Economia significa, em grego, 'cuidar da casa'. A amplitude do que se entende por casa depende da escala em que se deseja entender as relações sociais envolvidas na produção, na circulação e na distribuição de bens, serviços e conhecimentos. Assim, seja na escala da família imediata, seja na do bairro, da cidade, do país ou do mundo, o cuidar deveria ser o essencial no entendimento do que é economia e do a que ela se deve prestar.
Isso se contrapõe ao crescente processo de informação e formação de pessoas em áreas de finanças (que se apresentam como se economia fossem) pessoais. Mídias corporativas e redes sociais massificam orientações, tanto sobre receitas - como aumentar a renda -, quanto sobre despesas - custo do crediário e juros de cartões de crédito. Escolas incentivam, desde o ensino fundamental, exercícios que preparem alunos para o cálculo financeiro para muito além do antigo e tradicional cofrinho de poupança.
Semelhante empenho por parte dos meios de comunicação e de escolas em todos os níveis poderia ter efeitos sobre pessoas e sobre a sociedade se fossem dirigidos para a economia do cuidar. Massificar informações e conhecimentos voltados para o cuidar de si através de práticas alimentares saudáveis. Práticas que se contraponham à propaganda em massa da indústria de comida produzida, usando intensivamente adubos, fertilizantes, conservantes químicos e a já escassa água.
Nesse sentido, a maior valorização de informações sobre hortas comunitárias, melhor utilização das águas e recuperação das degradadas no campo e nas cidades; e geração de energia onde ela é utilizada, são iniciativas voltadas para o melhor cuidar da casa comum. Casa comum entendida como a Mãe Terra, ou como o território em que se habita, trabalha, circula e estuda.
Por outro lado, valorizar ações comunitárias que construam pontes entre quem precisa de ajuda no cuidar de crianças, doentes e idosos, e aqueles que podem oferecer esses cuidados. Práticas que podem ser estimuladas em territórios através de políticas públicas de baixo custo e alto retorno social e econômico. O atendimento a esses cuidados pode e deve ser pensado e operacionalizado através de parcerias públicas sociedade civil (PPSC).
PPSC que podem ser utilizadas na construção, manutenção e operação de creches, escolas e postos de saúde. Além de aproximar pessoas de um mesmo território, essas práticas têm importância social e econômica geralmente negligenciadas. Socialmente porque elas se basearão em relações de proximidade que aumentam a confiança entre pessoas e organizações.
Economicamente porque diminuem custos envolvidos em processos de contratação e subcontratação para atender normas burocráticas que nem sempre resultam em transparência e melhor uso de recursos públicos.
Normas burocráticas que precisam ser mudadas para que o cuidar volte a ser a essência da economia. Principalmente o cuidar mais próximo às famílias, mais junto aos territórios onde as pessoas vivem e mantêm vínculos de proximidade. Mudanças em regras burocráticas e na visão política de gestores públicos que se fazem necessárias para que o domínio do raciocínio financista seja superado na forma e no conteúdo do que fazem governos.
Mudança em regras e em visões essenciais para que o ser humano e demais seres viventes voltem a ser contemplados na centralidade do que é a economia: cuidar da casa.
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