Não se pode dizer que foi uma surpresa, mas o impacto da notícia de que a Ecorodovias, dona da Eco 101, decidiu devolver o trecho da BR 101 que corta o Espírito Santo para o governo federal ainda vai demorar para ser digerido pelo setor produtivo do Espírito Santo. A coluna conversou, em reserva, com alguns dos mais relevantes empresários e executivos do Estado. A perplexidade toma conta. Um deles disse que a volta da 101 para o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) é um desastre para o Estado.
Quase todos já imaginavam que este poderia ser um dos desfechos, mas, como em qualquer situação em que o desfecho caminha para ser muito ruim, havia uma torcida para que a situação se resolvesse, o que acabou não acontecendo. A avaliação é de que a infraestrutura logística capixaba retrocede bastante. "Temos um gargalo ferroviário que não anda, a BR 262 é uma grande interrogação, afinal, o governo disse que vai tocar a obra, e agora temos esse retrocesso na 101, que é a nossa mais relevante rodovia. Voltamos ao estado de isolamento", lamentou um importante representante da indústria capixaba.
Os empresários entendem que havia problemas na concessão e não estavam 100% satisfeitos com a Eco 101, mas entendem também que pelo menos era uma luz no fim do túnel, afinal, obras relevantes foram feitas pela concessionária (viadutos em Viana e duplicação até Guarapari entre elas) e a rodovia estava minimamente bem conservada, o que não acontecia na época do Dnit. Além disso, a Ecorodovias é uma das grandes do mercado, ou seja, havia margem para costurar uma solução.
"O governo concede, mas não garante as condições mínimas para o concessionário operar. As licenças são fundamentais para que um projeto desta magnitude rode. Cada intervenção demanda uma demanda social, um atendimento de interesse regional, uma compensação ou condicionante... O caso do trecho Norte, em Sooretama, é emblemático. Muito ruim para nós capixabas. Reflete bem a confusão institucional que nosso país está vivendo", assinalou um executivo.
Não há muita esperança de que o imbróglio se resolva rápido e a quase certeza é de que o Espírito Santo vai perder um tempo precioso. A expectativa das lideranças é de que o revés pelo menos sirva lição para algumas situações que consideram muito ruins:
1. Contrato de concessão de baixa qualidade: premiava o menor preço de pedágio, não tinha instrumentos de bonificação para acelerar as obras e ancorava os projetos em cima de financiamento público, via BNDES;
2. Pouca interlocução do Estado em Brasília, que, para o empresariado, não é de hoje.
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