A porta sempre fica entreaberta, é a deixa para o paciente dar o primeiro passo e entrar. No consultório e em si mesmo. A experiência de passar por uma avaliação de acupuntura como acupunturista é o maior processo de escuta que já vivi, com os relacionamentos mais humanos que pude conhecer. E relacionamentos são feitos de palavras e encontros.
Se há algo de subalterno na escuta, posso imaginar o lugar vulnerável de fala de um paciente que se expõe inteiramente numa consulta de acupuntura. São perguntas sobre todos os sistemas de funcionamento do corpo e neste momento o paciente se percebe sem controle de si. E desconectado de si. E não pertencente de si.
O desconforto de não ter estratégias de autogestão para suas queixas rapidamente é substituído pela insegurança de ser invadido, primeiro pelas questões reflexivas, depois por agulhas, e todas as explicações sobre o que está por vir não parecem ajudar.
Há uma preocupação enquanto acupunturista em deixar o ambiente favorável à experiência sensorial do paciente. Cheiros, música, cores, meia luz, temperatura da sala. O paciente saiu do seu lugar vulnerável e encontrou sua emancipação num momento em que está na maca, por sua própria vontade, autônomo daqueles minutos em que está ali sem a preocupação com outros. O tempo já não era dele há muitos anos e agora ele se governa.
Este vídeo pode te interessar
E eu, enquanto acupunturista, observo todo o processo com uma inocência contemplativa quase infantil, sem julgamentos, e aprendo. A porta sempre fica entreaberta, é a deixa para o paciente dar o primeiro passo e voltar. No consultório e em si mesmo.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.