Perdas acumuladas em três anos de seca descapitalizou produtores. Muitos não têm renda nem ativos para quitarem dívidas. Volume de crédito contratado nos bancos é 60% inferior ao de 2014.
Vários efeitos de três anos de estiagem no Espírito Santo, entre 2014 e 2017, permanecem vivos, castigando a atividade rural. Os prejuízos se espalharam em praticamente todas as atividades agropecuárias, com perdas que variaram de 30% a 100% da produção, segundo levantamento da Federação da Agricultura e Pecuária (Faes). Foi a seca mais intensa dos últimos 40 anos.
Em consequência, o meio rural capixaba sofre hoje uma crise de crédito. "Não há renda nem ativos suficientes para que os produtores quitem dívidas acumuladas ao longo dos anos", assinala a Faes. Os números dão ideia do cenário. No ano safra atual, 2018/2019, foram contratadas apenas 24 mil operações de crédito no Estado, ante 60,6 mil em 2014/2015, uma queda superior a 60%. O montante aplicado recuou de R$ 2,76 bilhões para R$ 1,89 bilhão no mesmo período. Trata-se de dinheiro que deixou de ser aplicado em diversas cadeias produtivas do agronegócio estadual, restringindo emprego, renda, consumo e arrecadação tributária.
O agronegócio capixaba recorre ao governo federal fazendo reivindicações com objetivo de evitar o agravamento da crise de crédito. É uma investida conjunta. A Faes, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetaes) e o Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras no Espírito Santo (OCB-ES) enviaram na semana passada, ao Ministério da Agricultura, o documento intitulado Reivindicação Coletiva do Agronegócio Capixaba, solicitando juros diferenciados para a renegociação das dívidas dos produtores. A iniciativa reforça manifestação anterior feita em agosto por essas entidades ao governo federal.
O agronegócio quer uma resolução específica para o Espírito Santo, nos seguintes termos: taxa de juros de 0,5% para os agricultores familiares de mais baixa renda, enquadrados no Pronaf. Os demais agricultores do Pronaf pagariam juros de 1% ao ano nas operações de valor de até R$ 10 mil, e 2% ao ano, para valor acima de R$ 10 mil. Para os demais produtores, cooperativas e associações, taxa de 3,5% ao ano.
O café, principal produto do campo capixaba, foi a atividade mais impactada pela estiagem, ressalta o documento, acrescentando que atualmente os preços de mercado não remuneram a produção. Em função disso, os produtores do Estado fazem três apelos ao governo federal. Um, é o aumento, urgente, do preço mínimo estabelecido para o café, de modo que ao menos cubra o custo da produção. Outro, o acionamento de políticas de regulação de preços para o arábica e o conilon (medida também solicitada pela Confederação Nacional da Agricultura). Um terceiro, direcionar com mais ênfase os recursos do Funcafé para os cafeicultores.
De fato, há uma crise de preço do café. A cotação do arábica atingiu o nível mais baixo em 14 anos na Bolsa de Nova York. Isso ocorreu em maio, e de lá para cá o drama não mudou. Aliás, piorou porque o custo da lavoura subiu. O conilon segue a mesma trilha, com os preços no chão. Este é um grande problema para a economia do Espírito Santo, maior produtor nacional desse café.
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Os preços deprimidos do arábica e do conilon atingem diretamente o Brasil, maior produtor mundial de café, responsável por um terço de toda a produção do planeta. A mesma adversidade castiga outros 30 países produtores. Diminui a renda de cerca de 25 milhões de pessoas no mundo ligadas à cafeicultura. No território capixaba afeta cerca de 400 mil habitantes, em mais de 60 municípios.
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