Contrariamente à noção de crescimento econômico (que mede mudanças na produção de bens e de serviços), a de desenvolvimento implica em atributos mais amplos. Para desenvolver-se, uma economia (nacional, regional, local, empresarial etc.) necessita romper com padrões de produção e circulação de bens e serviços; precisa fazer isso de forma sustentável; e precisa considerar a forma como distribui os frutos do progresso econômico.
Esse rompimento, como nos ensina a história estadual, nacional e mundial, exige mudanças estruturais que só ocorrem através de processos com forte determinação política. Essas mudanças se dão por forças que estão muito além do que interessa ao mercado financeiro ou àqueles que ainda insistem com a ultrapassada ideia de vantagens comparativas. Segundo essa abordagem, ao Brasil cabe o eterno papel de fornecedor de matérias-primas de baixo valor agregado, ainda que travestidas pelo marquetismo como commodities ou agronegócio.
Mudanças efetivas e com forte impacto na economia no presente e no futuro resultam da construção de visões socialmente compartilhadas a partir de janelas de oportunidades identificadas no cenário mundial ou nacional. Oportunidades que dificilmente virão através do livre funcionamento do mercado ou via o atendimento de interesses de grandes conglomerados, cada vez mais determinados por seus vínculos com a financeirização globalizada.
Os exemplos na história e no presente estão aí para serem vistos por quem quer enxergar além da ideologia dominante nos grandes meios de comunicação e em parte da academia. Evidências podem ser buscadas em países na fronteira do desenvolvimento mundial (grandes como Estados Unidos e China; e de menor porte como Coreia do Sul e os nórdicos, por exemplo).
É mais do que passado o momento de o grande Brasil e o pequeno Espírito Santo repensarem suas trajetórias de crescimento e construírem novas estratégias de desenvolvimento. E elas precisam contemplar o que já estava em curso em escala mundial, mesmo antes da Covid-19.
Dentre as rupturas que estão ocorrendo, destaquem-se (i) a crescente consciência coletiva – ainda que pouco considerada pela maioria dos governantes como bem ilustra o fracasso da COP26 - sobre os limites do crescimento baseado na depredação de recursos naturais; e (ii) a necessidade de serem buscadas novas formas e conteúdos para as relações econômicas para além do comando exclusivo do curto prazismo dos mercados financeiros.
Que atributos têm o Brasil e o Espírito Santo para se beneficiarem de forma mais duradoura das janelas de oportunidades que se abrem a partir dessas rupturas? Dois são incontestáveis: nossa gente e nossa natureza.
Por isso, as agendas de desenvolvimento do país e do Estado precisam ser redirecionadas para trajetórias que coloquem suas respectivas diversidades étnicas como elementos a serem valorizados para muito além do que hoje é contemplado por indicadores de crescimento. Quanto à natureza, precisamos ser mais inteligentes na forma como a transformamos em ativos de nosso desenvolvimento. Há que se ter uma nova forma de olhar a variedade de biomas em escala nacional e a biodiversidade ainda restante em terras capixabas e as sob ameaça na parte que ao Estado cabe no Oceano Atlântico.
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A maior dificuldade para esse redirecionamento de trajetória, tanto em escala nacional quanto na dimensão capixaba, encontra-se no conservadorismo de forças dominantes sempre temerosas das incertezas de mudanças. Sair da zona de conforto é fundamental para que o país e o Estado se sintonizem com o que precisa acontecer no mundo. E, como nos ensina a sabedoria popular, é impossível fazer omelete sem quebrar os ovos.
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