O engenheiro Márcio Felix Bezerra é um dos maiores conhecedores da indústria de petróleo e gás no Brasil. Hoje, ele é o CEO a EnP Energy - empresa independente de petróleo que tem, além do próprio Márcio Felix, os grupos Águia Branca e Imetame na sociedade -, mas já ocupou cargos como de gerente-geral da Petrobras no Espírito Santo, secretário de Desenvolvimento do Estado e secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia.
Além de comandar a EnP, o executivo preside a Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo (ABPIP). As empresas independentes ou 'júnior oils' são a maior novidade do setor dos últimos tempos. No Espírito Santo, onde a Petrobras vendeu toda a sua estrutura em terra (nos municípios de Linhares, Jaguaré, São Mateus e Conceição da Barra), a expectativa é de que essas companhias consigam mais do que triplicar a produção na região.
"Muitas vezes falamos de um poço do pré-sal produzindo 50 mil barris por dia ou mais, aí, quando vamos ver um poço em terra, está produzindo cinco barris por dia. Isso não é pouco. Para uma gigante, não faz sentido, mas para uma companhia menor, mais ágil, passa a fazer sentido investir. É assim nos Estados Unidos, no Canadá e também no México, onde a produção em terra é mais forte que a produção no mar. Portanto, o onshore (em terra) é uma fronteira pouco explorada no Brasil".
Conversamos com ele para saber onde essa nova onda pode nos levar.
Produtores independentes de petróleo ou 'júnior oils', que nova categoria de empresas é essa que está surgindo no Brasil e no Espírito Santo?
Muita gente tem essa dúvida e é bom explicarmos. As empresas de petróleo são classificadas em algumas categorias. Temos as 'major oil', que são as gigantes do porte de Shell, ExxonMobil, Total, BP... Temos as companhias estatais, as 'nacional oils', onde estão companhias como Petrobras, PDVSA e Saudi Aramco, que é a maior empresa do mundo. E temos também as independentes, as 'junior oils', que são menores, claro, para os grandiosos padrões da indústria de óleo e gás. Toda a atividade delas está concentrada em exploração e produção, ou seja, não entram em atividades como distribuição, petroquímica e refino. Para termos uma ideia do poder desse mercado, nos Estados Unidos, são cerca de 9 mil empresas independentes. Boa parte da produção gigantesca dos Estados Unidos vem desses, muitas vezes, micro produtores. No Texas, em terra, chegou-se a produzir quase 5 milhões de barris de petróleo por dia em 200 mil poços. Ou seja, uma média, por poço, de 25 barris/dia, uma produção mínima. É uma enorme quantidade de empresas independentes, compondo um ecossistema com uma produção gigante, tocando operações que não seriam comercialmente viáveis para as empresas de grande porte. Hoje, no Brasil, temos algo perto de 30 independentes, portanto, há muito para crescer.
Qual o potencial desse movimento para mudar um mercado, caso do brasileiro e do capixaba, que sempre foi puxado pela Petrobras?
O caso do Texas é eloquente. Muitas vezes falamos de um poço do pré-sal produzindo 50 mil barris por dia ou mais, aí, quando vamos ver um poço em terra, está produzindo cinco barris por dia. Isso não é pouco. Para uma gigante, não faz sentido, mas para uma companhia menor, mais ágil, passa a fazer sentido investir. É assim nos Estados Unidos, no Canadá e também no México, onde a produção em terra é mais forte que a produção no mar. Portanto, o onshore (em terra) é uma fronteira pouco explorada no Brasil. Tivemos uma primeira expansão empurrada pelos desinvestimentos da Petrobras, que está chegando ao final, e temos o caminho de crescimento pela exploração de novas áreas. Já temos independentes atuando em novas bacias de nova fronteira, em São Paulo e Mato Grosso do Sul, por exemplo. O caminho é esse. Falamos muito de onshore, mas já há empresas atuando também no offshore, que é mais caro, mas também é um caminho.
Qual é o tamanho desse mercado aqui dentro do Espírito Santo? Hoje, nossa produção em terra não chega aos 10 mil barris/dia, fala-se em chegarmos aos 30 mil nos próximos cinco anos. Até onde isso pode ir?
É uma transformação colocar empresas como Seacrest, Imetame, Vipetro e outras para operar dentro do Estado. São empresas menores e que estarão muito mais próximas da produção, vão no detalhe. A dedicação ao ativo é maior. "Será que estamos na nossa máxima eficiência". "Será que estamos com um bom fator de recuperção?". São detalhes que as gigantes olham, mas não vão ao máximo. Detalhes que são fundamentais para as menores, o resultado disso é um aumento de produção como um todo. Por isso que teremos uma ampliação tão grande em tão pouco tempo. A tendência é isso se espalhar e perenizar. Temos um bom ambiente aqui no Espírito Santo para chegarmos a esses 30 mil barris/dia e para enfrentarmos o desafio de manter este patamar por 10, 20 anos. Não vejo como saltarmos para uma produção, em terra, de 50 mil ou 100 mil barris por dia. Claro, pode haver uma descoberta, mas não está no horizonte agora.
E o que muda para os fornecedores?
Importante falarmos disso. Os fornecedores estão acostumados com os cadastros e as rodadas de negócio da Petrobras. Mas as empresas que estão chegando não são a Petrobras. Vai ser preciso conversar e oferecer o seu serviço, é uma relação diferente. As empresas capixabas, já acostumadas com Vale, Suzano, Arcelor e outras, têm a vantagem de já trabalharem também fora do Estado. Virá uma onda de demanda das independentes, vai ser importante essa experiência fora do Espírito Santo. É um espaço que se abre. Mas é importante ter um comercial, participar das feiras, visitar as empresas... É como se fosse um caixeiro-viajante, tem que vender o seu produto, não basta apenas se cadastrar e esperar.
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