Desde 2016 que a produção de petróleo e gás natural no Espírito Santo encolhe. As perspectivas para os próximos cinco anos - com a chegada da nova plataforma da Petrobras no Parque das Baleias, com a ampliação da produção em terra e com o início das operações da PRIO no campo de Wahoo (extremo Sul do Estado) - são boas, mas o maior desafio está em fazer este ecossistema gigantesco, que responde por 40% da indústria capixaba, se manter robusto no longo prazo.
Diante do fato de que apenas uma fatia marginal do pré-sal (a grande fronteira de produção da indústria de óleo e gás no país) está no nosso litoral, o Espírito Santo terá de usar outros argumentos de atração. O principal deles deve ser a infraestrutura de processamento e distribuição de gás natural já montada por aqui e que hoje está subutilizada. As unidades de tratamento que a Petrobras construiu, na primeira década dos anos 2000, em Linhares e Anchieta estão com ociosidade que supera os 80%. Juntas, têm capacidade para processar 20,6 milhões de m³ de gás por dia. Também não está na plena capacidade o Gasoduto da Integração Sudeste-Nordeste (Gasene), que corta todo o Estado, de Norte a Sul.
O governo do Estado tem mantido conversas com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, para que este ativo volte a ser aproveitado pela empresa. "Foram colocados bilhões em unidades de processamento e gasoduto. Não faz o menor sentido toda essa infraestrutura estar nos atuais níveis de ociosidade. Temos produção de gás no litoral do Estado, o mercado está demandando gás e nós não estamos usando a infraestrutura já montada para colocar isso na rede. Precisamos encontrar uma alternativa, estamos em debate com a Petrobras, é um ativo importante para a economia do Estado", argumenta o vice-governador e secretário de Estado de Desenvolvimento, Ricardo Ferraço.
Na avaliação do CEO da EnP Energy, Márcio Félix Bezerra, que foi gerente-geral da Petrobras no Espírito Santo e secretário de Estado de Desenvolvimento, o gás é uma grande alternativa. "O pré-sal é tão maravilhoso, tão espetacular, que é difícil atrair a atenção. É um cenário desafiador para o Espírito Santo, sem dúvida, mas há uma vantagem competitiva. O Espírito Santo tem plantas de processamento de gás com capacidade disponível e tem gasodutos com capacidade disponível. A infraestrutura para quem quer investir em gás natural está dada. O gás produzido no mar do Norte do Estado vai para Cacimbas (unidade de tratamento que fica em Linhares) e entra no sistema pelo Gasene. Ou seja, rapidamente o gás é extraído e já entra em um sistema de gasoduto que vai para os grandes centros consumidores do país. Indo além, pode ir também para Minas Gerais por ferrovia, como gás liquefeito. O Espírito Santo é um trampolim para quem descobre gás".
Mas ele alerta para os desafios. "Mas precisa de mais atividade exploratória. Importante fazer um trabalho com as empresas que atuam na atividade de exploração e produção atentando para todos esses ótimos fatores que estão aqui dentro e subutilizados. Tem que buscar empresas como Petronas (Malásia), Eni (Itália) e CNOOC (China), que possuem ativos no litoral capixaba, e mostrar isso. É um trabalho que é da ANP, mas a ANP vende o país todo. Importante o governo e entidades capixabas também fazerem esse trabalho. A valorização do gás natural, a ampliação espaço do combustível dentro da matriz energética vai fazer com que os projetos tornem-se mais atrativos aos investidores", assinalou Márcio Felix.
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