Outro dia, fui entrevistado por uma competente entrevistadora de um instituto capixaba de pesquisas. Uma pesquisa qualitativa. O foco era (é) as eleições para governador no Espírito Santo. Nesta época de eleições, como se sabe, os institutos trabalham para veículos de comunicação e para candidatos.
Uma longa entrevista. Mas uma questão, em especial, chamou a minha atenção. Ela listou os oito principais pré-candidatos e os classificou de forma binária. Os considerados da “velha política” e os considerados da “nova política”. Os da velha seriam Manato, Audifax, Guerino Zanon e Casagrande. Os da nova seriam Erick Musso, Rigoni, Contarato e Aridelmo.
De pronto, eu disse à simpática entrevistadora que eu não concordava com essa classificação binária e que essa narrativa (de 2018) da velha “versus” nova política não faz mais sentido em 2022. Aliás, já não fazia em 2018. Mas era uma narrativa adequada para o marketing político da época. Agora, não mais. E cravei: tirando as diferenças de idade, todos, absolutamente todos, são políticos que estão na política eleitoral há tempo – o que varia é apenas a data da “estreia”. Todos com mandatos políticos. Aridelmo não teve mandato ainda, mas já disputou eleições e ocupou cargo político (secretário da Fazenda) na Prefeitura de Vitória.
Aí lembrei à entrevistadora que as eleições deste ano não deverão ter foco ideológico, no sentido das pautas da “nova versus velha política” e dos costumes. Agora deveremos ter as eleições do “pão com manteiga”, tanto no sentido do predomínio das pautas socioeconômicas, quanto no sentido da preferência pela experiência de gestão e capacidade de entrega.
Se isso está correto, dizia eu a entrevistadora, o que vale como “classificação” das candidaturas não é a visão binária da nova/velha política. Mas, sim, é mais adequada a ideia de um “continuum” no espectro das posições e propostas políticas: um continuum da direita à esquerda. Das pautas mais reacionárias às pautas mais progressistas.
Pois bem. Esse diálogo com a entrevistadora me levou a breves reflexões e intuições. A começar pela constatação já feita por muitos observadores: o campo político da direita e centro-direita está congestionado com seis candidaturas. Entre as oito pré-candidaturas, apenas duas (Contarato e Casagrande) estão mais no campo da centro-esquerda e esquerda. Mas ocorre que, inesperadamente, o eleitorado capixaba moveu-se um pouco para a esquerda (47%, segundo pesquisas recentes).
Vem daí, também, o favoritismo de Renato Casagrande, caso ele confirme a candidatura à governadoria. Como uma espécie de corolário, vem daí uma intuição. Caso Casagrande seja reeleito, ele concluirá uma longa transição política, no sentido geracional, mas poderá ainda liderar (ou coliderar) uma nova construção hegemônica na política capixaba: a movimentação do pêndulo político para o espectro da centro-esquerda, com uma coalizão politicamente dominante de centro-esquerda.
Seria o fim do longo reinado da linhagem política do velho PSD (do século passado) na política do Espírito Santo. Será?
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