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O PIB e o voo da galinha: precisamos olhar com atenção para os investimentos

A economia teve um desempenho forte em 2024, mas, diante do descontrole das contas públicas e dos juros em alta, os investimentos já estão sendo freados e, sem eles, não há horizonte positivo

Publicado em 08/03/2025 às 03h50
Trabalhador na obra de demolição na cabine do pedágio da terceira ponte
Operário trabalha em obra em Vitória. Construção cresceu forte em 2024. Crédito: Ricardo Medeiros

O Brasil fechou 2024 com um número, para os nossos padrões, bastante interessante de crescimento de PIB (Produto Interno Bruto): 3,4%. Trata-se do quarto ano consecutivo de avanço acima dos 3%, o que não acontecia desde a primeira década dos anos 2000. Números expressivos, sem dúvida, mas é importante olharmos e lembrarmos de alguns detalhes. Boa parte da expansão dos últimos tempos deve-se à ociosidade causada pela pior recessão da história econômica do Brasil, na segunda metade da década passada, e pelo desastre provocado pela pandemia, destacadamente no primeiro semestre de 2020. Só no ano passado o país conseguiu superar a renda per capita alcançada em 2013 (você não leu errado: 2013!).

Para continuarmos a crescer neste patamar, o desejável para um país de renda média como o nosso, só há uma alternativa: investimento. É aqui que, há muitos anos (décadas), reside o problema brasileiro. No ano passado, eles cresceram 7,3%, a maior alta desde 2021. Mas observe que a coisa não engrena. Em 2023, houve uma queda de 3%, mesmo depois da pífia segunda metade da década passada e da pandemia. Diante de mais vindas do que idas, os investimentos, em 2024, ficaram em 17% do PIB, sendo que o ideal para um avanço sustentado acima dos 3% é ficar em, pelo menos, 22% do PIB.

Chama a atenção o fato de, no primeiro trimestre do ano, os investimentos terem avançado 4,4% e, após freadas em sequência, terem fechado em 0,4% de expansão. Se fizermos um paralelo com as expectativas do setor produtivo, veremos que o freio nos investimentos é inversamente proporcional à valorização dólar em relação ao real e, fundamentalmente, ao início das altas nas taxas de juros impostas pelo Banco Central. É um círculo vicioso: sem investimento, não há capacidade nova de produção e, sem produção nova, temos inflação. O Banco Central sobe os juros e, como consequência, trava os investimentos. Não saímos disso há muito tempo.

Preste atenção nessa sequência: o Brasil volta a crescer em 2021; o BC começa a baixar juros (depois do surto inflacionário provocado pela pandemia), em agosto de 2023, e volta a subir novamente pouco mais de um ano depois. Os agentes financeiros, na média, apontavam que a taxa Selic estaria na casa dos 9% ao ano no final de 2024. Fechou em 12,25% e há quem diga que chegará aos 15% ou mais. Claro que o cenário externo atrapalha, mas o Brasil tropeça demais nas próprias pernas. Sem uma âncora eficiente para o endividamento brasileiro, ou seja, para conter os gastos do Estado brasileiro (que, após ficar praticamente estável entre 2015 e 2022, voltou a subir em 2023, desde a volta de Lula ao poder), o dólar, a inflação e os juros seguirão pressionados. Aliás, bom frisar, não é só reduzir a gastança, mas melhorar a qualidade do dispêndio.  

A gigantesca parte dos investimentos é feita pelo setor privado. Um empreendedor - do micro ao gigante - só tira o recurso do bolso ou toma a decisão de buscar um financiamento se tem a confiança de que terá retorno. Com o juro deste tamanho, a confiança precisa ser enorme... Difícil com uma economia que tem muitas dificuldades para engrenar (pelas contas da Fazenda, o PIB deve ser de 2,3% em 2025). Aqui temos algumas questões, umas ligadas intimamente aos negócios e outras mais amplas como, por exemplo, um Estado de mais qualidade. Governos federal, estaduais e municipais, passando pelos poderes Legislativo e Judiciário, têm o dever de dar previsibilidade à sociedade. O Brasil, com algumas honrosas exceções, vem pecando nisso aí há algum tempo. O Estado brasileiro vem sendo, em grande parte, um vetor de volatilidade. Ou corrigimos a rota ou será complicado sairmos desse círculo vicioso, desse interminável sobe desce de um voo de galinha. 

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