A contradição é profunda. Estamos cada vez mais conectados, mas nossa capacidade de ouvir e de incluir perspectivas diversas no modo como enxergamos o mundo caminha para o lado oposto. Temos Facebook, Instagram, LinkedIn, WhatsApp, Twitter, Skype e afins, mas somos incrivelmente limitados na hora de nos colocar uns no lugar dos outros.
O que falta tem nome: empatia.
Empatia significa ver o mundo do ponto de vista do outro, com boa vontade e disposição. Para além do próprio umbigo, ser empático passa pelo interesse sincero em compreender perspectivas que nos são estranhas. A empatia ergue pontes ao invés de muros.
Mais que isso, o propósito de compreender e se conectar verdadeiramente com o outro parece ser um instrumento potente na construção de ambientes abertos à diversidade. Diversidade – não custa lembrar – tem estreita ligação com a pluralidade de visões e com a inclusão de grupos que, no geral, não são adequadamente representados nas empresas, nos meios de comunicação e até mesmo nos nossos círculos de convívio.
Por isso, falar de diversidade inspira, também, a falar de empatia. Nos ambientes de trabalho ou nos encontros que travamos pela vida, exercitar a arte de ouvir e de se colocar no lugar do outro é uma prática com enorme possibilidade de sucesso.
A adolescente sueca Greta Thunberg faltou às aulas no dia 20 de agosto de 2018 para discursar contra a desatenção do poder público com relação ao aquecimento global. Seu questionamento expressou uma lucidez que a maioria de nós não espera de uma menina à época com 15 anos de idade (hoje 16): "Faço tudo isso porque vocês, adultos, estão cagando para o meu futuro. De que adianta ir à escola se não vai ter amanhã?".
A jovem estimulou uma série de protestos ao redor do mundo e, em março de 2019, a primeira greve global de estudantes levou 1,5 milhão de manifestantes às ruas. Em 20 de setembro, mais de quatro milhões de adolescentes deixaram as escolas para gritar novamente contra as mudanças no clima. Três dias depois, Greta discursou na Cúpula de Ação Climática da ONU, em Nova York.
Trinta anos antes, o cacique caiapó Raoni Metuktire já jogava luzes sobre temas ambientais. Hoje, aos 89 anos, ele guarda um longo histórico de defesa da floresta amazônica e dos povos nativos do Brasil.
Nascido no Mato Grosso, Raoni tinha a idade de Greta quando recebeu em seu lábio inferior o icônico botoque, disco de madeira tradicionalmente usado por chefes de guerra e grandes oradores das tribos. De lá para cá, dedicou a vida à batalha pelos direitos indígenas e pela preservação da Amazônia.
A despeito do tempo que os separa, Greta e Raoni têm muito em comum, e é preciso que olhemos para eles com o olhar da dobradinha empatia-diversidade.
Greta é uma menina com Transtornos do Espectro Autista (TEA), extremamente articulada e de enorme poder de mobilização. Críticos com zero empatia escolheram palavras como “retardada” e “vagabundinha” para desqualificar sua atuação.
Raoni, um índio à beira dos 90 anos, também tem sido alvo de declarações pouco generosas a respeito da idade avançada e de sua origem indígena, vindas inclusive de representantes do país que ele luta para proteger.
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A questão que aqui se coloca não é concordar ou discordar das causas que a menina e o cacique defendem, agora como 30 anos atrás. A questão passa por tentar compreender as visões e particularidades de cada um deles, com cortesia e respeito à diferença, independentemente das concordâncias ou discordâncias. É bom lembrar que, ao olhar para fora e para o lado, olhamos também para dentro.
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