É Fisioterapeuta, acupunturista e especialista em avaliação e tratamento de dor crônica pela USP. Entende a saúde como um estado de equilíbrio para lidar com as adversidades da vida de forma mais harmônica

O que há por trás da verdadeira saúde?

Estilo de vida e hábitos em saúde não passam por abdome definido, jejum intermitente, manipulados caríssimos, dietas mirabolantes e cintas modeladoras

Publicado em 09/08/2021 às 02h00
Homem se exercitando, alongamento
O que influencia grandemente a saúde permeia sedentarismo, segurança alimentar, redes de apoio, estruturação familiar e social, acesso ao sistema de saúde. Crédito: Shutterstock

Nas redes sociais, todos os dias recebemos uma enxurrada de informações visuais sobre estilo de vida. Pessoas bem-sucedidas dizendo como conquistaram saúde e vigor enquanto seguram alguma embalagem de um produto milagroso em suas férias nas Maldivas. Garantem que não manipulam as fotos, mas a verdade é que manipulam os corpos buscando um padrão irreal. Manipulam seus influenciados com um conceito equivocado de saúde. Ganho de saúde costuma ir por outro caminho.

Estilo de vida e hábitos em saúde não passam por abdome definido, jejum intermitente, manipulados caríssimos, dietas mirabolantes e cintas modeladoras. O que influencia grandemente a saúde permeia sedentarismo, segurança alimentar, redes de apoio, estruturação familiar e social, acesso ao sistema de saúde.

É extremamente desleal ver que os influenciadores digitais vendem saúde tendo horas do dia disponíveis para atividades físicas com acompanhamento personalizado, enquanto seus filhos estão com a babá. Tendo ao seu dispor uma equipe inteira que esculpe corpos, dormem bastante tranquilos quando sua preocupação maior é o engajamento de seu último vídeo mostrando a evolução da recuperação da rinoplastia.

Assim como em outros aspectos da atualidade, tratamos de assuntos de saúde com superficialidade, sem entender o que há por trás dos hábitos de vida daquele indivíduo. O maior influencer em saúde é verdadeiramente a desigualdade social, e dificilmente poderíamos garantir saúde a quem sustenta uma casa com trabalhos informais, sem saneamento básico, em área de risco, tendo que escolher qual filho receberá a alimentação naquele dia. O “trabalhe enquanto eles dormem” já é algo corriqueiro e garante a sobrevida e não o sucesso. Não será a água com limão após o momento de gratidão acordando de madrugada que trará saúde, infelizmente.

Estar cansado constantemente não é culpa da tireoide que não funciona e sim de um sistema que pune o indivíduo ao parar para descansar. A insônia não é culpa da baixa de melatonina se a população tem que trabalhar até de madrugada como motorista de aplicativo para conseguir fazer as compras do mês. Não é surpresa uma cardiopatia em quem tem tanto boleto para pagar e tão pouco dinheiro para receber. Chama atenção a obesidade em quem nunca recebeu conhecimentos sobre boas escolhas alimentares ou só teve acesso à farinha da cesta básica. A saúde sempre será desigual numa sociedade desigual, a reflexão está no que podemos fazer hoje para sanar?!

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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