O paciente agenda uma consulta para o último horário disponível no dia, porém não consegue comparecer, pois agendou uma reunião que não terminou cedo. Tenta um novo agendamento, chega com atraso, agitado por ter saído do trabalho na hora em que deveria estar chegando ao consultório para a consulta.
Não consegue responder questões simples sobre sua queixa, olha repetidamente para a maca clamando por deitar e alguém vir resolver seus problemas. Não entende como pode estar tão cansado já que seu trabalho não é braçal, porém não se alimenta adequadamente, dorme pouco, não se lembra de quando tirou férias, não pratica atividade física, não entra em contato com a natureza e não bebe água. Este é o retrato da exaustão de quem tem tudo e nada ao mesmo tempo. Se ler isso trouxe alguma familiaridade ou incômodo, melhor não prosseguir com a leitura.
O quadro do exausto que não tem nada é muito pior, pois este não chegará a agendar a consulta na esperança de se cuidar. A instabilidade e a informalidade no trabalho levarão a ultrapassar todos os limites trabalhistas e humanos e geralmente haverão traços de escravidão. As condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas são desgastantes, acompanhando as condições de vida como um todo. Socialmente há exaustão para complementar o trabalho exaustivo.
Infelizmente não há como manifestar qualquer relação de trabalho sem mencionar relações sociais nesse fenômeno ocupacional denominado Burnout (em que podemos traduzir como o sujeito se queimando por completo até se consumir inteiramente – a repetição e redundância são importantes aqui) e é importante entender de onde vem o problema para entender como sair dele.
Como consequência da síndrome de Burnout há a despersonalização, situação em que o trabalhador exausto lida com colegas e clientes como se fossem objetos. Além disso, a produtividade cai vertiginosamente, o que não agrada a quem está no topo do sistema.
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Num mundo ideal entenderíamos que podemos consumir menos, trabalhar menos, distribuir mais e com isso trabalhar sem chegar à exaustão. Enquanto não atingimos esta utopia, seguimos tentando gerir melhor o tempo entre trabalho e lazer, exaustão e (sobre)vivência.
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