Na última segunda-feira (31), dois novos nomes, de fora do Estado, assumiram assento no Conselho de Administração do Bandes: Carlos Emmanuel Joppert Ragazzo e Andrea Pereira Macera. Os dois possuem larga experiência no exterior e em Brasília. A entrada deles faz parte de uma estratégia do governo do Estado de dar mais força e oxigênio ao banco estadual de desenvolvimento. A vinda do ex-secretário do Tesouro Nacional Marcelo Saintive para a presidência da instituição, no começo do ano, faz parte do pacote.
Em sua primeira vinda a Vitória no novo cargo, Andrea Pereira Macera, trocou uma ideia com a coluna. Ela ocupou diversos cargos nos ministérios da Economia, Indústria e Comércio Exterior e na Câmara de Comércio Exterior (Camex). Atuou em políticas de concorrência (antitruste), de comércio exterior e de apoio ao setor produtivo. A executiva possui larga experiência no desenho, negociação e implementação de políticas públicas e marcos regulatórios.
Andrea quer contribuir para ampliar a produtividade local, para disseminar os conceitos da agenda ESG e para tornar o Bandes um estruturador de projetos que atraiam a iniciativa privada.
Que papel um banco estadual de desenvolvimento deve ter?
Deve sempre ter um olhar para a estrutura produtiva de uma economia e observar como ela vem evoluindo ou retrocedendo ao longo dos anos. Hoje, olhando para o macro, temos uma indústria da transformação que tem uma participação cada vez menor no PIB, uma exportação de manufaturados que cada vez mais perde relevância no cenário mundial e uma produtividade que é decrescente. Um olhar sobre esse conjunto é fundamental. O mais grave de tudo é a questão da produtividade, o Brasil não consegue evoluir nisso. É um grande problema de competitividade da estrutura produtiva brasileira, que se reflete na competitividade do Brasil como um todo.
Como que o Bandes deve atuar para ajudar a solucionar a questão da produtividade aqui no Estado?
Uma das ferramentas principais para o aumento da produtividade é o uso de tecnologia. O apoio do Bandes à transformação digital do setor produtivo é fundamental. A instituição precisa ajudar a fomentar o uso de mais tecnologia nos processos de produção e também na vida do cidadão. Falo de linhas de crédito focadas no processo de transformação digital. Mas não é só isso, temos de trabalhar em camadas, observando as necessidades de cada tipo de empreendedor. Os micro e pequenos talvez precisem de ferramentas de gestão e estruturação de processos. Nesses casos, a transformação pode se dar no uso adequado das redes sociais para comercializar a produção daquele pequeno empreendimento. No caso das médias e grandes, estamos falando de tecnologia de fronteira, inteligência artificial, blockchain (banco de dados avançado) e outras tecnologias mais avançadas. O fato é que é preciso um esforço para isso. Muitos empresários, até por desconhecimento, afinal, as mudanças são muitas, ficam na dúvida dos benefícios de se fazer um investimento muitas vezes alto em tecnologia.
O presidente Marcelo Saintive quer trazer dinheiro com juros mais baixos, inclusive de fora, para financiar projetos com forte pegada ESG. Isso muda de que forma o cenário para as empresas locais?
O ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) tornou-se uma exigência global. A questão é que várias empresas dizem que adotam as práticas, mas como definir isso? É importante termos clareza sobre o que estamos falando, talvez desenvolver uma metodologia relativamente comum. Este é um grande desafio. Quando uma instituição como o Bandes fornece uma linha de crédito específica para quem adota a agenda ESG, ela está incentivando a adoção dessas práticas por parte das empresas. Ao adotar essas práticas a empresa incorpora mais um pilar de competitividade, é um elemento, por exemplo, muito importante para quem quer exportar a sua produção. Além de tudo, é um crédito mais barato.
Cada vez mais os bancos de desenvolvimento, o BNDES fez muito isso nos últimos anos, desenham projetos, dentro do poder público, para atrair a iniciativa privada. Falo de concessões, PPPs, privatizações... O Bandes pode avançar de que forma nessa área?
Acho que essa é uma perna que falta um pouco ao Bandes, a de estruturador de projetos para começar a oferecer bons produtos ao setor privado. Temos o caso do saneamento, setor que tem um enorme desafio de universalização até o início da próxima década. Parcerias com empresas podem e devem ser feitas nessa área. O banco precisa se capacitar para isso. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tem essa expertise e tenho certeza que ajudará a construir essa expertise por aqui.
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