Há, dentro de cada mulher, pelo menos quatro mulheres diferentes num mesmo mês. Tendo uma natureza cíclica, assim como se observam as fases da lua ou as estações do ano, o existir feminino está envolto mês a mês por mudanças de vigor, movimento interior, emoções e qualidades. E não há nada de errado nisso.
Muitas mulheres foram culturalmente condicionadas a acreditar que a menstruação perturba a vida e precisa ser controlada e escondida. Somos treinadas a sempre estar iguais, dispostas, racionais, carinhosas e boas executoras. Em resposta a um aumento nas irregularidades menstruais, fica a conscientização de como essa mentalidade pode levar à dissociação de nosso corpo em conexão com nosso biorritmo. Existe uma bússola interna e é muito importante segui-la. Como pode ser libertador para uma mulher entender que não é instável só por ser mutável, e que há potencial em cada uma dessas mudanças e fases.
O acolhimento desta multiplicidade de qualidades que se ciclam é muito organicamente abordado pela medicina tradicional chinesa. E a observação da natureza mostra que o que ocorre fora do corpo se repete internamente na mulher. Há toda uma filosofia taoísta de completude ao se observar a presença do yin e do yang em tudo a nossa volta. O Yin é a noite, o frio, o recolhimento, o feminino, o passivo. O Yang é percebido no dia, no calor, no movimento, é o masculino e o ativo. O ciclo feminino é capaz de transformar-se de Yin em Yang, respeitando esta dualidade ao longo do mês.
Na fase menstrual, observamos um crescimento do Yin, uma vez que os folículos estão se desenvolvendo. Percebe-se a necessidade de recolhimento devido à queda de estrogênio e, nesta fase, recomendam-se escalda-pés, compressas mornas no abdome e chás com tanchagem e anis estrelado, com finalidade de aquecer e acalmar. É importante respeitar o recolhimento que o corpo passa nessa subida do Yin e evitar atividade física intensa.
Dias depois, na fase pré-ovulatória, chagamos ao pico máximo do Yin e início da sua descida, dando espaço ao Yang e ao movimento, marcado aqui pelo aumento nos níveis de estrogênio. Nesta fase folicular em que chegamos ao apogeu do Yin, é possível aproveitar para realizar atividades que exigem boa concentração e foco, e isso pode ser potencializado pelo uso do manjericão na alimentação em geral.
Na fase de ovulação, o crescimento do Yang se torna mais expressivo, é necessário seu movimento e força para romper o folículo e expulsar o óvulo do ovário. Nesta fase há muito estrogênio e testosterona e sua temperatura corporal se eleva, lembrando que Yang é calor. Para aproveitar esta fase e garantir a saúde do útero, chás de canela e camomila serão uteis.
Após isso, na fase lútea, o Yang atingindo sua atividade máxima, percebemos um aumento importante na progesterona, visando manter uma possível gestação. Para este momento, o corpo deve estar mais forte e para diminuir o inchaço, as atividades físicas somadas ao uso de alecrim e cúrcuma na alimentação podem ajudar.
Seguindo neste fluxo cíclico, como não houve a fertilização, observamos na fase pré-menstrual o Yang começando a cair, dando mais espaço ao Yin novamente. A conhecida TPM é marcada pela queda na progesterona e no estrogênio, e percebemos a força do recolhimento Yin voltando. Para diminuir os níveis de estresse e aquecer o útero, recomenda-se o uso de chá de Mulungu e aromaterapia com lavanda.
Para o bom funcionamento das particularidades fisiológicas da mulher (menstruação, gravidez, parto e lactação) deve haver abundância de energia, uma boa circulação nos vasos sanguíneos e um bom funcionamento dos órgãos. Em nossa sociedade ocidental, as mulheres estão vivendo rotinas cada vez mais Yang: excesso de trabalho, atividades, tarefas e responsabilidades, gerando desgaste na atividade Yin do corpo e da psique da mulher e trazendo problemas relacionados à fertilidade, à amamentação, ao parto e à menopausa.
É importante lembrar que todas as recomendações para cada fase do ciclo feminino devem ser acompanhadas por um profissional que domine o conhecimento sobre as prescrições e respeite a individualidade de cada mulher. Os tratamentos envolvem acupuntura, fitoterapia, dietoterapia chinesa e orientações sobre hábitos de vida. Trata-se de um apoio profissional para a leitura da bússola interna feminina e todo o autoconhecimento, sensação de pertencimento e aceitação na sociedade.
Helena Campligia
Domínio do Yin
"A cura do Yin é nada mais que deixar o tempo e o espaço entrarem em nossas vidas, sem que precisemos preenchê-los. O Yin é o vazio, o vazio é o útero, é no útero que a nova vida pode surgir. Nada de novo surge onde já está tudo ocupado"
Este vídeo pode te interessar
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.