Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

"Sobrevoo" e as experimentações de Rodrigo Bragança e Benjamim Taubkin

Disco exponencial leva o colunista ao delírio musical; confira a crítica

Publicado em 22/12/2020 às 20h19
Atualizado em 22/12/2020 às 20h19
Rodrigo Bragança e Benjamim Taubkin no clipe de 'Piano'
Rodrigo Bragança e Benjamim Taubkin no clipe de 'Piano'. Crédito: Reprodução/YouTube

O duo formado pelo guitarrista Rodrigo Bragança e pelo pianista Benjamim Taubkin lançou "Sobrevoo", álbum independente com quatro músicas de cada um. São composições inéditas, levadas ao estúdio e lá acrescidas de improvisos, riquezas harmônicas e melódicas, todas impregnadas com o talento de Bragança e Taubkin.

Compostas em duas fases, uma anterior à ida ao estúdio e outra no momento dedicado às improvisações, lá tudo é arrebatamento.

O som experimental (pois eles gravaram sem ter certeza do resultado – caso o som não lhes agradasse, o trabalho seria limado) permitiu que a harmonia dos instrumentos se complementassem à perfeição. Graças ao uso de compassos mântricos, melódicos, harmônicos e rítmicos, o resultado é imagético.

Aquiles Reis

Colunista

"Sobrevoo tem sabor de fruta madura colhida no pé. Quando saboreadas, tememos não haver outra igual. Mas sabemos que outras florescerão e o sabor primitivo nos acompanhará vida afora"

“Oriente” (Rodrigo Bragança) inicia com um desenho que já dá pinta das concepções que estão por vir. O tema segue até mudar a levada. Sons aleatórios vêm da guitarra. Com a música invadindo o espírito alheio, a sensação é de quietude, uma serenidade que, feito um mantra, nos ensina o silêncio.

A seguir, “Fluxo” (Benjamim Taubkin). Os sentidos notam o piano trazer o sabor de cada nota. A guitarra e seus harmônios acrescentam sonoridade aos compassos. A guitarra chega junto. O suingue impera. O piano assume a responsabilidade pela harmonia. Com a melodia vinda em fluxos rítmicos e melódicos, o piano improvisa. A guitarra soa com as cordas presas. Com um acorde maior, finalizam.

Há temas cadenciados, como “De Frente Pro Sol” (RB), cuja melodia tem início sedutor. Solos jazzísticos vêm da guitarra. O piano improvisa sobre a melodia.

“Piano” (BT). As teclas protagonizam solos bem construídos. A levada se agita. O piano revela a melodia, enquanto a guitarra, solidária, o acompanha.

“Deserto” (RB) começa com acordes dedilhados que se repetem com algumas mudanças de notas. A guitarra soa discreta. A levada muda, trazendo energia à música.

Usando alguns efeitos relevantes, “Lyle” (BT) tem piano e guitarra na intro. Arritmo, vão à música. Ruídos sobressaem da guitarra.

“Pão de Queijo” (RB), como em “Deserto”, tem acordes dedilhados que se repetem com poucas variações de notas. Logo a melodia vem com uma levada melodiosa. Suave, a guitarra se faz ouvir com o piano. Juntos, criam belo desenho melódico.

A linda “Canção Antiga” (BT) é a música que fecha o CD. Nela, bem lá no fundo, quase inaudível, ouve-se a voz de Taubkin. Ao tocar, ele emite sons vocais que nem mesmo ele dá tento do porquê.

Assim, diante de um disco exponencial, deliro: e se as músicas e os improvisos gravados não forem transcritos para partituras? Dificilmente eles seriam regravados, logo, cada um permanecerá original. E Rodrigo Bragança e Benjamim Taubkin se tornariam autores de músicas tão únicas e exclusivas como, por exemplo, um óleo de Portinari

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