exige a participação da sociedade como um todo - governos, entidades, empresas, famílias e etc - e não é rápido. Além dos nossos tradicionais problemas, formação básica ruim e falta de técnicos, o contexto também desafia bastante. A tecnologia e os processos estão mudando muito e com muita velocidade, é um complicador. No curto prazo, precisaremos fazer parcerias para qualificar com assertividade e velocidade, além disso, temos de trazer as pessoas que estão à margem desse processo, que querem trabalhar, mas não sabem como entrar. É muita gente", assinalou o presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo, Paulo Baraona.
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