Exportações do Brasil, inclusive pelo litoral capixaba, estão sendo afetadas pelo desempenho do comércio internacional, o mais baixo dos últimos dez anos, segundo estudo da Cepal.
O relatório Perspectivas de Comércio Internacional da América Latina e Caribe 2019, divulgado há dois dias pela Comissão Econômica para a America Latina e Caribe (Cepal), contém uma notícia muito preocupante. Afirma que o comércio mundial de bens pode fechar 2019 com o pior desempenho em dez anos: alta de apenas 1,2%, menos da metade de 2,7% de 2018.
O documento explica que a forte desaceleração do comércio exterior se deve a um conjunto de fatores: menor demanda mundial; crescente substituição das importações pela produção nacional em algumas importantes economias, dentre elas a chinesa (efeito da corrida tecnológica); e redução da proporção da produção chinesa destinada à exportação, dentre outras causas.
Novas tecnologias estão sendo aceleradas em função do confronto comercial entre Estados Unidos e China e também pelas tensões geopolíticas, geradas principalmente pela agressividade de Trump com vários parceiros de comércio, disseminando intranquilidade global.
Há também muitas críticas ao órgão de apelação, a Organização Mundial de Comércio (OMC), fato que ajuda a espalhar incertezas.
Uma tristeza. Enquanto novas tecnologias avançam redesenhando relações de trocas econômicas, atingindo o cerne de cadeias produtivas globais, o Brasil está apenas na 71ª colocação entre 141 nações estudadas pelo Fórum Econômico Mundial. No quesito estabilidade econômica, está em 115º lugar, segundo o fórum. E, no novo relatório de competitividade do Banco Mundial, o Doing Business 2020, a posição do Brasil é muito pior: 124ª.
O comércio internacional reflete o clima econômico e o tom político. O FMI estima que o crescimento do PIB do planeta em 2019 deve ficar em torno de 3%, o nível mais baixo desde 2008/2009, quando estourou a grande crise financeira. Lembram-se: foi precipitada pela falência de um dos bancos de investimentos mais tradicionais dos Estados Unidos, o Lehman Brothers.
O Brasil vai remando com dificuldades sob as nuvens escuras do comércio mundial. O Espírito Santo, idem. As vendas ao exterior estão sendo afetadas.
Olhando para a nossa casa, vemos que em setembro de 2019 as exportações pelo litoral capixaba totalizaram US$ 2,08 bilhões, um salto espetacular de 195,6% ante o mês anterior, e de 101% frente a setembro de 2018. Mas esses números não encobrem as dificuldades. O recorde mensal registrado em setembro se deve a um fato incomum, a venda de uma plataforma de petróleo. Não fosse isso, os embarques capixabas teriam caído 17,28% frente ao mês anterior e 43,77% ante setembro de 2018, segundo pesquisa do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), com base em dados da Secretaria do Comércio Exterior (Secex), do Ministério da Economia.
Veja a diferença de desempenho em relação ao Espírito Santo: em setembro, as exportações do país ficaram estáveis (0,1%) no confronto com o mês anterior, e caíram 2,3% frente a setembro do ano passado - o que mostra como o Brasil está sentindo a conjuntura desfavorável.
O relatório da Cepal não cita, mas a situação da América do Sul também é ruim para o comércio internacional. Os principais atores estão diante de sérios problemas. A economia brasileira termina o ano com o amargor de mais um pibinho, em torno de 0,9%, a Argentina (agora de volta ao peronismo) está quebrada, e o Chile sofre convulsões políticas - cenário que reduz o dinamismo econômico do continente, afetando exportações intrarregionais, e é indesejável para o acordo Mercosul/União Europeia.
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Que venha 2020. Como será para o comércio exterior, é uma incógnita.
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