Ricardo Campos, gestor da Reach Capital, esteve no Estado na terça (21) e na quarta (22) da semana passada, numa extensa agenda de reuniões com investidores organizada pela Valor. Afirmou que há uma boa oportunidade na bolsa de valores, com ações a preços muito depreciados. "Mesmo que dê uma balançada no curto e médio prazos, vai valer a pena".
Claro, também falou sobre eleições. Na visão dele, muita gente dá um peso exagerado ao pleito e diz não enxergar uma ruptura econômica. "O Bolsonaro, se reeleito, continuará, do ponto de vista econômico, com essa agenda que está posta, com mais protagonismo do Congresso. Caso o ex-presidente Lula vença, haverá uma pauta mais alinhada aos trabalhadores e sindicatos, mas vemos um governo alinhado com os interesses do país, sem o revanchismo que muitas pessoas imaginam".
Preocupação de fato, só se os juros nos Estados Unidos superarem os 4% ao ano. "Se o juro americano chegar a 5% ou 6%, sofreremos bastante, nossa dívida começa a ficar complicada e puxa o mundo para baixo".
Quais são as perspectivas para 2023? Muito se fala até de uma recessão nos Estados Unidos, o quanto isso impactaria no Brasil? Qual o nosso nível de aderência ao cenário internacional?
O cenário americano é um pouco mais complicado que o cenário local. Eles fizeram uma política fiscal muito mais agressiva que a nossa, colocaram muito mais dinheiro na economia. Então, o Brasil está numa situação fiscal mais tranquila, fazendo superávit primário, um crescimento que tem surpreendido para cima, puxado pelas commodities. Muita gente falava de PIB zero em 2022, nós acreditamos em 2%, o que ajuda muito, torna a trajetória da dívida mais estável. Isso facilita mantermos esse processo de contratar pessoas, ampliar mercado de trabalho e estabilizar a inflação, já que aumentamos os juros mais rápido que nos Estados Unidos. Creio que no próximo ano iniciaremos um processo de queda das taxas de juros no Brasil, já observamos um início de processo de queda na inflação.
Qual é o peso da eleição no Brasil neste cenário?
É um peso menos importante do que a maioria das pessoas coloca. Claro que você pode ter uma preferência ou outra, mas entendemos que o Bolsonaro, se reeleito, continuará, do ponto de vista econômico, com essa agenda que está posta, com mais protagonismo do Congresso. Caso o ex-presidente Lula vença, haverá uma pauta mais alinhada aos trabalhadores e sindicatos, mas vemos um governo alinhado com os interesses do país, sem o revanchismo que muitas pessoas imaginam.
Então você não enxerga qualquer possibilidade de ruptura?
Não enxergo uma ruptura.
Ricardo Campos
Reach Capital
"O Brasil está numa situação fiscal mais tranquila, fazendo superávit primário, um crescimento que tem surpreendido para cima, puxado pelas commodities. Muita gente falava de PIB zero em 2022, nós acreditamos em 2%"
Vamos seguir falando um pouco de inflação aqui no Brasil. Banco Central e Planalto estão jogando no mesmo time?
Olha (risos)... não. Está cada um remando para um lado (Banco Central aumentando juros para tirar dinheiro de circulação e o governo federal colocando dinheiro para circular de diversar maneiras). Mas não dá para imaginar que seria muito diferente, ainda mais num momento de batalha eleitoral tão forte. Óbvio que não deveria ser assim, existem leis que impedem aumentar gastos dessa maneira em ano eleitoral, mas é o que é... temos de conviver com essa realidade. O Banco Central está fazendo o que deve fazer para atingir as metas dele.
Da maneira como está o superávit primário é sustentável ou só temos esse saldo final positivo por conta da inflação?
Como está hoje, por conta de inflação e preços de commodities, ele não é sustentável. Porém, não vai ficar horrível caso o Brasil volte a crescer entre 2% e 2,5%.
O problema é que há uma década crescemos, na média, 1%...
Até menos que isso. Nós temos que ter a volta dos investimentos, a volta da produção... temos algumas boas notícias encaminhadas. Só de contrato assinado de obras de infraestrutura para os próximos anos chega a R$ 1 trilhão.
Ricardo Campos
Reach Capital
"Óbvio que não deveria ser assim, existem leis que impedem aumentar gastos dessa maneira em ano eleitoral, mas é o que é... temos de conviver com essa realidade"
Que nível de juros nos Estados Unidos você enxerga como razoável para que os impactos por aqui não sejam tão violentos?
Creio em 4% ao ano, que é o que as casas de lá estão imaginando, mesmo as mais conservadoras. O problema é, caso a inflação por lá não caia, os juros tenham de subir mais. Aí poderemos ter uma recessão global. Se o juro americano chegar a 5% ou 6%, sofreremos bastante, nossa dívida começa a ficar complicada e puxa o mundo para baixo. O crescimento da China, que ela pode vir a estimular, fica menos importante. Aí sim o Brasil começa a ter problemas mais sérios.
O cenário é desafiador. O que investidor faz?
Diversificar é sempre o ideal. Você compra uma ação com R$ 50. O investimento mínimo de muitos fundos, inclusive o nosso, é de R$ 500. A bolsa brasileira está barata, pode cair no curto e médio prazos, mas para um cenário mais longo, de cinco anos, são boas as perspectivas. A bolsa brasileira está barata se levar em consideração o dólar e também a inflação. Estamos bem longe das máximas históricas. Ótimas empresas bastante descontadas.
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