Sábado passado foi dia de programa turístico no interior. Saímos de casa cedo, levando um casal de amigos, em direção a João Neiva, para participar da abertura da exposição “...talvez um dia ainda seja possível”, de Rick Rodrigues. A mostra está montada nas instalações da antiga oficina de locomotivas da então Companhia Vale do Rio Doce, desativada faz décadas, para a tristeza de muita gente do lugar.
Em meio a registros do que se perdeu, Rick montou painéis com bordados que fez no verso de caixas de remédio, com desenhos de pássaros e lugares ao lado de mensagens curtas e precisas, todas instigantes e patéticas. Ele nasceu e viveu lá até vir estudar em Vitória e, pelo que se vê, mantém forte vínculo com o lugar e sua gente.
A BR 101 estava surpreendentemente desimpedida e, para a felicidade geral dos turistas, compramos mexerica, da verdadeira, nos arredores de Fundão. Adiante, uma fila enorme atrapalhava a vida de quem queria pegar a estrada pra Santa Teresa.
Como chegamos antes da hora, aproveitei pra ir comprar cachaça no alambique antigo situado às margens da estradinha que segue pra o oeste. É de lá que o pessoal da nossa família se abastece de purinha de primeira. Fomos atendidos pelo filho do dono, que se lembrou de ter cortado bambu pra mim em tempos remotos. Dei um livro das colheres pra ele que, alisando o presente, prometeu repassar pra filha que estuda na Capital e que adora ler.
De volta, encontramos o lugar cheio de gente curiosa e risonha, muitos adolescentes e umas poucas autoridades. Vi e li tudo sem pressa e fiquei pensando no impacto que aquelas imagens e palavras poderão causar nas pessoas, sobretudo nas crianças maiorzinhas que visitem aquele lugar quase que abandonado de todo.
Por precaução, tratei de comprar cerveja sem álcool no supermercado no outro lado da avenida e, ao chegar de volta, fui convidado a ir, em comitiva, conhecer a raiz de uma gameleira frondosa que existe no barranco da margem oposta do Rio Piraquê Açu, que corre nos fundos do terreno do alambique, perfeitamente exposta num barranco que existe logo depois de um grande remanso.
O que se viu era uma espécie de dinossauro de pele amarelada, dotado de corpo, pernas, rabo e de um baita focinho. Devia ter uns 10 m de comprimento, com espessuras de até uns 80 cm. Um verdadeiro espetáculo da natureza, que as águas de uma grande enxurrada fizeram surgir ali. Soube que foi feito um documentário sobre aquele achado fantástico da natureza e que ele anda fazendo o maior sucesso por aí.
De lá, partimos pra um almoço festivo na casa recém-construída por um casal de amigos recentes e totalmente promissores. Fomos levando, de presente, três mudas feitas com sementes de mamão trazidas da Serra da Capivara, lá do Piauí, e outra, já bem taluda, feita do caroço de um abacate que Carol tinha apreciado bastante.
Gente animada, falando alto, bebendo cerveja, descascando alho, picando temperos, catando feijão, cortando carne seca, linguiça e paio, fazendo arroz, farofa e salada, mexendo panela. Isso tomando cachaça das boas e sob sons trepidantes de caixa bem pequena.
Mesa completa, farta e colorida, fome já no ponto, muitos pratos já sendo montados. Antes mesmo das primeiras garfadas, pedi uma calorosa salva de palmas pros cozinheiros focados e seus simpáticos aprendizes. Deu gosto de ver a sinceridade e a convicção dos gulosos e esfomeados.
A viagem de volta, sem qualquer susto, perigo ou contratempo, serviu pra passarmos em revista as emoções dos encontros, os prazeres das descobertas e, também, pra confirmar que vale a pena sair de casa pra passear por aí.
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