A produção global de petróleo no Espírito Santo só faz encolher desde 2016. A queda é puxada pelo pé no freio que a Petrobras colocou nos investimentos no litoral do Estado nos últimos anos. O foco da estatal é no pré-sal - praticamente tudo está em Rio e São Paulo. Mas algumas boas novidades surgem no horizonte. Desde meados da década passada a Petrobras começou a vender uma série de ativos, entre eles, os campos em terra (onshore) que possui em grande parte do Brasil, entre eles, os do Norte capixaba.
Empresas, daqui e de fora, aportaram bilhões de reais nas aquisições e colocarão mais uma grana, também na casa dos bilhões, na exploração. A expectativa de Rafaele Cé, presidente da Rede Petro ES (associação que reúne fornecedores de bens e serviços para o setor de óleo, gás e energia), é de que a produção em terra capixaba, que hoje não passa de 10 mil barris/dia, alcance os 30 mil barris em três anos. "Temos uma expectativa muito boa justamente pela entrada das operadoras independentes no mercado de óleo e gás".
Na próxima quinta (09), Rede Petro e Sebrae promovem o Seminário de Óleo e Gás no Norte Capixaba, em São Mateus. O objetivo é debater este novo cenário e apontar as oportunidades.
Nos últimos anos, a produção em terra de petróleo no Norte do Estado foi marcada pela saída da Petrobras e pela entrada de empresas privadas, menores e, muitas delas, novas no setor. O que virá daqui para frente? As perspectivas são boas?
Temos uma expectativa muito boa justamente pela entrada das operadoras independentes no mercado de óleo e gás. O cenário ainda é muito recente, mas temos muita gente interessada e algumas operadoras com mais de 20 anos de mercado vindo para cá. São empresas que iniciaram suas atividades no começo dos anos 2000, ganharam experiência e, agora, viram uma grande oportunidade com essa onda de desinvestimentos da Petrobras. Essas companhias e outras mais novas estão ampliando fortemente seus investimentos em exploração.
Qual é o tamanho dessa ampliação de investimentos?
No pico de sua produção onshore (em terra) no Norte do Espírito Santo, em meados da década passada, a Petrobras produzia entre 10 mil e 12 mil barris de petróleo por dia. Hoje, com a Petrobras e demais empresas, estamos falando de uma produção de 7 mil a 8 mil barris/dia no Norte do Estado. A Seacrest (empresa norueguesa que comprou os pólos Norte Capixaba e Cricaré) já disse que pretende triplicar a produção dela. Nós estimamos que, as operadoras tendo sucesso em sua empreitada, essa produção pode avançar para 20 mil a 30 mil barris/dia no onshore capixaba.
Em que prazo?
Depende muito das liberações por parte dos órgãos reguladores, mas todos (investidores e fornecedores) falam em três anos.
Quanto precisará ser feito de investimento, até 2026, para que essa projeção saia do papel?
É alto. Principalmente na fase de perfuração, afinal, vai ter que fazer muita perfuração para encontrar novos poços e ampliar a produção. São investimentos bilionários.
Qual é o impacto de tudo isso na economia local?
Acho que temos um contexto interessante com a chegada dessas novas empresas. A Petrobras é gigantesca, para você, pequeno e médio, conseguir um contrato com a Petrobras é muito trabalhoso. Apesar de pequeno, você precisa manter uma estrutura para conseguir estabelecer esses contratos. A chegada dessas novas empresas, privadas e menores, simplificam muito esse processo e o deixa mais próximo das empresas ali da região. Processos que antes a Petrobras contratava com empresas do Rio, São Paulo, Brasília, agora acreditamos que serão feitos diretamente com as empresas locais. Vai ser tudo mais próximo.
Diante de tudo isso, podemos concluir que a saída da Petrobras do Norte capixaba é uma boa.
Sob o meu ponto de vista, sim. As empresas do Norte, com potencial para serem fornecedoras do setor de óleo e gás, serão positivamente impactadas. Quando chegarmos a essa produção de 30 mil barris/dia, as petroleiras estão faturando, mensalmente, na casa do bilhão. Se 30% disso for deslocado para o entorno, estamos falando de R$ 300 milhões de pulverização em forma de serviços contratados na região.
O Ministério de Minas e Energia solicitou que a Petrobras interrompesse a venda de ativos por 90 dias. Como viram essa medida? Muitos desses ativos são justamente pequenos campos que a estatal não tem mais interesse.
Traz apreensão. É um fato novo, não era esperado. Nos posicionamos a favor do cumprimento daquilo que já havia sido combinado.
Temos boas perspectivas em terra, mas a produção de óleo e gás no mar do Espírito Santo, que é esmagadoramente a maior parte do volume, só faz cair nos últimos anos por conta do foco da Petrobras no pré-sal. Qual é o cenário para os fornecedores locais?
Embora o produto produzido seja o mesmo, petróleo, os mercados onshore e offshore são muito diferentes. São serviços e fornecedores bem diferentes. Acreditamos que as empresas capixabas estão mais preparadas para o onshore. O offshore tem mais relação com o Rio de Janeiro. Um impulsionador da atividade de fornecimento offshore para o Espírito Santo seria o estabelecimento de uma base operacional por aqui, um porto que trabalhasse com logística de offshore dentro do Estado. Os portos operacionais da Petrobras estão no Açu (Norte do Rio) e em Macaé. É um dificultador.
Ao mesmo tempo que o governo Lula manda interromper o desinvestimento da Petrobras ele promete ampliar fortemente os investimentos tocados diretamente pela estatal. Qual será o saldo disso aí?
Tem muita coisa aí, vamos separar. Na parte de exploração, a Petrobras já está envolvida em praticamente todos os projetos, principalmente no pré-sal, já que ela, mesmo perdendo o leilão, pode exercer o direito de ser a operadora principal. Já está em muita coisa na parte exploratória. A intenção da Petrobras é chegar a uma produção diária, em 2030, de 5,5 milhões de barris, é dobrar o que ela faz hoje. É muita coisa. Na parte de exploração eu acredito que a Petrobras está no limite. No onshore eu acho que não há viabilidade econômica para a Petrobras. É muito pequena para os padrões dela e o custo é mais elevado. Portanto, está correta em focar no pré-sal, onde tem muita expertise, custo de produção mais baixo e óleo de excelente qualidade. Sobre as refinarias, as que nós temos hoje não estão adequadas ao óleo do pré-sal (foram feitas para um petróleo mais pesado). Por isso, o movimento é de mandar o óleo do pré-sal para fora, a um custo mais baixo, e voltar com esse produto refinado. Investir em refinaria teria um impacto, digamos, mais social do que no negócio da empresa. Se pensar em rentabilidade é melhor mandar para fora e trazer de volta. Mas é claro que a construção de uma refinaria desenvolve a região escolhida, é o que chamo de impacto social.
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