O fundador e ainda sócio da Wine, Rogério Salume, está preocupado com os rumos que vêm sendo dados à empresa. A situação chegou ao ponto de, no final de julho, ele procurar a Justiça para suspender a assembleia geral extraordinária marcada para 1º de agosto. Em decisão liminar, o Tribunal de Justiça do Espírito Santo reconheceu as razões apresentadas e suspendeu a reunião em que participariam membros do Conselho de Administração e acionistas da companhia. Salume reclama do valor estabelecido pelo Conselho de Administração da Wine à própria empresa. Segundo ele, o preço é muito inferior ao estabelecido em avaliações anteriores feitas por especialistas, por isso, solicitou a participação de uma empresa independente e especializada no processo.
A assembleia deliberaria sobre um aumento de capital no valor de R$ 131,6 milhões. Seriam emitidas 22,11 milhões de ações ordinárias no valor de R$ 5,95, que seriam subscritas pela Cantu Holding de Participações, credora da Wine em razão de uma escritura de emissão de debêntures emitida em agosto de 2021.
Debêntures são títulos de crédito emitidos por empresas. Quando elas são conversíveis em ações, podem ser trocadas por ações da companhia emissora. No lugar de devolver o dinheiro dos investidores acrescido de juros, a empresa que emitiu a debênture quita a sua dívida mediante a emissão de ações que são subscritas pela credora e revertidas em participação acionária. Trata-se de algo absolutamente corriqueiro no mercado. O que Salume está questionando não é a operação em si, mas o valor atribuído à empresa como premissa para a emissão das ações.
"Meu objetivo é proteger o ativo, o valor da empresa como um todo. Trata-se de uma companhia com quase 400 mil assinantes, que vai faturar algo próximo a R$ 900 milhões em 2022, tem base tecnológica e que vai continuar crescendo, tem muito futuro. Atribuíram a esta empresa um valor de R$ 515 milhões. No entanto, em avaliações recentes feitas por empresas especializadas, o valor atribuído à Wine girava em torno de R$ 1,5 bilhão e considerava a perspectiva de crescimento da companhia. Por isso, eu não poderia aceitar o que foi feito, e optei por requerer a medida liminar e pedir a apuração do valor por uma empresa isenta", explicou Rogério Salume.
O empresário faz questão de dizer que não se trata de uma briga societária. "É, digamos, um desalinhamento. Sigo conversando com meus sócios, conselheiros, e a companhia vai muito bem. É um desalinhamento pontual".
Embora tente colocar panos quentes, não é de hoje que Salume está insatisfeito com os rumos tomados pela empresa que fundou. Já disse várias vezes que a "inteligência" da empresa está cada vez mais fora do Espírito Santo, sobrando para o Estado apenas a operação logística, na Serra, que conta com uma importante âncora: os incentivos fiscais. Hoje, a Wine possui apenas duas salas no 'prédio da Wine', na Enseada do Suá, que, no passado, era todo ocupado pela empresa.
Após a suspensão da assembleia do dia 1º de agosto, determinada pelo Tribunal de Justiça do Espírito Santo, os acionistas definiram que a operação para aumento de capital seria retomada: 1. após a conclusão da avaliação independente; 2. ou no primeiro dia útil após uma eventual decisão judicial que reconsidere a decisão liminar. Todas estas informações estão na parte de Relações com o Investidor do site da Wine. Nenhum comunicado ao mercado foi feito após estas duas definições.
Hoje, a Península Fundo de Investimento possui 42% da Wine, a EB Capital 42%, Rogério Salume 9,2% e Fernando Opitz 6%. O restante das ações estão com executivos da empresa. Se a operação hoje suspensa for concretizada com o valor proposto de R$ 515 milhões, a participação da Cantu vai superar os 20%.
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