O que determina se alguém é ou não escritor? Quem, ou quanto, define se estão ou não permitidos os títulos de artista, cronista, romancista, poeta, contador de histórias? A partir de quais critérios certos homens e mulheres passam a fazer parte do rol de integrantes de um conjunto de autores?
Quem escreve, mas não publica, pode ser considerado escritor? E quem publica, mas não imprime? Quem escreve porque não sabe viver de outro modo, mas não vive da própria escrita, pode? Quantos volumes são necessários para se tornar um escritor?
O que vale mais em tempos líquidos: qualidade ou quantidade, intensidade ou compartilhamentos, uma bela sequência de frases ou engajamento na rede social? É preciso prescindir do lugar em que estão os potenciais leitores em nome da pureza e do amor pelo livro em seu formato original?
Quando o saudoso Sérgio Blank convidou a mim e mais dez colegas para escrevermos o livro “Por Que Você Escreve”, a pergunta que nos guiava era outra. Que razões, que motivos, quantas dores, que tipo de combustível nos faziam reunir palavras a respeito de afetos e fatos, frequências e ausências, construções e seu oposto, afinal?
Uma forma de estar no mundo. Gosto, necessidade, precisão, um jeito de dizer o que nem sabia que sabia. Um ato inseparável da leitura, escritor porque leitor. Um ponto de chegada e um ponto de partida, ao mesmo tempo. Um gesto de amor pelas histórias inventadas. Uma grande diversão. Um aceno de reverência e rebeldia. Um bote salva-vidas em meio a um mar de casuísmos, exibicionismos e individualismos.
As motivações, tão diversas quanto legítimas, talvez indiquem possibilidades para as interrogações do texto de agora, que volta à pergunta, uns anos depois. Escritores talvez sejam os que escrevem para estar no mundo, para transbordar leituras, por gosto ou precisão, amor, diversão, reverência ou rebeldia, para chegar e partir ao mesmo tempo, para estar a salvo do mundo e de si mesmos, como nós éramos.
Éramos pessoas com caminhos à vista, mas pouquíssimas respostas prontas para a provocação afetuosa do amigo que se foi cedo demais. Desconfio que ainda somos.
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