O analista político da XP Investimentos Paulo Gama passou por Vitória recentemente para um evento organizado pela Valor Investimentos. Como não poderia deixar de ser, sua fala foi uma das mais comentadas do evento. O que Gama mais faz e fará até outubro é analisar profundamente as pesquisas. Numa troca de ideias com a coluna, ele traça um cenário difícil para uma alternativa a Lula e Bolsonaro, a chave, segundo ele, é calibrar a comunicação:
Qual é o espaço da terceira via?
Há uma intuição, quando a gente olha para as altas rejeições de Lula e Bolsonaro, que existiria um espaço para a construção da chamada terceira via. No entanto, o que observamos é que a intersecção entre as duas rejeições não é muito forte. O eleitor que rejeita o Lula vota no Bolsonaro e o que rejeita Bolsonaro vota no Lula. O conjunto dos eleitores que rejeita os dois, que é quem poderia abrir espaço para a segunda via, não é tão alto. Já foi de 16% e hoje está em 8%, ou seja, é estreito o espaço para a terceira via caso não ocorra algo extraordinário.
E o Ciro?
É o que, fora Lula e Bolsonaro, mais bem pontua. Mas é um candidato que precisaria mais de um voto que vem do Lula do que de um voto que vem do centro, e o Lula parece muito bem consolidado.
Embora o cenário não seja muito bom para eles, algum candidato de centro virá. O que precisará fazer para ser competitivo?
O que a gente captura nas pesquisas qualitativas e quantitativas é que o eleitor quer alguém que se mostre capaz de resolver os problemas econômicos. Alguém que consiga vender ao eleitor a imagem de que ele tem experiência e capacidade suficientes para resolver o problema de bolso. O eleitor não parece disposto a topar uma aventura ou novidade como foi em 2018. A eleição de 2022, ao que parece, é uma eleição de quem já se mostrou capaz de resolver os problemas da economia. Esse candidato de terceira via precisaria surgir se mostrando capaz, histórico de realizações e que conseguisse não absorver rejeição. O que vemos hoje, por exemplo, é um candidato como o João Doria que, apesar de ter feito um bom governo em São Paulo, saiu de lá com uma aprovação relevante, tem uma rejeição pessoal muito forte. Vai ter que trabalhar isso. O ponto é ter o que mostrar e rejeição baixa.
E como conectar o discurso aos anseios da população?
É o principal ponto, conseguir criar uma onda de comunicação que conecte com a população. O que nenhum dos candidatos (da terceira via) conseguiu até agora. Essa onda é fundamental, precisa casar com o histórico de resolução de problemas e com a baixa rejeição.
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