É jornalista e escritora, com passagens pelos jornais A Gazeta e Folha de São Paulo e pelas revistas Bravo! e Vida Simples. Autora dos livros Todo Sentimento e Quase um Segundo, escreve aos domingos sobre assuntos ligados à diversidade, comunicação e cultura

Carta aberta a Rebeca Andrade

Sabe, Rebeca, tenho pensado muito naquela imagem de você no lugar mais alto do primeiro pódio todo preto da História de um esporte predominantemente branco. Testemunhar a admiração e o apoio entre vocês nos alenta e alerta

Publicado em 11/08/2024 às 02h30
Olimpíadas
Com o ouro no solo, Rebeca Andrade se isolou como a maior atleta brasileira na história das Olimpíadas. Crédito: Alexandre Loureiro/COB

Prezada Rebeca,

Antes de mais nada, peço desculpas por repetir um tema tão repetido nos últimos dias e pelo atraso desta carta aberta, que chega quando suas medalhas e seu feito histórico já foram exaustivamente comentados e celebrados, quando tanta coisa já foi dita e escrita a seu respeito.

Mas… sabe, Rebeca, tenho pensado muito naquela imagem de você no lugar mais alto do primeiro pódio todo preto da História de um esporte predominantemente branco. Três mulheres resistentes e vitoriosas, as outras duas te reverenciando, a rivalidade que tentaram atribuir a vocês derrubada num clique, a sororidade e o respeito mútuo explicados para além das palavras.

Apesar da pouca idade, vocês entenderam algo que muitas de nós ainda não compreendem: que, enquanto os homens aprendem cedo a apoiar seus pares, somos quase sempre levadas a disputar a atenção masculina, a nos esfolar pela aprovação deles, a nos julgar mutuamente, a comparar nossas curvas e conquistas.

Acontece, Rebeca, que, na disputa entre mulheres, perdemos todas, mesmo quando parece que algumas venceram.

O que aquela imagem carrega, no entanto e felizmente, são ventos de esperança. Testemunhar a admiração e o apoio entre vocês, num cenário marcado pela competição e pela desigualdade de oportunidades, nos alenta e alerta: a colaboração e o cuidado podem coexistir, mesmo em ambientes de concorrência e ainda mais entre mulheres que o próprio sistema se encarrega de segregar.

Eu admirava Simone Biles há tempos. Escrevi a respeito quando ela deixou os Jogos Olímpicos de Tóquio em nome do equilíbrio e da leveza perdidos no caminho. Vê-la voltar em grande estilo e ótima forma, depois do afastamento para cuidar da saúde mental, fortalece as voltas por cima e a ideia - seriíssima, mesmo que não pareça - de que no fundo do poço tem uma mola.

Quanto a você, garota, a maior medalhista olímpica brasileira do alto de seu 1,55 de altura, só resta agradecer. Obrigada por nos inspirar, com sua ginga, a sermos firmes e delicadas ao mesmo tempo, dedicadas sem perder o sorriso, solidárias a outras mulheres. Obrigada por me lembrar da força de estar em movimento.

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