É professor Ufes. Um olhar humanizado sobre a economia e sua relação com os avanços sociais são a linha principal deste espaço. Escreve quinzenalmente às quintas-feiras

Florestas urbanas para o clima e para as pessoas

Reconhecida é a experiência mexicana do Bosque de Chapultepec, exemplo histórico e contínuo de uma floresta urbana bem-sucedida

Publicado em 22/01/2025 às 23h00

O pós-Covid acentuou a necessidade de moradores de cidades de estreitar seus laços com a natureza. Para a maioria deles, questões de renda, tempo e possibilidade de mobilidade rápida, segura e de baixo custo, tornam esse necessário contato esporádico e difícil quando ele só pode se dar em espaços no campo ou em reservas naturais.

Diante dessa realidade há muito reconhecida, se as pessoas não podem ir às florestas que as florestas venham às pessoas. Por isso, a criação de florestas urbanas tem sido uma prática adotada em diversas cidades ao redor do mundo, buscando enfrentar desafios climáticos e melhorar a qualidade de vida urbana.

Florestas urbanas ajudam a reduzir as temperaturas locais, combatendo o efeito de ilhas de calor, como comprova o Bosque Vertical em Milão. A experiência de Singapura mostra como a vegetação pode integrar-se ao tecido urbano para reduzir temperaturas e melhorar a qualidade do ar. Elas também promovem a infiltração de água no solo e reduzem enchentes, como demonstrado em cidades como Melbourne, que usa sistemas integrados de vegetação para controlar a água da chuva.

Espaços verdes densamente arborizados, como os parques em Vancouver ou o High Line em Nova York, criam locais para recreação e interação social, promovendo a saúde mental e física da população. Áreas florestais urbanas também contribuem para reduzir as emissões de carbono, como observado em projetos na Alemanha e no Japão, onde há esforços para integrar florestas urbanas aos planos de mitigação climática.

Nas Américas, destaque para Medellín que implementou um programa de corredores verdes que integra árvores e vegetação ao longo de avenidas, rios e áreas urbanas densamente povoadas. O sucesso desse programa se deve, dentre outros motivos, à participação ativa da população, garantindo o cuidado e a manutenção dos espaços dele objeto. Destaque também para o fato dele fazer parte de um plano mais amplo de mobilidade urbana e mitigação das ilhas de calor. Nada surpreendente, portanto que a temperatura da cidade ter caído em até 2 °C em algumas áreas, além de melhorar a qualidade do ar.

Também reconhecida é a experiência mexicana do Bosque de Chapultepec, exemplo histórico e contínuo de uma floresta urbana bem-sucedida. Com seus 686 hectares de área, é uma das maiores áreas verdes urbanas do mundo. O sucesso dessa experiência se deve, dentre outras razões, ao fato da área receber investimentos regulares para conservação e modernização; do acesso ao parque ser gratuito e beneficiar uma grande parcela da população, promovendo lazer e qualidade de vida.

Bosque de Chapultepec, no México
Bosque de Chapultepec, no México. Crédito: Pixabay

O caso brasileiro de Curitiba é reconhecido mundialmente por suas soluções urbanísticas inovadoras, incluindo a criação de parques florestais urbanos, como o Parque Barigui e o Bosque Alemão. As florestas urbanas foram concebidas para absorver água da chuva e reduzir enchentes, além de melhorar a biodiversidade. Ênfase também dever ser dada ao compromisso de longo prazo com o planejamento urbano sustentável que garantiu o sucesso desses espaços.

Esses casos podem servir como motivadores para o debate plural de como cidades no Espírito Santo podem ser objeto ade projetos voltados para a implantação de florestas urbanas com o objetivo de melhorar as condições climáticas e a qualidade de vida da maioria de suas populações. Um primeiro passo nesse sentido pode ser a liderança do governo estadual no sentido de fomentar o surgimento e a implantação de florestas urbanas em cidades capixabas dos mais diversos portes.

Liderança que pode ser mais efetiva com o envolvimento das comunidades científicas e técnicas e da sociedade civil. Recursos financeiros e de gestão para tal existem nas estruturas do governo que podem ser mobilizadas para projetos da importância de florestas urbanas.

Florestas urbanas também fazem muito mais sentido para o turismo e o lazer em escala do que usar UCs para esses fins que são incompatíveis com os objetivos de conservação dessas unidades. Sustar essa pressão oferecendo convívio com fauna e flora mais próximo da população e em seu cotidiano pode ser uma bem-sucedida politica de ganha-ganha.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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