Em meados de 2023, a expectativa era de que a taxa básica de juros no Brasil, a Selic, estivesse, hoje, beirando os 9% ao ano. Os mais otimistas falavam até em algo perto de 8% ao ano. A realidade, entretanto, mostrou-se muito mais dura: a Selic está em 11,25% e, diante da pressão inflacionária, há quem espere que chegue aos 13% ao ano, ainda mais diante do interminável debate sobre o ajuste das contas públicas. Uma verdadeira ducha de água gelada em cima de setores que dependem de crédito alongado para fazer a coisa andar.
O mercado imobiliário, sem a menor sombra de dúvidas, é um dos mais atingidos por este choque de juros que o Banco Central está impondo. As consequências dele ainda estão sendo mapeadas. É certo que haverá uma esfriada nas compras e, consequentemente, nos lançamentos, portanto, a roda vai girar mais devagar em um dos setores que mais empregam e movimentam a economia. Mas qual será o tamanho disso? Ainda é uma interrogação.
"Tínhamos, há alguns meses, a expectativa de taxas menores, mas a coisa mudou, portanto, teremos um ano mais desafiador para a construção civil, mas ainda é difícil mensurar o tamanho disso. Creio que o governo fará de tudo para manter a velocidade do Minha Casa Minha Vida, que influencia muito o segmento mais econômico, mas vejo um impacto negativo bastante relevante no segmento de médio padrão, que depende muito dos juros praticados pelo mercado", analisa Eduardo Fontes, presidente da Associação Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi) do Espírito Santo.
Leandro Lorenzon, vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) no Estado, faz análise semelhante. "Sem dúvida haverá um impacto, mas com efeitos diferentes. No mercado de luxo vejo pouco impacto, foi o que vimos nos último ciclo de alta das taxas (entre 2021 e 2023). Não depende de crédito, se o produto for bom, vai ter mercado. O mercado de médio/alto sofre bastante, aliás, já vem sofrendo e a tendência é de que sofra mais ainda. Além de depender de financiamento, a renda dele também sofre bastante com a alta da inflação, já que o salário não é reposto na mesma velocidade. Trava o mercado deste segmento como um todo", pondera.
Sobre o mercado econômico, apesar de ser muito vinculado ao Minha Casa Minha Vida, Lorenzon enxerga problemas. "O programa recebe muito dinheiro que vem da poupança, com a alta dos juros a poupança deixa de ser atrativa como investimento, ou seja, o fundo que banca o programa fica prejudicado".
Na visão do dirigente, a grande incógnita do mercado de luxo está no lado da demanda. "Tivemos um bom início de década no segmento, apesar dos juros, porque havia uma demanda enorme reprimida desde a crise de 2015. Não sabemos qual é a demanda atual, é a grande incógnita. O mundo ideal é que os juros voltem a cair de maneira sustentada. Precisamos de gastos públicos ajustados dentro das receitas, inflação controlada, juros baixos, crescimento e emprego, é isso que impulsiona o setor de verdade".
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